O ministro da Casa Civil, José Dirceu, mostrou hoje (14-10) que o governo não vai abandonar o discurso duro contra a proposta dos Estados Unidos para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) apesar do pedido de mais pragmatismo nas negociações feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje pela manhã, em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da Rede Globo, Dirceu disse que a "proposta dos EUA não interessa ao Brasil nem à maioria dos países da região".
Ele se referia à insistência dos EUA de não negociar seus subsídios agrícolas na Alca, deixando o tema para a OMC (Organização Mundial de Comércio). Além disso, Dirceu, como já é praxe entre funcionários do governo, também reclamou das pressões norte-americanas para incluir as políticas de compras governamentais e de propriedade intelectual nas negociações.
Apesar da manutenção do discurso duro, o ministro também mostrou que houve uma mudança na formulação das políticas do governo para a Alca, que deixa de ser monopólio do Itamaraty. Nos últimos dias, os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura) reclamaram publicamente da atuação excessivamente intransigente dos diplomatas brasileiros frente aos interesses de outros países, notadamente dos EUA. Eles também cobraram do presidente maior poder nas negociações.
No final, os dois ministros, juntamente com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acabaram ganhando espaço, segundo mostrou hoje Dirceu. Ele disse que o Itamaraty está subordinado às decisões tomadas no Palácio do Planalto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por outros funcionários do governo ligados a áreas sensíveis ao comércio exterior.
"O Itamaraty executa as políticas decididas por Lula. (...) O Itamaraty apresenta alternativas e dá informações, mas uma equipe de coordenação do governo também ajuda nas decisões", afirmou o ministro. Ou seja: o Brasil mantém o discurso duro, mas não esquece do pragmatismo, negocia e recua caso seja necessário para se chegar a uma Alca vantajosa.