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Como se explica a nuvem de gafanhotos

Especialistas analisaram comportamento dos insetos, como se formam as nuvens e formas de controle



Foto: Pixabay

Desde maio volta e mexe o assunto das nuvens de gafanhotos volta ao debate. Basta esquentar que a ameaça aumenta com a migração da praga para o Brasil. Segundo o Serviço de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) atualmente são seis nuvens localizadas no país e o calor intenso dificulta a localização precisa. Dessas 6 nuvens, 1 já está controlada, que é a que está mais próxima do Brasil. Ela recebeu pulverizações com inseticidas. Agora a nuvem mais próxima do Brasil está há cerca de 500 quilômetros. O monitoramento de fronteira segue constante.

Especialistas estiveram reunidos em uma live nesta terça-feira (11) para explicar como é o comportamento dos gafanhotos, como se formam as nuvens e formas de prevenção. Organizada pelo movimento “Nós somos a Ciência”, participaram o geógrafo e ambientalista, Mario Mantovani e o biólogo, Marcos Lhano.

Os gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata não tem comportamento de grupo. Por alguma alteração ambiental ou necessidade de migrar por alimento devido a uma superpopulação local fazem com que eles se juntem em nuvem e sigam para locais com mais condições de sobrevivência. São típicos da América do Sul, sendo diferentes daqueles que ocorrem no Egito, por exemplo, e que ficaram conhecidos como praga bíblica. 

Para se desenvolver e atingir o status de praga precisa dealtas temperaturas no inverno e chuvas adequadas, o que pode permitir o desenvolvimento de até três gerações por ano. Essas condições foram determinantes neste ano. Marcos Lhano explica que a formação de nuvens é muito comum em países como Paraguai, Uruguai e Argentina.

Neste último inclusive o assunto é recorrente e o gafanhoto é considerado praga nacional e tem até um programa específico de estratégias de controle. Por outro lado no Brasil nunca houve formação de nuvens. Todas que chegaram até terras brasileiras vieram de fora. “A cada dois ou três anos é comum a formação dessas nuvens. Isso tem a ver com danos ambientais que diminuem as barreiras para as nuvens. Elas sempre migram em direção a favor ao vento e podem se deslocar até 150 km por dia. Se não há barreiras naturais fica mais fácil essa migração”, explica o biólogo.

No Brasil estima-se que haja cerca de 875 espécies de gafanhotos e menos de 5 delas tem potencial de danos pontuais, como a formação de nuvens. “Os gafanhotos são benéficos na natureza. O problema é quando se estruturam em grupos. É importante destacar que eles causam prejuízos em pastagens e culturas agrícolas mas também traz muitos benefícios. Como comem, acabam defecando muito e isso traz um índice alto de adubação do solo”, diz Lhano.

O controle

Para Mario Mantovani o desequilíbrio do meio ambiente é o principal fator causador dos estragos causados pelos insetos e quando muitos gafanhotos se reúnem num grupo já não é possível fazer o controle biológico com pássaros, por exemplo. “Se você modifica o meio ambiente o inseto também precisa se adequar”, aponta.

Os especialistas acreditam que a melhor forma de controle é a prevenção. O indicado é realizar monitoramento para identificar insetos jovens e políticas públicas como planos de atuação em caso de infestação. “Como o clima está mudando as nuvens vão ser mais freqüentes. O Brasil não estava preparado, nem tinha produtos para combate e teve que correr para instaurar legislações”, alertou Lhano.

Uma vez formada a nuvem não há nada que se possa fazer a não ser a aplicação de inseticidas. No entanto há o alerta de que não se pode acabar totalmente com a nuvem porque ela tem importância ambiental. O aconselhável é reduzir e não extinguir. “O grande problema quando se aplicam agrotóxicos para controle eles também afetam polinizadores a região e isso vai impactar igualmente na agricultura, além da contaminação das águas próximas”, destaca Mantovani. O ambientalista ainda alerta que quanto mais químico aplicado em uma praga ela pode adquirir resistência e se tornar um problema bem mais sério. “O melhor e mais barato, inclusive, é apostar em medidas de prevenção e preservação ambiental”, diz,

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