Especialista afirma que pecuária lidera em lucratividade
Diferença na lucratividade do setor em relação à cana-de-açúcar supera os 100%
A discussão sobre qual cultura é mais rentável, se a cana-de-açúcar ou pecuária, parece estar longe do fim. As divergências variam conforme a unidade da federação, cidade e até mesmo estrutura da propriedade rural. Segundo o professor doutor em Agronomia da Universidade de São Paulo (USP), Moacyr Corsi, as vantagens tendem a ser maiores para a pecuária quando comparada com a cana-de-açúcar. Ele explica que a lucratividade de ambas as culturas depende de fatores como a administração da propriedade e o gerenciamento do manejo – no caso dos bovinos. Porém, ele destaca que a pecuária apresenta menores riscos que a cana, e que praticamente não vale a pena arrendar pasto para o plantio de cana.
Moacyr diz que a cana-de-açúcar, assim como já ocorreu com a laranja, a soja e outras culturas, está na disputa de áreas com a pecuária. O fato é que a pecuária tem se sobressaído e se mantém ao longo dos modismos. Prova disso é o que ocorre em São Paulo, onde a área de pasto é duas vezes superior à de cana. “Quando há baixa rentabildade da pecuária, tal resultado é reflexo de erros do produtor e má administração da propriedade”, argumenta.
A conta é simples: enquanto a produtividade na pecuária de corte pode variar entre 30 e 50 arrobas por hectare/ano, a cana-de-açúcar arrecada em torno de 12,4 toneladas por hectare/ano, o que equivale a rendimento de R$ 558 por hectare/ano. Enquanto isso, o preço da arroba na cotação mais baixa da vaca gorda, cujo valor é de R$ 43, pode render R$ 1.290 – considerando 30 arrobas. Na comparação, o ganho da pecuária é superior a 100%.
Em palestra realizada ontem no Parque Agropecuário de Nova Vila, durante a 62ª ExpoGoiás, o professor Moacyr relatou que ganhos com a cana-de-açúcar ocorrem quando há diversificação no sistema de plantio, enquanto na pecuária os ganhos podem aumentar em 30% se houver planejamento para a realização de monta, desmame e manutenção de boas pastagens para alimentação do rebanho. Esses fatores contribuem para preservação da condição corporal das vacas – que, deste modo, entram no cio mais rápido, dão à luz animais mais fortes, maiores, mais pesados e precoces. “A atividade pecuária mal gerenciada provoca perdas de até 80% em produtividade”, explica.
Arrendamento – Devido aos incentivos do governo federal à produção e as perspectivas de exportação de álcool, muitos pecuaristas estão arrendando as terras para o plantio de cana-de-açúcar. Segundo Moacyr, esta pode ser uma falsa ilusão, já que a produtividade da pecuária de corte pode ser elevada em 18% se houver uma mudança de atitude do produtor em relação ao uso da tecnologia na área.
Ele completa dizendo que em razão das tecnologias usados hoje, não se pode comparar a produtividade da cana-de-açúcar, que é do século 21, com a da pecuária de corte, que ainda é do século 16. O professor diz que o uso da tecnologia nas pastagens, principalmente no período de inverno, pode resultar em maiores ganhos se comparados ao arrendamento de terras para o plantio da cana-de-açúcar.
Moacyr Corsi alerta que, na utilização de tecnologia e manejos adequados nas pastagens, a cada 0,27% de 10 anos de atividade pecuária, ou seja, no empenho de um dia a cada década, o produtor consegue ganhar o que seria proporcionado pelo arrendamento da terra para o plantio de cana-de-açúcar, por uma safra, mais os juros de poupança.
Em contraponto à previsão de crescimento do uso de álcool como combustível em escala mundial, há também um crescimento gradual no consumo de carne tanto no Brasil quanto no mundo. Moacyr explicou que apenas 30% da carne consumida no planeta é brasileira; caso haja aumento nas exportações o País tende a ser beneficiado. Com a tendência mundial de urbanização da população, o aumento da consumo de carnes tende a crescer, o que fará desta commodity um bem de consumo não durável ainda mais disputado pelo mercado, ao contrário do álcool, cujo mercado consumidor ainda está se formando.