Hipocrisia francesa? Pesticidas proibidos na exportação
Entre os pesticidas mais exportados está o fungicida picoxystrobin
Um relatório recente das ONGs Public Eye e Unearthed, divulgado por Alê Delara, consultor e palestrante no agronegócio, revela que a França ainda exporta pesticidas proibidos na União Europeia (UE) para países como o Brasil. Apesar da promulgação de uma lei francesa em 2022 destinada a proibir essas exportações, uma brecha significativa na legislação permite que isso aconteça. A lei proíbe a exportação de produtos agroquímicos prontos para uso, mas permite a exportação de substâncias químicas puras, que são posteriormente diluídas nos países de destino para a produção de pesticidas.
Entre os pesticidas mais exportados estão o fungicida picoxystrobin, banido na UE em 2017 devido ao seu potencial genotóxico e impacto ambiental, e o fipronil, que é associado à mortalidade de abelhas e proibido na França desde 2004. Em 2023, grandes volumes desses produtos foram enviados para o Brasil, Ucrânia, Índia e outros países de renda baixa ou média, gerando sérias preocupações sobre saúde pública e impactos ambientais nessas regiões.
De acordo com ele, a continuidade dessas exportações levanta questões sobre a eficácia das regulamentações na França, que, embora rigorosas internamente, permitem que suas empresas exportem substâncias tóxicas para outros países. Isso perpetua um padrão duplo nas regulamentações de pesticidas, onde os países desenvolvidos impõem restrições mais severas em seu território, mas não se preocupam com os efeitos de suas práticas comerciais no exterior.
“Este estudo destaca a hipocrisia de países como a França, que impõem restrições internas rigorosas, mas permitem que suas empresas exportem substâncias tóxicas para outros países, perpetuando um duplo padrão nas regulamentações de pesticidas”, diz ele.