Irrigação: como escolher o melhor sistema para irrigar lavouras de grãos?
Conheça as características e vantagens de cada sistema de irrigação e confira dicas para o correto manejo da tecnologia
Que tal eliminar perdas na lavoura causadas por seca, elevar a produtividade e, “de quebra”, conseguir produzir até três safras ao ano? Esse desejo é o que motiva a investir em sistemas de irrigação. Quando o assunto é tecnologia disponível no mercado, são tantas as opções para irrigar que é difícil um produtor encontrar empecilhos.
Mas, antes de se tornar um irrigante, é preciso entender quais são as vantagens de cada sistema e dimensionar as necessidades da fazenda para encontrar a melhor solução. “A taxa de crescimento da área irrigada vai depender dos preços dos produtos, dos custos dos equipamentos, ambos atrelados ao mercado internacional e dos custos da energia”, afirma Camilo de Lelis de Andrade, especialista em irrigação e pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, em entrevista à Farming Brasil. “O que ajudaria muito no aumento da área irrigada é a oferta de crédito.”
Tradicionalmente, os sistemas de irrigação são utilizados em fazendas de café, cana e citros, mas estão ganhando força nas lavouras de grãos. Se ainda restam dúvidas sobre o que é necessário fazer para irrigar, as primeiras respostas são ter água disponível e capital para investir.
O primeiro passo é a documentação
Independentemente do sistema escolhido, é necessário correr atrás das autorizações dos órgãos públicos para irrigar. De acordo com o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, cada estado apresenta uma legislação ambiental diferente sobre outorgas de água, por isso é difícil listar o que cada região vai exigir. “A forma mais fácil é contratar uma empresa especializada, com experiência local, para a obtenção das licenças”, disse Andrade durante entrevista à revista Farming Brasil.
Segundo Vinícius Melo, gerente de Engenharia e Serviços da Valley, houve uma evolução dos escritórios das fazendas e muitos conseguem o licenciamento sem ter grandes problemas. “O entrave maior é a burocracia. Infelizmente, os órgãos ambientais muitas vezes não estão preparados para atender o produtor rural brasileiro”, afirma Melo.
Fonte de energia
O segundo passo é definir a força que vai mover o sistema de irrigação e colocar na ponta do lápis a previsão dos custos. No Brasil, a energia elétrica é a fonte mais utilizada pela tecnologia, mas há também a opção dos motores a diesel. “No custo de operação, os motores a diesel têm valor duas vezes mais alto do que a energia elétrica”, diz Melo.
Embora a irrigação sustentada por motor a diesel seja mais cara, a falta de infraestrutura em algumas regiões obriga o produtor rural a optar por esse método. “A grande barreira que a maioria dos nossos clientes enfrenta não está na água e, sim, na energia elétrica trifásica que não chega com a potência ou qualidade necessária em grandes polos agrícolas”, conta Ivan Wegener, diretor comercial da Lindsay América do Sul.
Entenda cada sistema
Conheça os diferenciais de cada tecnologia e suas indicações. Um detalhe muito importante para avaliar um sistema de irrigação é a sua eficiência. De acordo com o pesquisador da Embrapa, quando são bem mantidos e manejados corretamente, os sistemas de pivô central podem atingir uma eficiência de 85%. Os sistemas de aspersão convencional apresentam uma eficiência média de 75% enquanto que nos sistemas de gotejamento a eficiência pode chegar a 95%. “Se mal utilizados e mal mantidos, a eficiência de todos esses sistemas reduz consideravelmente ao longo dos anos”, afirma Andrade.
De acordo com Andrade nas lavouras de soja e milho predominam os métodos de irrigação por aspersão tipo pivô central. “Na cultura do milho, sobretudo nas pequenas áreas, utilizam-se também os métodos de aspersão convencional”, conta o especialista em irrigação. Além disso, sistemas de gotejamento subterrâneo também são cada vez mais implantados nas lavouras de grãos.
1 – Gotejamento
Uma das opções de irrigação encontradas no mercado brasileira é a tecnologia israelense de gotejamento. Nesse método, tubos são instalados no solo e a tecnologia aplica água direto na raiz da planta. Com o gotejamento também é possível fazer a fertirrigação, ou seja, é possível aplicar doses de fertilizante diretamente na raiz da planta.
Os custos e a economia
De acordo com a Netafim, empresa que oferece soluções em gotejamento, esse sistema pode atender produtores de todos os portes, já que a partir de um hectare já é possível desenvolver um projeto. O investimento pode variar entre R$ 8 mil e R$ 16 mil por hectare, sendo que o valor vai depender da distância entre a lavoura e o ponto de água, a condição climática e a topografia da região.
Vantagens
Uma das vantagens da tecnologia é que ela pode ser programada remotamente e reduz a necessidade de mão-de-obra. Além disso, de acordo com Carlos Sanches, diretor de marketing mercosur da Netafim, se comparado aos outros tipos de irrigação, como o pivô central, a economia com água e energia pode chegar a 30%. “De cada 100 litros que eu aplico, 95 litros chegam na planta. Nunca mais o milho e a soja vão ter um dia ruim, [com irrigação] essas culturas podem desenvolver o melhor potencial genético”, afirmou o diretor da Netafim em entrevista à Farming Brasil.
Manutenção
Essa tecnologia atrai especialmente produtores que já investem em agricultura de precisão. Segundo Sanches, o retorno é garantido e o produtor recupera o investimento em até três anos. A manutenção do sistema de gotejamento deve ser feita de uma a duas vezes por ano. “Se o produtor fizer essa manutenção, o sistema tem durabilidade de 10 a 20 anos”, conta Sanches.
2 – Pivô central
Outra opção para o produtor é o pivô central, tecnologia popular nas lavouras de grãos irrigadas. Um das vantagens desse sistema é o fato de ser modular, o que facilita a adaptação em diferentes fazendas.
Há pivôs para áreas de três até 400 hectares, conta Ivan Wegener, diretor comercial da Lindsay América do Sul. “O ideal é que fiquem em torno de 150 ha, pois oferece uma melhor relação entre custo de investimento e de operação”, diz Wegener.
Manutenção
Com uma boa manutenção, o sistema de pivô central tem uma vida útil que varia de 15 a 20 anos. “Hoje recomendamos uma revisão pré-safra, com a conferência de parte elétrica, conjunto de tração, aspersores e reaperto de parafusos”, diz o diretor comercial da Lindsay.
Vinícius Melo, gerente de Engenharia e Serviços da Valley, outra marca de pivôs centrais, explica que se a água da região for muito alcalina ou ácida, a depreciação do equipamento começa antes. “Tudo depende do manejo, da água e da manutenção preventiva”, diz Melo.
Os desafios do pivô
Uma desvantagem desse sistema é que a máquina se movimenta pela lavoura de forma circular e nem sempre é possível irrigar 100% da área. Mas a boa notícia é que já existe um equipamento para resolver esse problema.
Conhecido como “Corner”, o acessório funciona como um “braço” com sensores que é acoplado ao pivô. Essa ferramenta é capaz de irrigar as áreas não cobertas pelo pivô central. “Quando esse braço chega até um obstáculo ou extremidade, ele se autodesliga e o pivô continua girando normalmente”, explica Melo. De acordo com gerente da Valley, com esse equipamento acoplado ao pivô, o produtor consegue aplicar água em 98% da área.
3 – Aspersão
A aspersão convencional também pode ser utilizada nas lavouras de milho e soja, embora o método seja mais recomendado para cultivos perenes e estufas. Com aspersores de pequeno alcance consegue-se irrigar áreas a partir de 500 metros quadrados.
De acordo com o engenheiro agrônomo Carlos Barth, suporte agrotécnico da NaanDanJain Brasil, empresa que atua na irrigação por aspersão e gotejamento, a principal diferença em relação ao pivô central é a potência e eficiência no consumo de água. “A eficiência de um sistema de irrigação por aspersão bem projetado e corretamente instalado chega a 80%”, diz Barth, em entrevista para a Successful Farming Brasil.
O investimento
Segundo a NaanDanJain, o custo por hectare varia muito de acordo com o projeto e a área prevista para a irrigação. O produtor rural deve considerar os gastos com motobomba e seus complementos, como sucção e chave de partida.
Em projetos de sistema de irrigação por aspersão automatizados, o custo gira em torno de R$ 8.000 por hectare e para sistemas manuais, o investimento se aproxima de R$ 6.000 por hectare. Segundo Barth, no sistema de irrigação fixo, que é o mais utilizado atualmente, o custo de manutenção é baixo, com vida útil superior a 15 anos. Independentemente do sistema escolhido para irrigar, o produtor deve estar ciente de sua responsabilidade ambiental e perseguir o objetivo de utilizar água da forma mais eficiente possível na lavoura. Fonte: Farming Brasil.
Confira as vantagens de cada tecnologia de irrigação
Gotejamento
Área mínima: 1 hectare
Tempo de instalação: 20 hectares por dia Requisito para instalar: evitar meses chuvosos Custo: de R$ 8 mil a R$ 16 mil por hectare Retorno: entre dois e três anos Vida útil: 10 a 20 anos
Pivô central
Área mínima: 2 hectares
Tempo de instalação: 14 a 45 dias
Requisito para instalar: o ideal é iniciar o projeto pelo menos 6 meses antes da data prevista para iniciar a irrigação
Custo: R$ 6 mil a R$ 10 mil por hectare Retorno: em média de 3 a 4 anos Vida útil: 15 a 20 anos
Aspersão convencional
Área mínima: 500 metros quadrados Tempo de instalação: 0,6 hectare por dia Requisito para instalar: não há restrições Custo: a partir de R$ 6 mil (manual) e R$ 8 mil (automatizado) Retorno: em uma ou duas safras, a depender da cultura Vida útil: mais de 15 anos
6 questões para considerar no planejamento da irrigação
1 – Recursos
Avalie os dados de clima e do solo da região, as vazões e volumes de água disponíveis na fazenda para irrigar.
2 – Cultura
Pesquise sobre a resposta da cultura ao uso da irrigação e avalie se o ganho de produtividade previsto para a fazenda incentiva o investimento.
3 – Energia
Estude sobre a fonte de energia, o consumo necessário para irrigar e previsão de despesa.
4 – Economia
Faça análise econômica do empreendimento, considerando os custos de produção e os preços dos produtos agrícolas no mercado.
5 – Água
Avalie a possibilidade de reservar água em sua propriedade, mediante a construção de açudes e barragens.
6 – Equilíbrio
Utilize a irrigação em área com déficit de chuvas. Isso significa que não vale a pena aplicar na lavoura toda a água que a cultura demanda. Além de economizar energia, essa é uma estratégia saudável para o meio ambiente porque reduz o uso da água e a lixiviação de contaminantes para o lençol freático.