Farinha de Copioba é foco de visita de italianos
O grupo veio ao Brasil trazido pelo Slow Food, presente em 160 países, cujo objetivo é gerar um intercâmbio nos hábitos
No dia 3 de fevereiro, o pesquisador Joselito Motta acompanhou um grupo com 17 jovens estudantes de Ciências Gastronômicas da Universidade da Ciência da Gastronomia (Unisg), localizada em Pollenzo, na Itália, em visita à Embrapa Mandioca e Fruticultura — Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento — e a unidades de beneficiamento de mandioca em Cruz das Almas (BA) e região. O grupo veio ao Brasil trazido pelo Slow Food, organização internacional presente em 160 países, cujo objetivo é gerar um intercâmbio nos hábitos alimentares estimulando modelos de produção e consumo de alimentos baseados na valorização do patrimônio agroalimentar local e no melhoramento da seguridade alimentar e na inclusão social.
“Nesse contexto, trabalhamos em parceria com entidades de pesquisa fortalecendo as linhas de atuação e ampliando o campo de pesquisa sobre os sistemas produtivos da biodiversidade local e a Embrapa já realizou várias atividades conosco”, afirmou Revecca Tapie, facilitadora e coordenadora de projetos Slow Food Brasil na região Nordeste, em sua solicitação para que Motta participasse da atividade. O foco principal do roteiro gastronômico no Recôncavo é a farinha de copioba, produto de reconhecida importância para a cultura alimentar da região.
Além da apresentação de Motta sobre o desenvolvimento da cultura da mandioca no Brasil e no mundo, a programação incluiu visita a unidades de processamento na fazenda Cancela, em São Félix, e na fazenda Tapera, em Cruz das Almas. O grupo também conheceu a unidade de produção de beijus Dois Irmãos, no distrito de Cadete, também na zona rural de Cruz das Almas, do produtor familiar José Carlos Mendonça, hoje uma das mais bem estruturadas casas de farinha do Recôncavo. Esse produtor, mais conhecido como Biloe, participou inclusive, em 2006, na Itália, do Terra Madre, encontro mundial das comunidades do alimento — sua ida foi articulada por Motta. “Lá ele viu a importância das práticas de higiene, da segurança alimentar, e daí ele começou a fazer mudanças em sua fábrica. Hoje ele emprega 15 pessoas, todas devidamente uniformizadas, e fornece merenda escolar para vários municípios e produtos para redes de supermercados, feiras livres em Salvador, outros estados e cogita a possibilidade de exportar. É um exemplo de sucesso para outros agricultores familiares que trabalham com a cultura da mandioca, sendo nosso parceiro em atividades de transferência de tecnologia”, informou Motta.
O coordenador científico da viagem, Alberto Viana, disse que essas visitas foram importantes para os alunos aprenderem a essência da gastronomia brasileira. “Nesse contexto, a mandioca é a nossa rainha. O objetivo é que eles conheçam todos os produtos da agrobiodiversidade brasileira que são protegidos da Arca do Gosto do Slow Food. E a Embrapa tem um trabalho muito grande com a araruta, a mandioca, o aipim... produtos que estão protegidos na Arca. Eles viajam o mundo para conhecer o que está dentro dos países apoiados diretamente pelo Slow Food [o grupo passou dez dias na Bahia]. A viagem está surpreendendo, o conteúdo está bastante agradável, atendendo aos objetivos, e a gente agradece à Embrapa por essa parceria”, salientou.
Arca do Gosto – De acordo com o Slow Food, Arca do Gosto é um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais. O objetivo é documentar produtos gastronômicos especiais, que estão em risco de desaparecer. Desde o início da iniciativa em 2996, mais de mil produtos de dezenas de países foram integrados à Arca.