Após quase seis meses de muita conversa, discursos onde nunca faltou a presença do Conselheiro Acácio, finalmente algumas medidas reais começam a surgir. O esboço de uma política industrial atualizada, adaptada aos tempos de globalização foi anunciado por quatro importantes ministros de estado.
A primeira questão é o porque da participação ou o papel que desempenhará o Ministro Luis Gushikem neste tema, ex-funcionário do Banespa, e que, portanto deve ser grande conhecedor de “chão de banco” e não do “chão de fábrica”, creio que o governo marcou um tento importante senão vejamos.
Talvez sob inspiração do que diversos países asiáticos fizeram nos últimos anos, finalmente uma nova política industrial está sendo adotada, sob um enfoque moderno, e totalmente diferente das experiências brasileiras e latinas americanas feitas até aqui. Abandonamos o modelo da substituição de importações, e o modelo liberal, em parte difundido no governo FHC, que diz que o mercado por sua conta trata de definir os setores que serão naturalmente desenvolvidos.
Finalmente e com satisfação vejo a utilização de um Modelo de Política Industrial voltado para Exportações, o IOE, conforme bem define o “Prof. Carlos Pio da Universidade de Brasília”. Espero estejamos iniciando uma nova fase, e a política industrial paternalista marcada por clientelismo e casuísmos Oxalá de lugar a um novo conceito que é o de avaliação de setores potencialmente importantes e que com um pequeno elenco de ações de governo, temporários e improrrogáveis incentivos, possamos verificar uma geração de um modelo industrial voltado para a competência e eficiência, quando a globalização e a abertura de mercado parece ser algo irreversível.
Creio que nunca se ouviu tanto falar em acordos de comércio como nestes últimos anos, a Alca é motivo de discussões diárias na imprensa, e acredito que as discussões chegarão em breve até nos botequins de esquina. Se pesquisarmos junto ao povo, muitos dirão que já ouviram falar desta tal de ALCA, por outro lado que parcela deste mesmo povo diria que já ouviu falar de ALADI?
O Ministério das Relações Exteriores vem trabalhado diuturnamente, e a “política dos punhos de renda” me parece que já convive em harmonia no Itamaraty, com novos e reciclados diplomatas que venceram resistências históricas e hoje desenvolvem uma diplomacia comercial vigorosa e de altíssimo nível.
A presença de empresários em fóruns de negociação, em nossas embaixadas ao redor do mundo, deixou de ser meramente por motivos protocolares, e passaram a fazer parte do cotidiano, pois se ali estamos é porque temos informações importantes a dar a nossos negociadores sobre questões técnicas que vão das regras de origem de produtos a serem desgravados, às barreiras não tarifárias impostas a nossos produtos que terminam por inviabilizar o comércio.
O caminho apresentado de política industrial quando utiliza como critérios a ênfase às exportações, possibilitarão que as exportações sejam uma grande alavanca na geração de divisas, empregos, e de avanço tecnológico.
A conjugação dos esforços das Universidades, financiados pelos recursos públicos para Pesquisa e Desenvolvimento, a utilização da renúncia fiscal temporária e a transparência na utilização de recursos, foram anunciados como os fundamentos desta nova Política de Desenvolvimento, ainda assim, me atrevo a sugerir a nossas autoridades, que através do BNDES, da SECEX ou qualquer outro órgão, possibilite que empresas que ao longo de anos encontram-se no mercado externo, e que destinam grande parte de seu faturamento às exportações, que demonstraram que com competência já conquistaram mercados lá fora, devam ser avaliadas individualmente, e possam ser alvo de incentivos independente do setor que se encontrem e do volume exportado. É de conhecimento público que médias empresas são geradoras de respeitável número de empregos e não devem passar desapercebidas.
Capacidade de adequação tecnológica, a competição de alto nível com outros tantos fabricantes internacionais, são indicadores a serem considerados,
Se buscar promover criteriosa análise de quais os segmentos e empresas, que uma vez apoiadas trarão, satisfatória resposta ao país.
A ênfase em dois indicadores importantíssimos que são a geração de empregos e a geração de divisas é fundamental, desde que esta avaliação seja feita analisando-se o quanto exportam em relação a seu faturamento global.
Ouvimos sempre as autoridades manifestarem a importância das empresas que geram dezenas de milhões de dólares de exportação, todavia existe uma importante parcela de médias empresas brasileiras, que geram importante numero de empregos, a baixo custo, e exportam parcelas significativas de seus produtos.
É fundamental se ter em conta que não viveremos somente da exportação do agrobusiness, automóveis, aviões e ônibus. Nesta nova etapa que se encontra o governo, e considerando-se as informações disponíveis, com apoio de diferentes associações empresariais, facilmente o governo poderá identificar empresas e produtos que com algum incentivo possam deslanchar e ocupar importantes parcelas do mercado externo.
Exportando de mentirinha Por outra parte é importante avaliar a importância do produto na cadeia produtiva local, afinal se hoje temos 14 ou 15 industrias de automóveis instaladas no país, e estas são competitivas a nível internacional, a suas demandas como, por exemplo, dos tais produtos hoje conhecidos como eletrônica embarcada, não deverão ser aqueles que consumam as divisas geradas pela industria automotiva. Se não for prestigiado, este setor e seu desenvolvimento, estaremos ano a ano diminuindo o valor agregado do produto brasileiro, o que contribuirá sensivelmente para que nossa balança fique comprimida face às próprias exportações.
HUMBERTO BARBATO
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HUMBERTO BARBATO
Diretor Superintendente da Cerâmica Santa Terezinha S.A., empresa de
PEDREIRA/SP, líder de mercado na fabricação de isoladores elétricos de
porcelana e vidro temperado para linhas de transmissão e distribuição de
energia elétrica
Diretor de Relações Internacionais da Abinee - Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica