De acordo com a análise da Emily Becker publicada no blog ENSO na última quinta-feira (14), a possibilidade de desenvolvimento de um evento de La Niña nos próximos meses alcançou 57%, segundo previsões meteorológicas recentes. Apesar de tardia e provavelmente fraca, essa fase fria do fenômeno El Niño/Oscilação Sul (ENSO) pode influenciar os padrões climáticos globais, alterando temperaturas, chuvas e até trajetórias de tempestades.
La Niña é caracterizado por temperaturas da superfície do mar abaixo da média no Oceano Pacífico tropical central e oriental. Essas anomalias térmicas impactam a circulação atmosférica nos trópicos, modificando correntes de jato e padrões climáticos ao redor do planeta. A métrica principal usada para monitorar o ENSO, a temperatura da região Niño-3.4, registrou uma anomalia de -0,28 °C em outubro, conforme dados do conjunto ERSSTv5. Para a confirmação de La Niña, a anomalia precisa atingir ao menos -0,5 °C, o que mantém o Pacífico atualmente na condição neutra do ENSO, conforme dados da análise.
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Segundo Becker, os modelos climáticos indicam que as temperaturas do Pacífico tropical poderão cruzar o limite para La Niña durante o verão de 2024/25, ainda que o fenômeno deva permanecer em intensidade fraca, com anomalias entre -0,5 °C e -0,9 °C. Além disso, existe uma reserva de água mais fria sob a superfície do oceano que pode renovar as condições de anomalia fria. No entanto, o atraso no surgimento preocupa os meteorologistas, pois apenas dois eventos de La Niña nos últimos 75 anos começaram entre outubro e dezembro, um período historicamente tardio para a formação do fenômeno.
Apesar das projeções, o meteorologista Gabriel Luan Rodrigues, do Portal Agrolink, enfatiza que o monitoramento atual aponta para um cenário de neutralidade. “O monitoramento recente da região do Niño 3.4 aponta para valores que se aproximam da normalidade climática. Além disso, a maioria das projeções indicam que as temperaturas devem ficar mais próximas aos limiares de normalidade do que de fato venha a configurar a La Niña”, apontou o meteorologista.
Rodrigues também destacou que, caso ocorra, o fenômeno deve ser de curta duração e intensidade fraca. “Neste momento é mais provável que as condições de neutralidade permaneçam nos meses de verão, mas, dentro da possibilidade do estabelecimento da La Niña, caso o fenômeno venha a se configurar, será de fraca intensidade e curta duração. Assim, outros fenômenos climáticos de menor escala devem influenciar o clima no Brasil”, concluiu o especialista.