Empresários mexicanos querem agroindustrializar sisal da Bahia
Projeto será desenvolvido em parceria com pequenos produtores
A economia de 20 municípios baianos produtores de sisal pode ser revigorada com os investimentos que empresários mexicanos pretendem fazer na região, introduzindo novas variedades de sisal e agroindustrializando a produção. “Nossa meta é recuperar a produção, que já foi de 220 mil toneladas por ano”, disse o secretário estadual da Agricultura, engenheiro agrônomo Eduardo Salles, informando que a “Bahia deverá produzir apenas 80 mil toneladas/ano, número que ainda mantém o Estado como maior produtor do Brasil”. A declaração foi feita durante visita que o secretário fez esta semana aos municípios de Valente, Santa Luz e Conceição do Coité, em companhia do secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Paulo Câmera. Os municípios visitados são importantes produtores de sisal.
Os empresários mexicanos, que visitaram anteriormente a região em companhia do representante da Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb), Ismael Ferreira, reuniram-se com Eduardo Salles em Salvador e afirmaram que estão estudando a possibilidade de introduzir na região a cultura da agave azul, planta da mesma família do sisal, muito utilizada no México para a produção de tequila e adoçante. Eles planejam a instalação de um empreendimento agroindustrial, integrando pequenos produtores e parceiros locais. O projeto necessitaria de uma área de produção de 36 mil hectares de cultivo, já que o semiárido baiano possui clima de baixa precipitação, característica climática semelhante ao país latino-americano. A questão tecnológica também preocupa o governo, que busca um modelo de máquina que seja segura e de alta produtividade. O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Câmera, disse que, com a visita aos municípios de Conceição do Coité, Santa Luz e Valente, foi desenvolvida uma nova forma de atuação na área do sisal, a partir da concepção de outro modelo de exploração. “Há um projeto com uma máquina itinerante e, agora, um novo experimento de produção com uma fixa”. A agave azul, que possui alto valor econômico, é a base da economia de todo o estado de Jalisco. Os investidores mexicanos exportam US$ 20 milhões por ano, com a produção colhida em 30 mil hectares.
Segundo Eduardo Salles, essa é mais uma das alternativas pensadas para a agricultura da região. “Além da fibra, se pudermos avançar e ter a produção de etanol, açúcar e outros derivados da agave, conseguiremos mais uma opção para uma cultura tão importante para a Bahia”. Satisfeitos com o que encontraram em território baiano, os empresários convidaram o secretário para conhecer o trabalho desenvolvido nesta área no México.
Salles explicou aos investidores que a Bahia possui moderna legislação ambiental, que permite o licenciamento para novas áreas e empreendimentos com rapidez, além da infraestrutura necessária e a segurança sanitária por meio das ações de defesa, extensão e pesquisa agropecuária. Além disso, o governo poderá apoiá-los nas questões de logística e de instalação do seu parque industrial. E sugeriu uma reunião com técnicos da Seagri e da Secti, visando a elaboração de um protocolo de intenções entre governo estadual e empresa, para que se possa avançar nas negociações.
Mudas, assistência técnica e maquinário
Salles afirmou que, além dos investimentos dos empresários mexicanos, a região está recebendo também atenção especial, por recomendação do governador Jaques Wagner. “Não podemos querer mudar a cultura regional. O sisal enfrenta problemas que não são de hoje, mas o Estado tem a decisão firme de trabalhar para mudar esta realidade e resgatar a viabilidade do negócio”. Ele lembrou que o consumo dos fios agrícolas (produto mais demandado do sisal) vem sendo reduzido mundialmente, o que representa um enorme mercado para a produção baiana.
O secretário garantiu que a intenção do governo é revitalizar a cultura do sisal, responsável pela geração de milhares de empregos. “Não vamos permitir que se repita na Bahia o que aconteceu com a Paraíba, que já foi o maior produtor nacional de sisal e hoje sua produção está reduzida a apenas duas mil toneladas/ano”.
O secretário disse que um dos grandes problemas dos sisaleiros é a comercialização da produção, já que o mercado mundial começa a não demandar mais os fios agrícolas. “O mercado europeu já diminuiu muito e a tendência é que o mercado norte-americano, que ainda é o maior consumidor, reduza mais ainda a importação do produto. É preciso desenvolver novas formas de utilização, sob pena de não haver mais mercado consumidor”.
A solução para a produção de sisal na Bahia, segundo o secretário Eduardo Salles, envolve diversas ações. “O trabalho que temos em mente envolve tecnologia de ponta para a produção e a distribuição de mudas saudáveis, preparo de solo, assistência técnica e utilização de máquinas apropriadas, itinerantes ou fixas, para se desfibrar a planta”, enumerou. Segundo ele, uma solução estruturante começa pelo combate à podridão vermelha, um problema fitossanitário que já tem um avanço muito grande na Bahia.
Utilização de sisal híbrido
“Precisamos produzir e doar aos agricultores familiares mudas saudáveis de sisalana e de sisal híbrido, por meio de uma biofábrica que está sendo estudada em parceria entre a Seagri e a Secti”. O secretário explicou que o sisal híbrido, embora já seja cultivado na região, ainda não foi difundido porque sua folha é muito dura, difícil de desfibrar com a máquina manual. “Então, um equipamento com melhor tecnologia, pela qual se obtenha a fibra e outros subprodutos, vai resolver este problema. Vamos saltar de 800 quilos para seis mil quilos de fibra por hectare”, contabilizou.
O objetivo é que sejam utilizados 100% da planta de sisal, aproveitando-se também o suco. Hoje, aproveita-se apenas 5% da folha do sisal, transformada em fibra, 25% é mucilagem e 70% suco, que é ácido e acaba descartado, prejudicando o meio ambiente “Para isso, estamos mecanizando a mão de obra, o que vai eliminar inclusive as mutilações e permitir o processamento de todo o material de uma vez. Com essa tecnologia aliada à biofábrica, vamos aumentar a produtividade e a renda dos trabalhadores familiares, que receberão ainda assistência técnica”, disse Salles.
Dentro da assistência técnica, está previsto também um programa de preparo de solo, para os agricultores familiares, como já é feito com os produtores de algodão no Vale do Iuiu. Este ano, foram preparados aproximadamente 1,6 mil hectares de área. Cada agricultor familiar teve dois hectares para trabalhar e este mesmo processo poderá ser utilizado para o sisal.
Mercado - Também pensando no escoamento da produção, foi realizada reunião com representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para apresentar uma proposta para a associação de produtores da região, com a finalidade de aumentar o preço mínimo, por meio do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro), para melhor atender os agricultores.
Tecnologia na produção Com o apoio da Universidade Federal e do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), técnicos foram enviados África do Sul, à Tailândia e à China para avaliarem modelos de máquinas, fazendo avançar a tecnologia empregada na produção e evitando acidentes de trabalho, a exemplo das mutilações.
Paulo Câmera ressaltou ainda que é preciso desenvolver um mercado substituto para os fios agrícolas. Para ele, a alternativa está nos compósitos. “A fibra da planta é moída, ficando com três milímetros de diâmetro, e pode ser utilizada em centenas de produtos, substituindo a fibra de vidro na produção de plásticos, por exemplo. Podemos fornecer este produto para a construção de casas, para a fabricação de automóveis, de condutores elétricos, e uma série de outras opções”, explica.
Câmera disse ainda que toda a tecnologia já está dominada, esclarecendo que tudo o que se vê e que tem plástico rígido, possui um produto chamado fibra de vidro, que pode ser retirado e substituído, na proporção de 30%, pelo sisal.
Para o secretário da Agricultura, esta tecnologia abre um leque importante de atuação. “Nossos problemas são o fato de que não temos uma produção firme para que a indústria ingresse neste negócio, e também a qualidade. Por isso, a Seagri e a Secti unem esforços para modificar esta situação”.
De acordo coordenador-executivo do Grupo Sisal, Emerson Simões, a funcionalidade das máquinas deverá ser estudada, aperfeiçoada e aplicada no campo. “Essa é uma oportunidade para buscarmos todas as tecnologias disponíveis em outras culturas, agregando a cadeia produtiva do sisal. Precisamos dar condições de transferência de renda com sustentabilidade”.
“Precisamos aproveitar esse momento de transformação da cadeia produtiva. A defasagem tecnológica dos equipamentos, nas condições que estão, não são competitivos. São três mil máquinas operando na Bahia, que precisam garantir rentabilidade”, sinaliza o presidente do Sindifibras e secretário-executivo da Câmara de Fibras Naturais, Wilson Andrade.
O presidente da Associação de Produtores de Sisal da Bahia, Misael Oliveira, destacou a importância que o governo vem dando com a realização de visitas constantes à região.