Drones insetos: Novos aliados da agricultura sustentável
Imitando libélulas ou mosca das frutas, pequenos voadores revolucionam a proteção de culturas
Um veículo aéreo não tripulado que imita o voo de libélulas, é resistente ao vento, tem proporções diminutas e pode realizar tarefas em locais desafiadores. Assim é o mais novo “drone” desenvolvido pela Animal Dynamics, uma empresa de tecnologia que se especializou em imitar e aplicar as “lições da vida selvagem” ao design. O chamado “Skeeter” era um projeto até então secreto, mas que recebeu recentemente financiamento das forças armadas do Reino Unido.
Uma das principais dificuldades que os cientistas encontraram para desenvolver protótipos deste tipo era substituir as tradicionais hélices giratórias por “asas que batem”. “Fazer dispositivos com asas batendo é muito, muito difícil. Os helicópteros manobram alterando o passo das pás do rotor para avançar e retroceder ou pairar. Para objetos menores, pairar é um grande desafio”, explica Alex Caccia, que é executivo-chefe da empresa.
Para que esse drone pudesse imitar o voo da libélula, a Animal Dynamics passou quatro anos desenvolvendo um sistema que permitisse pairar em meio a rajadas de vento de mais de 20 nós (23 mph ou 37 km/h). Esse software dá a Skeeter um certo grau de autonomia e o orienta em torno de obstáculos em direção ao seu objetivo.
Outro exemplo, desta vez desenvolvido com foco voltado para a agricultura, é o DelFly, projeto de pesquisa da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda. Esse “furtivo” drone pesa menos de 50 gramas e inspira-se no movimento das asas das moscas da fruta. Trata-se de um dispositivo super ágil com um sistema de agitação de quatro asas, capaz de voar com a mesma agilidade que um inseto real.
O objetivo da equipe do DelFly é conseguir um voo autônomo em ambientes fechados, útil para funções como monitorar colheitas em grandes estufas. O DelFly pode controlar três eixos de vôo e se move para os lados alterando a maneira como cada uma de suas asas bate. “É assustadoramente semelhante a um inseto real. Atualmente, o DelFly pode voar por mais de cinco minutos com uma bateria cheia com um alcance de mais de 1 km (0,62 milhas)”, comenta Stefan Etienne, da revista The Verge.
PULVERIZAÇÃO DISRUPTIVA
Esses equipamentos entraram no radar das mais disruptivas empresas de proteção de culturas, como é o caso da ISCA Technologies. De acordo com o cofundador e diretor da empresa, Leandro Mafra, a pulverização tradicional de pesticidas gasta uma imensa quantidade de água, sem falar do grande custo dos próprios insumos – que apresentam inflação acima da média a cada ano, independentemente das oscilações econômicas mundiais. O grande problema desse método é a necessidade de “molhar” todas as plantas com a mistura preparada para que o defensivo tenha efeito, aponta.
Por isso a empresa foi além e deu um passo rumo ao futuro da agricultura sustentável ao anunciar um forte investimento em novas tecnologias de aplicação, destacadamente drones e aviões. “Nossa meta é ter menos equipamentos no chão e mais no ar. Assim, já é possível controlar as pragas gastando menos, com mais eficiência e economizando um grande volume de água”, afirma Mafra.
Os drones, explica ele, são indicados para áreas menores, conseguindo uma abrangência média de quatro hectares, com voo baixo e preciso. De acordo com o diretor executivo e gerente de Marketing da ISCA, só é preciso passar uma linha dos produtos de “atração de pragas” para cada hectare: “Um vôo, que era necessário para cobrir 100 hectares, agora pode cobrir mil hectares. É muito mais viável, mais barato, e isso é comprovado por números e estudos. O produtor que experimenta se dá conta de que é uma forma de aplicação muito mais vantajosa”.
As soluções da ISCA são voltadas para a atração de insetos pela utilização de iscas, feromônios e armadilhas. A lógica consiste em, ao invés de pulverizar indiscriminadamente pesticidas em toda a plantação, usar uma nova plataforma de produtos que atraem os insetos até a solução de controle de pragas. “Estamos propondo outro modelo, o de colocar as soluções de controle de pragas em pontos estratégicos que tirem o inseto da lavoura”, revela Mafra.
Ele cita como exemplo os feromônios, que utilizam o cheiro como método de atração sexual dos insetos até locais específicos onde entrarão em contato com o inseticida. Outra linha é o de produtos fagoestimulantes, como a série Acctra, que pode ser aplicada pelo próprio agricultor, ou a Noctovi, que leva a praga a “comer” o veneno longe da lavoura.
REALIDADE
Segundo ele, esse tipo de controle já é uma realidade em muito pontos do estado do Mato Grosso e da Argentina. “As palavras-chave são precisão e rapidez. Isso muda o paradigma atual de aplicação e inclusive de armazenagem de produtos, porque em vez de um galpão, o produtor vai necessitar apenas uma sala, pois a quantidade de insumos a serem aplicados é muito menor. Ao invés de gastar com a compra de um trator, ele terá de adquirir um drone. Não há termo de comparação. A logística é muito mais fácil e a aplicação extremamente mais rápida”, explica.
Já os aviões podem ser utilizados em áreas maiores, conseguindo tranquilamente fazer em um voo 20.000 hectares de maneira rápida. “A ISCA criou uma nova plataforma de produtos que atraem os insetos para as suas soluções. Não é mais necessário mais molhar todas as plantas com o spray, os insetos se deslocam em direção aos produtos. Não é mais necessário grande volume de solução/calda. Onde antes era necessário 100 litros de solução, agora é necessário somente um litro. Vislumbramos um novo futuro na prática”, conclui Mafra.