Reação oficial foi motivada por decisão de frigoríficos de suspender a compra de animais. Entrou boi na linha das relações entre o Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). O motivo foi a decisão, oficializada ontem pela manhã, de suspender a compra de animais para abate nas plantas industriais dos grupos que formam a entidade. A Abiec alegou que faltam bovinos rastreados, o que impediria as exportações para a União Européia. "Não é verdade", reagiu o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira.
O argumento foi reforçado pelo secretário de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, para quem o banco de dados do Sisbov indicam 834 mil animais habilitados – pelo acordo com a União Européia em vigor desde 15 de julho, eles precisam passar por um período de 40 dias nessa condição para serem abatidos. Como o ministério estima que a média de abates nas plantas da Abiec é de 30 mil animais/dia, o estoque seria suficiente para 27 dias. Um dia antes de o acordo entrar em vigor, foram feitos 223 mil lançamentos, contra, 56.320 no dia 12 de julho.
A ofensiva verbal de Nogueira prosseguiu com a acusação de que a decisão configura a prática de cartel, afirmação respaldada pelo secretário de Defesa Agropecuária. "É impossível que 100% das unidades não tenham animais para abate", disse Tadano. "Houve reunião das empresas quarta-feira, quando elas decidiram pelo blecaute", completou.
O presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA identificou outro objetivo na ação da Abiec. "É uma tentativa de manusear o preço da arroba no período da entressafra (de maio a outubro), como já fizeram no passado, para comprar mais barato", explicou. "Criadores foram contatados e informados que, se o preço baixar, as compras podem ser retomadas a partir de segunda-feira", reforçou Tadano. Segundo Nogueira, o preço da arroba estava sendo comercializada entre R$ 57 e R$ 58. "Hoje, jogaram para R$ 55", revelou.
"Vamos buscar uma saída via diálogo, mas isso não vai acontecer enquanto a posição dos frigoríficos não for revista", afirmou Tadano. Isso foi transmitido aos empresários pelo secretário-executivo José Amauri Dimarzio. Tadano, que aposta em um recuo das empresas, lembrou que dispõe de instrumentos para uma possível retaliação. Um deles é a suspensão da emissão dos certificados sanitários. "Para exportar carne estocada, tem de ter certificado", lembrou Nogueira. Para ele, se o impasse persistir, o assunto deve ser levado ao Cade, ao Ministério Público Federal e à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça.
A estratégia dos produtores é não aceitar redução de preços. "É mais barato segurar o boi no pasto do que manter a carne nas câmaras dos frigoríficos", justificou José Antonio de Ávila, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), onde o preço médio da arroba é de R$ 45. Nesse caso, a tendência é o desabastecimento do mercado. Mas Ávila acredita que os frigoríficos deverão retomar as suas compras no máximo até a próxima semana.
O Ministério da Agricultura e a CNA afirmaram que a decisão da Abiec pode atingir a credibilidade do programa de rastreamento brasileiro e comprometer a política de exportação do produto. Para Nogueira, o problema não é de gado rastreado. "Do produto exportado, 40% seguem para a União Européia (360 mil toneladas) e o restante, para países que não exigem esse procedimento", explicou.
Os números da CNA apontam que, anualmente, são abatidos 35 milhões de animais no País, o que corresponde a 7,5 milhões de toneladas de carne. Deste volume, 900 mil toneladas (12%) seguem para exterior e o restante é consumido no mercado interno. Nos últimos 12 meses, a exportação de carne brasileira movimentou US$ 1,47 bilhão.