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Cotações da soja são pressionadas pelo clima nos EUA

Veja a análise na íntegra



Foto: Divulgação

As cotações da soja, em Chicago, continuaram pressionadas pelo clima nos EUA, ao mesmo tempo em que o recrudescimento do conflito entre Rússia e Ucrânia veio se somar às tensões altistas sobre os grãos em geral. Neste último caso, no dia 17/07 a Rússia anunciou a sua retirada do acordo comercial feito com a Ucrânia, o qual permitia a este último país exportar seus grãos pelo Mar Negro mesmo durante a guerra. Em paralelo, os russos bombardearam instalações portuárias ucranianas. Com isso, a Ucrânia terá mais dificuldades em exportar seus produtos, particularmente trigo e milho.

Desta forma, o fechamento desta quinta-feira (20), para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 14,95/bushel, contra US$ 15,18 uma semana antes. A destacar que a qualidade das lavouras estadunidenses de soja melhorou muito no relatório do dia 17/07, deixando a entender que o clima se ajustou, mesmo que parcialmente, por lá.

De fato, segundo o USDA, até o dia 16/07, o índice das lavouras entre boas a excelentes passou a 55%, contra 51% uma semana antes. Este índice superou, inclusive, as expectativas do mercado. No ano passado, nesta data, o mesmo estava em 61%. Por outro lado, 56% das lavouras de soja estavam em floração, contra 51% na média. Havia, também, 20% das mesmas na fase de formação de vagens, enquanto na semana anterior eram 10%.

Enquanto isso, os embarques de soja, por parte dos EUA, na semana encerrada em 13/07, somaram 155.556 toneladas, ficando aquém do esperado pelo mercado. Assim, o volume total embarcado, no atual ano comercial 2022/23, sobe a 49,9 milhões de toneladas, ou seja, 5% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior.

E pelo lado da demanda, a China talvez venha a comprar um volume maior de soja brasileira, entre setembro e dezembro, diante da expectativa de uma safra menor nos EUA, a partir dos problemas climáticos que estariam ocorrendo neste último país. O Brasil ainda tem muito grão para embarcar. A soja brasileira ainda continua competitiva. Para embarque em outubro, a mesma está sendo ofertada a 576 dólares a tonelada, incluindo custo e frete, para a China, enquanto os carregamentos dos EUA estão sendo cotados acima de 580 dólares a tonelada. Normalmente, os compradores estão dispostos a pagar prêmios de 12 a 15 dólares a tonelada pelos grãos brasileiros, que têm maior teor de proteína em comparação com a oleaginosa dos EUA. (Cf. IKON Commodities)

Por sua vez, a Associação Nacional das Processadoras de Oleaginosas dos EUA informou que o esmagamento de soja naquele país, em junho, ficou em 4,49 milhões de toneladas. O volume ficou abaixo das expectativas do mercado, que eram de 4,64 milhões de toneladas. Em relação a maio, o total também é menor, já que foram processadas 4,84 milhões de toneladas naquele mês. Mesmo assim, o esmagamento deste mês de junho foi maior em 0,2% ao registrado em junho do ano passado.

E no Brasil, com o câmbio voltando a cair abaixo dos R$ 4,80 por dólar, em alguns momentos da semana, e prêmios negativos praticamente nos mesmos níveis das últimas semanas, foi a manutenção de cotações firmes em Chicago que auxiliou na melhoria dos preços internos. A média gaúcha fechou a semana em R$ 136,28/saco, enquanto as principais praças trabalharam ao redor de R$ 136,00. Já nas demais regiões brasileiras os preços oscilaram entre R$ 110,00 e R$ 130,00/saco. Assim, em relação aos piores momentos de mercado, ocorridos no primeiro semestre, a soja gaúcha já ganhou entre 16 e 17 reais por saco. Nas demais praças nacionais também houve ganhos, porém, em menor intensidade na maioria dos casos. Lembrando que no Rio Grande do Sul, devido às novas perdas na última safra de verão, a disponibilidade de soja é bem menor do que no restante do país.

Dito isso, a colheita de soja do Brasil, para a nova safra 2023/2024, deve alcançar um novo recorde, de 163,2 milhões de toneladas, com aumento de 4,5% na comparação com o ano anterior. O aumento da produção, em caso de clima normal, aconteceria devido ao crescimento anual de 2,5% na área plantada, a qual passaria para 45,6 milhões de hectares, também novo recorde. Mas devido aos preços bem mais baixos, o crescimento na área semeada nacional, com soja, será menor neste novo ano comercial. Lembrando que, em seu relatório de oferta e demanda, divulgado no último dia 12/07, o USDA indicou uma futura safra de soja no Brasil em 163 milhões de toneladas.

Por sua vez, o Brasil deverá embarcar mais farelo de soja em 2022/23, devendo alcançar o recorde de 21,5 milhões de toneladas (ano comercial outubro/22 a setembro/23). Este aumento se dá em função da menor participação da Argentina neste mercado, pois a forte seca no vizinho país reduziu em muito a produção local da oleaginosa nas últimas safras (o processamento de soja na Argentina está estimado em apenas 30 milhões de toneladas, o menor dos últimos 18 anos).

Enfim, contrariando as expectativas mais otimistas indicadas anteriormente, outros analistas privados brasileiros estimam uma safra nacional de soja menor em 2023/24. Um dos números avançados é de 155,8 milhões de toneladas, já que a área semeada, segundo a fonte, aumentaria apenas 0,48% em relação ao ano anterior. Seria o menor aumento desde 2006/07. "A desaceleração na expansão vem pela dificuldade na projeção de rentabilidade para o próximo ciclo e pelo sentimento generalizado da contenção de riscos". 

E pelo lado da exportação de soja brasileira, estima-se que julho feche com 8,8 milhões de toneladas vendidas ao exterior, contra 7 milhões efetivadas em julho do ano passado. Já os embarques de farelo de soja ficariam em 2,58 milhões de toneladas neste mês, acima dos 2,07 milhões de toneladas exportados há um ano. Especificamente em relação à China, em junho este país aumentou suas compras de soja brasileira em 31,6%, alcançando 9,53 milhões de toneladas. Os preços mais baixos da soja brasileira levaram a este movimento. A China também deve comprar um volume maior da oleaginosa do Brasil, do que o habitual, para setembro a dezembro, já que os preços dos embarques da nova safra dos EUA aumentam devido às expectativas de menor oferta. Os embarques da oleaginosa brasileira, no primeiro semestre deste ano, atingiram a 29,7 milhões de toneladas, dois milhões de toneladas acima do nível do ano passado. No entanto, os embarques dos EUA, no primeiro semestre, ainda são maiores do que no ano passado, em 19,7 milhões de toneladas, contra 17,54 milhões de toneladas verificadas no primeiro semestre de 2022.

A análise é da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário - CEEMA.
 

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