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Irrigação ganha espaço na citricultura paulista



Em 10 anos, área cresce de 1% para 15% em São Paulo. Aumento de produtividade chega a 30%. Quando o administrador de fazendas Claudinei Assale viu a florada de seus laranjais ser ameaçada por uma seqüência de 20 dias sem chuvas, ficou aliviado por ter investido em um sistema de irrigação. "É uma ferramenta para trabalharmos com mais segurança", afirma Assale, que irriga pomares em uma área de mil hectares em Bebedouro, no interior de São Paulo.

Os sistemas de irrigação, que nos anos 90 respondiam por apenas 1% da área cultivada, hoje estão em 15% dos pomares paulistas. "É uma tecnologia que veio para ficar e a tendência é de que continue ganhando espaço nos próximos anos", diz Guilherme Oliveira Silva, da Forbb Consultoria.

Em primeiro lugar, os citricultores estão de olho nos ganhos de produtividade. Estima-se que, em anos de seca, os pomares irrigados obtêm produtividade de 20% a 30% maior em comparação aos não irrigados. "Em anos de custos de produção crescentes, lucram mais aqueles que são mais produtivos", afirma Silva. Os irrigantes podem ter lucro por hectare de 5% a 10% maior em relação aos produtores que não usam nenhum sistema de aspersão ou gotejamento.

Morte súbita:

Embora os ganhos de produtividade estejam no topo da lista de vantagens da irrigação, nos últimos anos os problemas com a doença da "morte súbita" ganharam expressão. Isso porque a bactéria da "morte súbita" ataca principalmente os porta-enxertos de limão-cravo, mais resistentes à falta de umidade. Com a substituição desses porta-enxertos, cresceu a necessidade de irrigação, sobretudo no norte do estado, onde o clima é mais seco. A porta-enxertia é uma técnica que permite reunir as características de uma planta rústica (limão-cravo) a uma produtiva (como a valência).

O crescimento da demanda por sistemas de irrigação não passou despercebido pelos fabricantes. Luiz Paulo Heinpel, responsável pelos financiamentos da Netafim, diz que as vendas de sistemas de irrigação por gotejamento para produtores de laranja representa 35% do faturamento total da empresa. "A citricultura tem uma importância muito grande para a empresa. O nível de crescimento de nossas vendas vai depender muito de como se portarão os preços da laranja daqui para a frete", afirma Heinpel.

Agricultor imita a indústria:

A idéia de irrigar pomares nasceu no fim da primeira metade da década de 90, quando a família Cutrale decidiu investir nos primeiros projetos de irrigação. Até 1999, poucos produtores haviam seguido o exemplo da processadora Sucocítrico Cutrale.

O quadro começou a mudar a partir de 1999 e ganhou impulso em 2000, em razão de estiagem prolongada. A partir daquele ano, a área cultivada com sistemas de irrigação se multiplicou por cinco, atingindo seu ponto mais alto nos anos de 2001 e 2002. "Em 2003 as vendas ainda foram boas, mas neste ano os negócios caíram muito em razão da falta de financiamento", afirma Américo Fukushima, engenheiro agrônomo da Irrigabrasil, fabricante de sistemas de aspersão de Curitiba, no Paraná. No mercado, 40% das vendas são de equipamentos de aspersão e o restante de sistemas de gotejamento.

Falta de financiamento:

De acordo com Fukushima, o movimento de queda nas vendas de um modo geral pode ser observado no número de projetos de irrigação comercializados pela própria empresa, como reflexo da nova realidade do mercado. "Em 2000, vendemos 50 projetos para citricultores. Em 2001 e em 2002 as vendas permaneceram estáveis, em 90 projetos. Porém em 2003, elas caíram para 50 e neste anos vendemos, até agora, apenas 10 sistemas", explica o engenheiro agrônomo. As vendas de sistemas de irrigação para citricultores representam 40% do faturamento da empresa paranaense.

A queda nas vendas é atribuída ao atraso na liberação dos recursos do Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra). O programa é bancado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Dos negócios fechados durante a Agrishow, por exemplo, apenas 10% foram concretizados", afirma Fukushima, da Irrigabrasil.

Segundo Heinpel, da Netafim, as liberações de crédito oficial foram interrompidas em junho e até agora o fluxo de liberações não foi totalmente regularizado.

Para a safra 2004/05, o governo federal havia liberado R$ 700 milhões para serem aplicados no Moderinfra. O montante é 40% maior que o destinado no ano-safra anterior, porém o atraso na liberação dá aos agricultores a sensação de que o montante diminuiu.

Além disso, muitos pedidos foram negados. Segundo levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), foram entregues 357 pedidos de financiamento para o Moderinfra, dos quais 231 foram rejeitados. Ou seja, 64,7% das solicitações feitas pelos produtores foram recusadas pelo BNDES.

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