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Cresce a produção de trigo no País


O Brasil caminha a passos largos para a auto-suficiência na produção de trigo, tradicionalmente o principal produto agrícola importado pelo País. Pelas estimativas do chefe geral do Centro Nacional de Pesquisas de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Doracy Pessoa Ramos, em menos de dez anos o Brasil atingirá situação de pleno abastecimento do cereal, mediante, principalmente, à ampliação do cultivo do grão na região Centro-Oeste. Esta região responde hoje por apenas 5% da produção nacional de trigo, mas apresenta enorme potencial de crescimento, segundo cálculos do especialista.

Ramos afirma que a auto-suficiência no trigo seguirá o mesmo processo da soja, que exigiu da Embrapa cerca de quinze anos de pesquisas até atingir plena produção na década de 1980. Ou seja, a auto-suficiência no trigo será conseqüência do domínio do conhecimento, com a difusão de técnicas de plantio direto, que permitem o consorciamento com três culturas diferentes, e a introdução de novas variedades de trigo adaptadas à região central do país. "O Brasil já é hoje o principal país do mundo no domínio da tecnologia do plantio direto", destaca Ramos.

A perspectiva de auto-suficiência brasileira no trigo, a médio prazo, já preocupa a Argentina, maior exportador do cereal para o Brasil. O trigo é o item número um da pauta de exportação argentina ao Brasil. Cerca de 90% das importações brasileiras de trigo são garantidas pelos argentinos. Isso eqüivaleu, no ano passado, a gastos com importações de trigo argentino de US$ 730 milhões. Somente no primeiro semestre de 2003, o Brasil já adquiriu do país vizinho US$ 500 milhões em trigo para fazer frente a um consumo interno esperado de aproximadamente 10 milhões de toneladas por ano.

Safra brasileira

"A produção agrícola brasileira está incomodando muita gente", constata o pesquisador da Embrapa, numa alusão aos Estados Unidos diante do forte crescimento da produção brasileira de soja, que este ano superou a safra norte-americana. Pelas estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil vai colher este ano uma safra de soja de 51,2 milhões de toneladas, acima das 42 milhões de toneladas produzidas no ano anterior. De acordo com as últimas previsões do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, a produção brasileira de grãos (cereais, legumisosas e oleaginosas) vai atingir 119,729 milhões de toneladas em 2003, com incremento de 23,21% sobre as 97, 174 milhões de toneladas produzidas no ano anterior. Mas o grande destaque deste ano é o desempenho da safra brasileira de trigo, prevista em 4,735 milhões de toneladas, 61,82% maior que as 2,925 milhões de toneladas registradas em 2002. A área plantada com trigo, em âmbito nacional, deverá crescer este ano 15,32% e os níveis de produtividade serão 39% maiores que a média verificada em 2002.

Plantio em expansão

Esta será, portanto, a segunda maior safra de trigo já obtida pelo País, superada, apenas pelas 6 milhões de toneladas colhidas em 1989. Em todos os estados produtores verificaram-se consideráveis aumentos nas áreas de plantio de trigo, destacando-se o Rio Grande do Sul , onde a área cultivada é a maior desde 1990, observa o chefe do Departamento de Agropecuária do IBGE, Carlos Alberto Lauria. Segundo ele, vários fatores levaram os triticultores a ampliar suas lavouras: os bons preços recebidos na última safra, a expectativa de ocorrência de inverno com padrão normal, além do fato de os produtores estarem mais capitalizados que em anos anteriores. "Na década de 1980, a produtividade média da lavoura brasileira de trigo era de, no máximo, 900 quilos por hectare. Hoje já atinge cerca de 2 mil quilos/ha", compara Paulo Roberto Correa, do IBGE.

Aliás, ganho de produtividade é o principal responsável pelo crescimento consecutivo da produção nacional de grãos. De 1975 a 2003, o Brasil praticamente triplicou sua produção de grãos, que pulou de 40 milhões de toneladas para cerca de 120 milhões de toneladas no período. Enquanto isso, a área colhida cresceu, no mesmo período, apenas cerca de 32%.

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