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Estiagem causa perda da safra de feijão na região de Irecê (BA)

A seca prolongada está causando sérios prejuízos para a agricultura baiana



A estiagem prolongada está causando sérios prejuízos para a agricultura baiana. Em algumas regiões produtoras, a situação é dramática, como é o caso de Irecê, onde a safra de feijão está praticamente perdida. A colheita de mamona, de acordo com levantamento da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), deverá apresentar uma queda da ordem de 58%. No Cerrado, o quadro não é diferente, e as estimativas indicam, por exemplo, uma redução de 16% na produção de soja e 32% de milho, este ano.

O secretário geral do Sindicato dos Produtores Rurais de Irecê, Milton Ribeiro, disse que a safra de feijão na região está praticamente perdida. "Mais de 90% dos agricultores trabalham com a cultura de sequeiro, por isso os prejuízos são grandes", informou. Segundo Ribeiro, alguns prefeitos já decretaram estado de emergência diante da gravidade da situação.

A seca provocou impactos na produção de grãos e fibras no oeste. Segundo o assessor de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Ivanir Maia, a estiagem atravessou todo o mês de janeiro, e as chuvas só começaram a chegar no mês passado. A soja, no entanto, já começa a ser colhida este mês de março, e a previsão é que a produção, que em 2005 foi de 2,4 milhões, caia para 1,9 milhão de toneladas, sem haver redução da área. Por isso, a produtividade, que chegou a 2.760 quilos, caiu para 2.280kg por hectare. "O veranico atingiu a cultura na fase de desenvolvimento vegetativo, prolongando-se até a fase de floração e formação de vagens. Como conseqüência, causou redução no crescimento, abortamento de folhas, flores e vagens e favoreceu o ataque de lagartas e do tamanduá-da-soja", informou.

A Conab prevê uma queda de 20% na produção baiana de milho, que deve passar de 1,53 milhão para 1,22 milhão de toneladas, com redução de 17% na rentabilidade. Especificamente no oeste, nesta primeira safra, constata-se uma perda de 32% em relação a 2004/2005. A estiagem atingiu a cultura na fase de pendoamento e florescimento da planta, prolongando-se até a fase de início de enchimento de grãos. Em algumas áreas, não houve o enchimento de grãos, apresentando perda total.

A mamona, por sua vez, deve apresentar uma das maiores quedas de produção dos últimos anos, podendo chegar a 58%. O volume, segundo a companhia, cairá de 169,4 mil toneladas, em 2005, para 69,6 mil em 2006. Os números da Conab, porém, indicam que não é apenas a seca que causa estragos na cultura. De acordo com os agricultores, a elevada produção do ano passado, motivada pelo Programa do Biodíesel, provocou declínio nos preços e desestimulou os produtores, resultando em uma diminuição da área plantada em nada menos que 50%, ou seja, de 169 mil hectares para 84 mil.

Mesmo as áreas irrigadas estão enfrentando problemas. O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Lapão, Cláudio Rodrigues, lembrou que a maioria das propriedades utiliza poços artesianos. "Mas, até mesmo os lençóis freáticos começam a secar", informou. Drama mesmo passa os 1,8 mil pequenos agricultores do município. Segundo Rodrigues, mesmo que as chuvas comecem a cair, vai ser tarde demais para o feijão. "Acho que ainda podemos recuperar o milho e parte da mamona", citou.

Governo investe R$560 milhões em 233 municípios

Até o final do ano, o governo do estado pretende investir pelo menos R$560 milhões nos 233 municípios baianos mais atingidos pela seca. São ações estruturantes visando à ampliação da oferta de água, geração de emprego e renda, construção de casas, melhorias habitacionais e sanitárias que beneficiam cerca de dois milhões de pessoas. "Nós estamos atravessando um prolongado período de estiagem que já prejudicou a safra em muitas regiões e que traz mais dificuldades para a população rural, por isso estamos antecipando algumas ações importantíssimas em diversas áreas", afirmou o governador Paulo Souto.

Todas as ações foram discutidas ontem à tarde, durante uma reunião entre o governador, secretários e dirigentes de órgãos ligados à assistência a vítimas da seca. Na parte de infra-estrutura, está prevista a construção de 495 sistemas de abastecimento de água, seis mil cisternas, 258 poços e 42 barragens.

Souto ressaltou que estes programas não só minoram a questão emergencial, mas resolvem definitivamente o problema de água em muitas regiões. "Além disso, estamos antecipando alguns programas que visam à geração de emprego e renda tanto voltados para agricultura familiar como aqueles destinados à construção de novas casas e melhorias sanitárias e habitacionais que têm a característica de permitirem o trabalho, sobretudo na zona rural."

Os programas de geração de emprego e renda, que totalizam investimentos de R$42 milhões, são destinados ao apoio a culturas resistentes à seca, como as de sisal e algodão. Estão previstas ações como distribuição de máquinas de beneficiamento, tratores e implantação de 104 unidades agroindustriais em várias áreas, bem como a implantação ou melhoramento de perímetros irrigados e a manutenção do rebanho caprino.

Entre a construção de novas unidades e melhorias habitacionais e sanitárias, serão investidos R$63 milhões. "Estas ações atendem a um objetivo muito maior que é o de criar condições definitivas, como é a filosofia do governo, para melhorar a qualidade de vida do homem no semi-árido", explicou o governador.

Participaram da reunião os secretários do Planejamento, Armando Avena, da Agricultura, Pedro Barbosa, de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Jorge Khoury, de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais, Clodoveo Piazza, do Trabalho, Assistência Social e Esporte, Eduardo Santos, de Desenvolvimento Urbano, Roberto Moussalem, além de presidentes de órgãos ligados às referidas secretarias como Pedro Avelino, da Companhia de Engenharia Rural (Cerb), Joaquim Santana, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Umberto Costa, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), e Artur Napoleão, da Coordenação Estadual de Defesa Civil.

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