Do contrabando à lavoura: o perigo dos defensivos ilegais
20% do mercado de defensivos agrícolas no Brasil seja composto por produtos ilegais
O contrabando de defensivos agrícolas para uso na produção agrícola brasileira tornou-se uma prática criminosa alarmante. Apesar da legislação rigorosa no Brasil, que regula a compra e o uso desses produtos, a entrada ilegal de defensivos agrícolas provenientes de países vizinhos, como o Paraguai e o Uruguai, desafia as autoridades e traz graves consequências para a saúde pública, o meio ambiente e a economia nacional.
Mercado ilegal em expansão
Estima-se que cerca de 20% do mercado de defensivos agrícolas no Brasil seja composto por produtos ilegais. Esses produtos muitas vezes chegam ao país através de fronteiras pouco fiscalizadas, provenientes de países com legislações mais brandas ou que oferecem defensivos agrícolas a preços mais baixos. No Uruguai, por exemplo, apenas os produtos mais perigosos requerem receita agronômica, em contraste com o Brasil, onde todas as compras precisam de prescrição profissional.
A diferença no custo também é um fator significativo. Produtos vendidos no Paraguai e no Uruguai costumam ser consideravelmente mais baratos, incentivando alguns produtores brasileiros a adquirirem esses defensivos agrícolas de maneira ilegal, mesmo com os riscos envolvidos. Estudos apontam que o contrabando representa cerca de 65% a 70% dos defensivos agrícolas ilegais no país, enquanto o restante é composto por falsificações e desvio de finalidade de uso.
Principais substâncias contrabandeadas
De acordo com laudos periciais da Polícia Federal realizados entre 2008 e 2018, os ingredientes ativos mais apreendidos incluem:
Imidacloprido (15,1%)
Metsulfurom-metílico (13,7%)
Benzoato de emamectina (10%)
Tiametoxam (9,8%)
Fipronil (8,3%)
A China é o principal país de origem desses produtos, respondendo por 77,1% do total apreendido, seguida por Paraguai (7,5%) e Uruguai (7,2%). Apesar de muitos desses defensivos agrícolas possuírem rótulos com informações sobre o ingrediente ativo e a concentração, há casos de falsificação e produtos com concentrações diferentes das indicadas.
Riscos para a saúde e o meio ambiente
Os defensivos agrícolas contrabandeados representam um grave risco para a saúde dos produtores, consumidores e para o meio ambiente. Produtos adulterados podem conter concentrações tóxicas prejudiciais ou serem ineficazes na proteção das culturas, causando prejuízos financeiros e aumentando a resistência de pragas e organismos.
Além disso, resíduos de substâncias proibidas, como o Carbofurano e o Aldicarbe, foram relacionados a efeitos neurotóxicos e danos ao desenvolvimento humano, incluindo problemas comportamentais e fetais durante a gravidez. Essas ameaças não apenas comprometem a segurança alimentar, mas também desvalorizam os produtos agrícolas brasileiros no mercado internacional.
Impactos na economia e na cadeia produtiva
O contrabando também causa sérios danos à economia. A entrada ilegal de defensivos agrícolas resulta em sonegação fiscal, desvalorização de produtos locais e prejuízos na cadeia de produção. O uso de produtos falsificados pode acarretar em custos adicionais para os produtores devido à baixa eficiência ou aos danos causados às lavouras.
O papel da legislação e das autoridades
No Brasil, a Lei nº 7802/89 regula o uso e a comercialização de defensivos agrícolas. Qualquer uso ou venda sem receita agronômica é considerado crime ambiental. Além disso, o contrabando, a falsificação e o descaminho de defensivos agrícolas também são crimes que podem resultar em pesadas penalidades.
Estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que fazem fronteira com países vizinhos, são os mais afetados pelo contrabando. Apesar dos esforços das autoridades, incluindo apreensões e campanhas de conscientização, o comércio ilegal continua em expansão.
Uma ameaça global
O contrabando de defensivos agrícolas não é apenas um problema local. Ele afeta a credibilidade do agronegócio brasileiro, um dos principais pilares da economia do país, e compromete a sustentabilidade ambiental e a segurança alimentar global. Investimentos em fiscalização, políticas de educação para produtores e cooperação internacional são fundamentais para enfrentar essa ameaça. Somente com a união de esforços é possível mitigar os impactos devastadores do contrabando de defensivos agrícolas e proteger a agricultura brasileira, o meio ambiente e a saúde da população.
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