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Entidades e produtores do RS garantem que irão comercializar soja transgênica



A garantia de comercialização interna e externa da safra de soja do Rio Grande do Sul, que já começou a ser colhida na região Noroeste e ganha intensidade na semana que vem, e o prosseguimento com as pesquisas biotecnológicas foram os dois temas unânimes no encontro desta segunda-feira (24-03) na sede da Federação dos Agricultores do Estado (Fetag), em Porto Alegre.

Além da entidade, que esteve representada pelo presidente Ezídio Pinheiro, estiveram reunidos também o presidente da Federação das Cooperativas do RS (Fecoagro), Rui Polidoro, o presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Jorge Rodrigues, o presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa do Estado, deputado Jerônimo Goergen, entre representantes de outras entidades e membros da secretaria e do Ministério da Agricultura.

Todos enfatizaram que a safra deve ser vendida mesmo com a proibição do governo federal. Durante a reunião, os dirigentes mostraram-se céticos quanto à garantia do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, alegando que o produtor que optou em plantar soja transgênica não terá problemas em comercializar a produção. Eles acreditam que a opinião de Rodrigues é diferente em relação aos integrantes do governo contrários à liberação da transgenia.

A estimativa da Farsul é que aproximadamente 70% da área de soja do Rio Grande do Sul é transgênica. Porém, o delegado substituto do Ministério da Agricultura, Luiz Ernani Cardozo, afirma que as análises realizadas até hoje no Estado mostram uma área de no máximo 60%. Além disso, ele ressaltou que o RS não merece o status como único representante que produz Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), justificando a possibilidade de existir sementes modificadas também no Paraná, este que ameaça proibir a entrada do grão oriundo do RS.

Para tentar resolver o impasse para as próximas safras, o Ministério Público Federal editou um Termo de Ajuste de Conduta para que o produtor gaúcho possa, em três anos, voltar a plantar soja convencional. “A proposta do MP é que os produtores voltem a cultivar o grão não-transgênico neste período, mas o sojicultor não vai aceitar esse retrocesso”, destaca o presidente da Comissão de Grãos da Farsul, Jorge Rodrigues. Os resultados, segundo ele, seriam a diminuição na produção da oleaginosa, em decorrência dos custos elevados da soja convencional, e o receio dos produtores em plantar transgênicos, caso permaneça proibido o plantio e a comercialização. O Ministério Público também informou que o plantio de soja transgênica é um problema do próprio RS por ter permitido uma área de 95% com grão modificado geneticamente, e que portanto, a única alternativa é a exportação.

Outros dois pontos muito discutidos durante a reunião foram a capacidade do Rio Grande do Sul para armazenar, de acordo com estimativa da Emater/RS, 8 milhões de toneladas de soja, e a capacidade do Estado de separar soja transgênica da convencional. Quanto a esse aspecto, o RS não teria capacidade de segregar o grão. Conforme o gerente da Divisão de Apoio Técnico da Emater, Dirlei Matos de Souza, a maior dificuldade seria em razão da grande quantidade prevista para ser colhida nesta safra. “Neste momento não teríamos ‘quites’ suficientes para realizar os testes em todas as propriedades do Estado, por causa da estimativa elevada da Emater/RS. Além disso, para realizar-mos exames mais detalhados, seria preciso enviar o material para o exterior para que pudesse ser investigado com mais cuidado, o que inviabilizaria a possibilidade de comercialização da safra atual”, esclarece Souza.

Quanto ao armazenamento do grão, o presidente da Fecoagro, Rui Polidoro, reconhece que o Estado não terá capacidade de estocar a produção de soja, caso continue o impasse entre produtores e governo federal. Isso aconteceria porque o sistema de armazenamento seria o estático, que obriga o grão a ficar mais tempo nos armazéns. Contudo, ele afirma que o RS tem condições de armazenar de forma dinâmica os 8 milhões de toneladas previstos pela Emater/RS, possibilitando a agilidade na exportação. Polidoro ressalta que o maior problema é a logística do comércio de soja. “Este ano o Rio Grande do Sul terá problemas de logística de transporte para escoar a soja por causa da grande quantidade estimada. Para os próximos anos é preciso analisar este aspecto”, enfatiza o presidente.

A quantidade disponível de soja convencional para a próxima safra no Estado também ganhou destaque ontem. Segundo Jorge Rodrigues, as sementes disponíveis atualmente na Secretaria da Agricultura não são suficientes para garantir o plantio da área de soja, a não ser que o Estado reduza em 40% a próxima safra. “Com essa quantidade, o RS não passaria de 1,8 milhão de sacas de semente, o que representaria 1,6 milhão de hectare de área, sendo que este ano o Rio Grande do Sul plantou 3,6 milhões de hectares”, critica.

Hoje (25-03), o presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa do RS, o deputado Jerônimo Goergen, vai enviar um documento ao presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, para que um grupo de ministros seja convidado a visitar as lavouras de soja do Estado. “Os ministros seriam convidados a conhecer as experiências da Embrapa e a conversar com entidades. O objetivo é que eles compareçam para que tenham noção da riqueza de nossas lavouras, assim como tomaram conhecimento da miséria do Nordeste do país”, destacou Goergen. Ele citou também que o maior desafio será convencer a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a visitar as lavouras de soja do Rio Grande do Sul, visto que já se negara a comparecer na semana passada na Expodireto Cotrijal 2003, em Não-Me-Toque, sem alegar nenhum motivo.

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