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Embrapa realiza workshop sobre metodologias de certificação de baixo carbono no agro

Nos dias 3 e 4 de abril, a Embrapa Meio Ambiente promoveu em Jaguariúna (SP)



Foto: Canva

Nos dias 3 e 4 de abril, a Embrapa Meio Ambiente promoveu em Jaguariúna (SP) o Workshop Contabilidade Ambiental em Protocolos de Baixo Carbono, reunindo especialistas de diversas Unidades, como Gado de Corte, Meio Ambiente, Milho e Sorgo, Pecuária Sudeste e Soja. O foco do evento foi alinhar estratégias para padronizar as métricas de emissões e remoções de carbono, integrando-as aos diferentes sistemas produtivos do agronegócio brasileiro.

Os debates foram guiados pela necessidade de desenvolver soluções sustentáveis que atendam às exigências internacionais. O formato presencial do workshop possibilitou uma troca enriquecedora entre as cadeias produtivas, permitindo que soluções para soja, milho, sorgo e trigo também beneficiassem a pecuária.

Alexandre Berndt, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, destacou a importância do workshop para o desenvolvimento de ferramentas, como calculadoras de carbono, que utilizam metodologias reconhecidas, como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e o método BRLUC (Brazilian Land Use Change). Essas tecnologias são cruciais para garantir a competitividade do Brasil em mercados que valorizam práticas ambientais responsáveis.

Berndt observou que a diversidade dos sistemas produtivos no Brasil gera desafios específicos. Ele ressaltou que a Embrapa está tecnicamente preparada, mas é vital promover um diálogo entre as regiões para conectar a ciência à realidade local. Além disso, enfatizou a necessidade de comunicar claramente os benefícios econômicos e ambientais das novas tecnologias aos produtores.

Marília Folegatti, pesquisadora cuja equipe é responsável pelos estudos sobre a metodologia ACV na Embrapa Meio Ambiente, ressaltou a colaboração observada nos encontros entre os representantes dos Programas de Baixo Carbono da instituição. Segundo ela, as reuniões, apesar de dedicadas a técnicas para a contabilidade de carbono, também foram focadas em soluções de Tecnologia da Informação. Como resultado principal, espera-se a criação de uma plataforma com ferramentas comuns e harmonizadas, capazes de integrar um conjunto de culturas agrícolas e atividades pecuárias de baixo carbono, tanto do ponto de vista tecnológico quanto metodológico.

Henrique Debiase, da Embrapa Soja, considerou o alinhamento entre as iniciativas de certificação um marco em relação às mudanças climáticas. O evento contou com a participação de representantes dos selos de Soja, Milho, Sorgo, Trigo e Leite e Carne Baixo Carbono, visando padronizar critérios metodológicos e evitar fragmentações que possam prejudicar a credibilidade das certificações.

Ele alertou para a importância de protocolos que reflitam a realidade dos sistemas tropicais. Muitos métodos foram desenvolvidos para climas temperados e podem distorcer a realidade da produção brasileira. “Aplicar modelos estrangeiros gera distorções que penalizam injustamente nossa agricultura”, ressaltou Debiase, que também destacou a sustentabilidade de muitos sistemas brasileiros, apesar dos desafios do desmatamento ilegal.

A integração e a sintonia entre os programas de baixo carbono foram reforçadas por Arystides Resende, da Embrapa Milho e Sorgo. Ele considerou o workshop essencial para garantir que todas as iniciativas avancem de forma alinhada, respeitando a interconexão entre grãos e pecuária. Resende afirmou que a adaptação de metodologias internacionais à realidade tropical é crucial para evitar penalizações injustas.

O workshop representou um passo importante na consolidação de uma base técnica nacional robusta, crucial para o Brasil se afirmar como líder no desenvolvimento de tecnologias agropecuárias de baixo carbono, pondera Resende.

Contexto da pecuária

Para Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, a decisão do governo brasileiro de ampliar e incentivar o uso de metodologias de contabilidade de carbono é fundamental diante da crescente relevância do tema. Segundo ele, essas ferramentas são essenciais para calcular a pegada de carbono — indicador que expressa o volume total de gases de efeito estufa emitidos por um produto ou processo no seu ciclo de vida —, informação cada vez mais demandada por consumidores, mercados e formuladores de políticas públicas.

“No caso da pecuária, essa é uma oportunidade ainda mais significativa”, avalia Giolo. “Trata-se de uma cadeia produtiva frequentemente criticada por suas emissões, mas que, com o uso dessas metodologias, poderá demonstrar também sua capacidade de remoção de carbono da atmosfera. E, nesse ponto, os sistemas pecuários apresentam um potencial de remoção até maior que o das lavouras.”

Embora o setor seja frequentemente apontado como um dos principais emissores, o pesquisador destaca que, ao considerar também as remoções, o balanço final de emissões pode ser bastante reduzido. “Isso representa um avanço importante para a pecuária, que passa a mostrar não apenas suas emissões, mas também sua contribuição positiva na mitigação dos gases de efeito estufa”, afirma.

Giolo ressalta ainda que, no caso da carne bovina, essas ferramentas abrem espaço para valorizar sistemas de produção sustentáveis. “A calculadora será utilizada para a certificação da marca Carne Baixo Carbono, que terá seu lançamento na COP30.

Na COP30

Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, destaca que o Brasil levará à COP30 a proposta de adoção de métodos de cálculo de carbono mais compatíveis com as particularidades dos sistemas agrícolas tropicais, sem perder a articulação com as métricas globais. As abordagens hoje dominantes, moldadas por realidades de clima temperado, negligenciam características essenciais da produção brasileira, como a possibilidade de duas ou até três safras por ano e a ampla diversidade de solos e condições climáticas nos diferentes biomas do país.

Packer também enfatiza que as práticas previstas no Plano ABC+ — ampliadas por meio da política nacional de recuperação de pastagens degradadas — têm papel estratégico tanto na mitigação quanto na adaptação às mudanças do clima. Ela destaca que o objetivo do workshop foi promover a harmonização das ferramentas de cálculo da pegada de carbono, de forma a reconhecer e valorizar as contribuições da agricultura tropical para o equilíbrio climático global.

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