Descarbonização no campo: entenda a parceria entre Petrobras e Embrapa
Veja a entrevista com engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias
A Petrobras e a Embrapa firmaram uma parceria estratégica para o desenvolvimento de produtos de baixo carbono, biocombustíveis, fertilizantes sustentáveis e novas tecnologias agrícolas. O objetivo principal é não só ampliar a oferta de insumos para o mercado, mas também reduzir o impacto ambiental da produção agrícola, beneficiando tanto o campo quanto a indústria.
Para entender melhor os impactos dessa cooperação, conversamos com o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias, especialista em práticas agrícolas sustentáveis.
Segundo João Pedro, a Embrapa desempenha um papel fundamental na criação de protocolos agrícolas de baixo carbono. "O mundo inteiro está procurando caminhos para descarbonizar, ou seja, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que hoje estão na faixa de 42 bilhões de toneladas. A Embrapa, com seus centros regionais e uma equipe técnica altamente qualificada, é essencial nesse processo", explica.
A parceria com a Petrobras, destaca João Pedro, possibilitará à Embrapa avançar em pesquisas que muitas vezes são limitadas por falta de recursos. “A Embrapa entra com o conhecimento técnico e a Petrobras com os recursos necessários, como custeio de viagens e combustíveis para efetivar as pesquisas”, complementa.
Ele ainda exemplifica com o Centro de Trigo em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, que poderia impulsionar a pesquisa de novas culturas para a produção de biocombustíveis, como o querosene verde e o diesel verde.
Ao ser questionado sobre a diversificação de culturas, João Pedro reforça a importância de alternativas à soja, que atualmente representa 90% do biodiesel no Brasil. “Não podemos depender apenas da soja, pois se trata de um alimento, e sua produção pode encarecer ou afetar a oferta. Culturas como carinata e macaúba têm grande potencial para preencher essa lacuna”, afirma.
Ele também menciona o papel da Embrapa na pesquisa dessas culturas alternativas e no desenvolvimento de tecnologias para que elas se tornem viáveis comercialmente. “A macaúba, por exemplo, é uma planta perene que poderia ser uma ótima opção para pequenos produtores, além de contribuir para a produção de biocombustíveis.”
Outro ponto de destaque da parceria é a retomada da produção de fertilizantes pela Petrobras, com foco em sustentabilidade. João Pedro aponta que essa iniciativa busca desenvolver fertilizantes de baixo impacto ambiental, que não apenas aumentam a produtividade, mas também melhoram a saúde do solo.
“Os fertilizantes precisam ativar a vida no solo, o que contribui para o sequestro de carbono. Esse processo pode ser mensurado, e o produtor pode ser remunerado por essa contribuição ambiental”, explica. Ele sugere que o uso de resíduos orgânicos, como os de granjas, pode ser um caminho viável para a produção de fertilizantes organominerais.
Segundo João Pedro, a parceria entre a Petrobras e a Embrapa tem o potencial de transformar o Brasil em um líder global na produção de biocombustíveis e insumos agrícolas sustentáveis. “Já temos grande expertise no etanol e no biodiesel, mas é preciso ampliar essa produção com novas tecnologias e culturas, aproveitando a diversidade do nosso território e o conhecimento técnico da Embrapa.”
Para ele, o grande desafio é unir inovação tecnológica com práticas agrícolas sustentáveis, garantindo que o Brasil não só atenda à demanda por biocombustíveis, mas também contribua para a redução das emissões de carbono.