Feromônios já podem ser produzidos em larga escala
Machos são despistados e fêmeas poem ovos estéreis, o que interrompe geração de lagartas
Pesquisadores desenvolveram uma forma de produzir feromônio em larga escala, possibilitando assim ampliar o uso da tecnologia no manejo integrado de pragas. Resultado de uma parceria entre a Universidade de Lund, Universidade Sueca de Ciências Agrárias, Universidade de Nebraska-Lincoln, SemioPlant e a ISCA Global, a pesquisa foi na publicada na edição de setembro da revista “Nature Sustainability”.
Na natureza, as mariposas fêmeas liberam no ar um feromônio sexual específico da espécie para atrair os machos para o acasalamento. As aplicações de formulações com o mesmo feromônio no campo, no entanto, criam milhares de trilhas de feromônio que não levam a lugar nenhum. Isso torna quase impossível para as mariposas machos encontrarem novas parceiras. As fêmeas são deixadas para colocar ovos estéreis, o que impede a eclosão da próxima geração de lagartas, protegendo as plantações.
O controle de insetos por meio de feromônios é considerado por agricultores e pela comunidade científica como o futuro da proteção às culturas tanto extensivas, como milho, soja e algodão, como as de alto valor agregado, a exemplo de maçã, pêssego, cerejas e berries. Protegem as plantações de uma forma peculiar: manipulam o comportamento dos insetos, evitando que eles se acasalem ou repelindo-os das plantações por meio do odor sexual.
Ao contrário dos inseticidas convencionais, os controles de feromônio afetam apenas os insetos-alvo, deixando abelhas e outros insetos ilesos. Além disso, os feromônios não deixam resíduos nocivos na produção de alimentos, causam pouca ou nenhuma poluição ambiental e são muito menos propensos à resistência a pragas. A nova tecnologia diminui ou elimina totalmente o uso de agrotóxicos e garante uma agricultura limpa para que alimentos mais saudáveis cheguem à mesa das pessoas. E para o produtor agrícola, o negócio se torna mais lucrativo e sustentável.
“Os resultados obtidos nos deixaram muito animados porque há muito tempo perseguíamos esse objetivo”, conta o pesquisador brasileiro Agenor Mafra-Neto, CEO da ISCA Global. “A produção e comercialização de produtos pulverizáveis da ISCA, contendo feromônios de derivados de plantas para controlar insetos, resolverão um grande problema dos produtores do campo”.
A equipe cultivou com sucesso sementes de Camelina sativa modificadas para produzir ácido (Z)-11-hexadecenoico. Trata-se de um precursor de feromônio sexual de várias espécies de mariposas, que fornece o óleo do qual o precursor foi isolado, depois purificado e transformado no feromônio final. Assim, é possível criar uma fonte de baixo custo de feromônios, necessários para o controle sustentável de insetos de plantações em linha.
Iscas em armadilhas e substâncias de interrupção de acasalamento contendo este feromônio derivado de plantas foram então avaliadas quanto à sua capacidade de controlar as mariposas no campo. As iscas mostraram-se igualmente eficazes como feromônio sintético no monitoramento da mariposa-das-crucíferas, Plutella xylostella, em repolho, e na interrupção do acasalamento da mariposa do algodão, Helicoverpa armigera, em campos de feijão.
“Estamos muito felizes em ver que a colaboração com a ISCA trará essa inovação ao mercado para o controle ecologicamente correto de insetos”, disse o líder da pesquisa, Christer Löfstedt, professor de biologia da Universidade de Lund. “Nosso objetivo é desenvolver soluções de feromônio à base de plantas para os principais insetos para que não se tornem pragas agrícolas do mundo”.
Também o pesquisador Per Hofvander, professor do Departamento de Melhoramento de Plantas da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas (SLU), Alnarp, comemora os resultados. “Em colaboração com a ISCA, estamos desenvolvendo controle de feromônios derivados de plantas para outros insetos, como a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, outra espécie de mariposa devastadora.” disse ele.
“Produzir feromônio de baixo custo simplesmente cultivando sementes oleaginosas revolucionará a dinâmica da cadeia de suprimentos de toda a indústria de controle semioquímico de pragas”. Camelina, prima do brócolis e da canola, é uma antiga planta produtora de óleo a partir de
sua semente. Já era cultivada pelos vikings há mais de mil anos. Espera-se que o seu uso para criar fontes de baixo custo de feromônios de insetos dê um grande impulso aos controles de interrupção do acasalamento para várias espécies de mariposas, que atacam as plantações em diversos pontos do planeta.
Os estudos foram iniciados há cinco anos utilizando sementes de camelina, uma planta da família das Brassicaceae usada como óleo na culinária há mais de mil anos. A equipe de cientistas cultivou plantas de camelina em laboratório e, em seguida, modificou o código genético do vegetal ao inserir feromônios sexuais de insetos. Dessa forma foram criados precursores de feromônios de insetos no óleo da semente para em seguida ser produzido o defensivo verde de baixo custo.
A pesquisa com a camelina, na ISCA, recebeu investimentos de US$ 750 mil em duas etapas. Primeiro foram US$ 100 mil para a fase inicial do projeto por meio do Instituto Nacional de Alimentação e Agricultura do USDA (NIFA), que concedeu o subsídio através de seu programa Small Business Research Innovation. Em seguida, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) desembolsou US$ 650 mil para desenvolvimento das pesquisas e comercialização do produto com base na camelina. Os estudos nos centros de pesquisa universitários também foram subsidiados por diversas outras entidades.
“A produção de feromônios à base de plantas como a camelina pode fornecer aos produtores controle sustentável de insetos que são extremamente necessários para a agricultura especialmente agora, que a agricultura global enfrenta uma crescente resistência aos insetos, pois os agrotóxicos convencionais estão menos eficazes”, diz o pesquisador Ed Cahoon, diretor do Center for Plant Science Innovation e professor de bioquímica da Universidade de Nebraska-Lincoln, em Lincoln. “Há uma pressão crescente de governos e consumidores por uma produção de alimentos cada vez mais segura e verde”, conclui.