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Faltam armazéns para milho no Centro-Oeste


Número insuficiente de locais para estocagem na região provoca queda de 10% nos preços aos produtores rurais. A falta de armazéns para a estocagem de milho no Centro-Oeste está deprimindo ainda mais o preço, chegando a níveis próximos aos de garantia do governo. Em alguns municípios, os agricultores têm procurado armazenar o produto em outros estados, onde a capacidade de estocagem é maior. Para analistas, o investimento no setor não tem acompanhado o crescimento da safra. Hoje, o assunto será tema de audiência pública na Câmara dos Deputados e haverá reunião no Ministério da Fazenda para discutir medidas de apoio à comercialização.

O Brasil tem capacidade estática de armazenagem de 90 milhões de toneladas para uma safra de 120 milhões de toneladas. Nos EUA, a capacidade é três vezes superior à produção. Além de quantidade pequena de armazéns, eles são concentrados no Sul (40 milhões de toneladas), apesar de o Centro-Oeste responder por mais de 30% da produção.

Pelos cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a região vai colher 36,6 milhões de toneladas de grãos, com capacidade de estocagem de 29 milhões de toneladas. Aliado a isso, só armazéns que abrigam 11 milhões de toneladas é que estão credenciados - outros 15 milhões estariam aptos, mas até o momento isto não ocorreu.

Outro fator que tem gerado problema é que parte dos armazéns credenciados está com soja estocada.

Segundo a superintendente de armazenagem da Conab, Denise Deckers, o câmbio fez com que as exportações fossem mais lentas este ano. "Comparando a capacidade estática armazenadora com a produção não teríamos problemas, mas a localização de armazéns em áreas isoladas e a locação para soja geram falta de espaço", diz Pedro Arantes, assessor da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg).

O presidente do Sindicato dos Armazéns Gerais de Goiás, Pedro Tassinafi, diz ser preferível o armazém trabalhar com a soja, que tem retorno maior. É determinante também para a depressão dos preços de milho o fato de a safrinha no Centro-Oeste ser superior à primeira safra - 4 milhões de toneladas.

Segundo o assessor de agricultura da Federação de Agricultura do Estado do Mato Grosso do Sul (Famasul), Anderson Cesconatto, o preço do milho está baixo e, sem possibilidade de armazenar, o produtor tem que ficar com o grão na lavoura ou vender imediatamente, o que provoca maior queda no valor pago. Estima-se que no estado apenas 30% foi colhido da safrinha. No Centro-Oeste, o valor está entre R$ 7,50 e R$ 11 a saca (queda de 10% em um mês), e próximo ao mínimo, que varia de R$ 7,50 a R$ 8,50 a saca.

O escoamento da produção para o Nordeste, por exemplo, resolveria parte do problema. A região tem capacidade de absorção de 25 mil toneladas do grão por semana, segundo o Sindicato de Armazéns Gerais do Norte e Nordeste de Mato Grosso (Siagen). "Porém, não temos estrada para escoar esta produção e assim fica mais barato para o Nordeste trazer o milho do Paraná", diz o senador Jonas Pinheiro (PFL-MT).

Ele reivindica que sejam realizados contratos de opção e Aquisições do Governo Federal (AGF), com antecipação do preço mínimo previsto para ser adotado a partir de fevereiro de 2004 - em patamares de R$ 11 a R$ 13 a saca. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, diz que o governo estuda a liberação de verba para contratos de opção de 1,5 milhão de toneladas e que a antecipação do preço mínimo seria possível só se houvesse verba suficiente.

Outra solução é a encontrada por Mato Grosso do Sul, onde o governo isentou o ICMS para que empresas de outros estados que venham comprar e possam transportá-lo e armazená-lo em outras localidades. Em Mato Grosso, calcula-se que o déficit de armazenagem na segunda safra vai ficar em 40% em todo o estado. A produção de milho deve chegar a 2,5 milhões de toneladas e o consumo interno está calculado em 950 mil toneladas. Ou seja, 1,55 milhão de toneladas precisam ser exportadas ou armazenadas. Mas o estado não dispõe do espaço necessário para abrigar esta produção.

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