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Governo anuncia o menor desmatamento da história

Taxa em 2008/2009 foi de 7.008 km2, a mais baixa desde o início das medições, em 1988


Presidência infla evento para anúncio da redução com discursos de Lula e Dilma e entrega de títulos de regularização fundiária

Num evento com a presença do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), o governo anunciou ontem a menor taxa anual de desmatamento na floresta amazônica desde 1988, quando a medição começou a ser feita.

Entre agosto de 2008 e julho de 2009, foram desmatados 7.008 km², uma redução de 45% ante o período anterior, quando a taxa foi de 12.911 km².

Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), anteriormente, o menor desmatamento havia ocorrido em 1991, com 11 mil km² desmatados. Apesar disso, o número comemorado ontem pelo governo representa, em área equivalente, a 4,6 vezes o território da cidade de São Paulo.

A redução, chamada por Lula de "extraordinária e significativa", foi divulgada num momento de indefinições na área ambiental. O Planalto, por exemplo, não sabe o que fazer diante do impasse entre ruralistas e ambientalistas na discussão de mudanças e ajustes no Código Florestal, de 1965.

Outro ponto que envolve diretamente o ritmo do desmatamento é o compromisso nacional para reduzir as emissões de gases-estufa. O Brasil deve anunciar hoje a meta que levará no mês que vem à conferência do clima de Copenhague, e o desmatamento amazônico é seu principal foco.

Um evento de duas horas e meia foi armado e inflado pela Presidência para o anúncio da queda da derrubada. Lula e Dilma discursaram, foram entregues títulos de regularização fundiária e anunciadas parcerias com prefeituras e Estados.

Pré-candidata ao Planalto, Dilma se apresentou como coordenadora do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e disse que a queda é "algo que a gente tem que ficar muito orgulhoso".

No governo Lula, até agora, foi desmatado um total de 117 mil km², meia Rondônia. No governo FHC (1995-2002), foram devastados 153 mil km², um Acre. A média petista é de 16,8 mil km²/ano, ante 19,1 mil km² dos tucanos.

Os dados divulgados ontem, do sistema Prodes (que dá a taxa oficial), são parciais e serão ajustados até março de 2010.

O governo atribuiu a queda principalmente a operações de repressão a madeireiras, grileiros de terra e ao avanço da pecuária ilegal. "Isso foi obtido muito na pancada. Noventa por cento é resultado da repressão", disse o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente).

Um item não mencionado foi o refluxo do agronegócio por conta da crise econômica.

"O número é baixo, mas é preciso citar a pressão da sociedade contra o desmatamento e a mais grave crise econômica. A região amazônica é saída para a exportação de soja, carne, madeira", disse Paulo Adário, da direção da ONG Greenpeace.

Para Gilberto Câmara, diretor do Inpe, a crise tem um papel, mas não é única responsável. "O ritmo de queda vem de alguns anos. Nunca cai numa pancada só", disse, antes de admitir ser difícil um desmatamento abaixo de 7.000 km² no ano eleitoral de 2010.

No entanto, Câmara afirmou também que existe um consenso no país hoje contra o desmatamento. "Isso força o Brasil a considerar o que era impossível. Eu achava impossível ter o desmatamento abaixo de 10 mil km²", afirmou.

A promessa do governo é também focar o cerrado, nova fronteira agrícola do país e onde o ritmo de desmate (legal e ilegal) tem ocorrido a uma média de 21 mil km² ao ano.

O número de ontem é o primeiro da gestão Minc, que assumiu o ministério em maio do ano passado na vaga deixada pela senadora e pré-candidata a presidente, Marina Silva (PV-AC). Foi na gestão Marina, em 2004, a segunda maior marca de desmate (27 mil km²).

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