Redução da oferta é apontada pelos produtores como consequência do custo dos insumos.
O leite é produto escasso nas gôndolas dos supermercados nordestinos. A redução da oferta já chega a 20%, motivada pela entressafra nacional e pela queda-de-braço entre indústria e varejo, que não se entendem quando o assunto é preço. Só nos últimos dois meses o reajuste é de 10%, impulsionado pelo aumento no preço de insumos como soja, milho e farelo de algodão. A escala na produção de leite foi um dos temas discutidos, ontem, na 10º Agrinordeste, que prossegue durante todo o dia de hoje no Centro de Convenções de Pernambuco.
O diretor comercial da alagoana Valedourado, Frederico Sampaio, diz que está encontrando dificuldade para atender à demanda dos supermercados, em função da queda na captação de leite. De acordo com o executivo, a redução na oferta é de 15% e 20%. ´Apesar do cenário conturbado, acreditamos que dentro de mais 40 dias a situação se estabilize porque começou a chover no Centro-Sul e o dólar está recuando´, aposta. A Valedourado tem três fábricas no Brasil - Palmeira dos Índios (AL), Itapetinga (BA) e Governador Valadares (MG).
Já os produtores de leite reclamam da alta nos preços dos insumos. O diretor-presidente do laticínio pernambucano Bom Leite, Stênio Galvão, diz que só o milho acumula reajuste de 100%, fazendo o custo de produção de um litro de leite chegar a aproximadamente R$ 0,42.
´O preço pago pela indústria aos produtores oscila entre R$ 0,45 e R$ 0,50. Seria um bom valor se os custos não tivessem aumentado tanto´, observa. Galvão também lembra que a estiagem atrasou o início da safra no Centro-Sul, que deve começar agora em novembro´, diz.
Outro agravante é o período de entressafra no semi-árido pernambucano, responsável por 70% da produção de leite do Estado. ´A seca teve início em setembro e deve se estender até março´, calcula Galvão, frisando que Pernambuco produz uma média de 600 mil litros de leite/dia, para um consumo de 1,5 milhão de litros.
Na avaliação do presidente da Federação de Agricultura de Pernambuco (Faepe), Pio Guerra, apesar da seca, o fator que está pesando no desabastecimento é disputa entre a indústria e as redes varejistas. ´Existe um jogo de pressão dos supermercados sobre a indústria, mas a verdade é que o produtor não pode arcar com o aumento de custo sem aumentar o preço do produto. A soja, o milho e o farelo de algodão têm preços balizados pelo dólar´, frisa.
O pesquisador da Embrapa, Paulo do Carmo Martins, diz que o desabastecimento também é resultado do comportamento do mercado de leite nos últimos dois anos. Segundo ele, em 2000 os preços estavam em alta e motivaram o produtor, que passou a investir em tecnologia e na alimentação dos animais.
´Mas a partir de julho de 2001, a crise energética freou o consumo de leite no País e os preços foram abaixo. Essa frustração se refletiu em 2002, com redução nos níveis de produção´, explica. Martins, ministrou palestra, ontem, na 10ª Agrinordeste, discutindo a importância da escala de produção de leite no mercado atual.
Adriana Guarda - Recife