Como planejar o Manejo Integrado de Pragas?
Para evitar danos econômicos é fundamental traçar as estratégias para a próxima safra
Manejar as pragas para que fiquem abaixo do dano econômico é um dos grandes desafios para os produtores. Em uma live promovida pelo sistema Faeg, Marcelo Mueller de Freitas, engenheiro agrônomo e doutor em entomologia agrícola e Estevão Rodrigues, engenheiro agrônomo e mestre em produção vegetal analisaram o que dá para tirar de lições na safra 19/20 e como projetar a próxima.
Vários fatores interferem na incidência de pragas. Um deles é o cultivo intensivo que favorece o grande número de espécies e a sobrevivência delas nas culturas. No plantio direto também há benefícios para algumas pragas. Aliado a isso a utilização de novas tecnologias como as transgênicas e resistentes a herbicidas alteram as pragas em meio às condições ambientais favoráveis (inverno não rigoroso).
Os cultivos sucessivos sem pousio no mesmo ano-safra e com a sobreposição de culturas faz com que muitas pragas consigam mais alimento, transitando entre as diferentes culturas. “Nosso clima é favorável para as pragas. A gente brinca que o nosso agricultor produz grãos e insetos também. Temos que dar uma medalha aos produtores porque mesmo nessa adversidade somos os maiores produtores de soja. Se tivermos um inverno rigoroso como o dos Estados Unidos, onde a neve quebra o ciclo, certamente produziríamos muito mais. Exemplo disso foi visto aqui na região de Goiás. Nesta safra houve baixa infestação de mosca-branca e lagarta, especialmente a falsa-medideira, influenciadas pelas geadas do ano passado””, destaca Freitas.
O percevejo marrom (Euschistos eros) é uma das pragas que mais têm trazido danos na soja. Nas últimas safras o que se observa é o aumento da incidência muito favorecido pelas variedades Bt. “Com o controle de lagartas pela tecnologia há um numero reduzido de aplicação de inseticidas e aumenta a população de percevejos e, consequentemente, os danos na oleaginosa", completa o pesquisador.
O percevejo barriga-verde (dichelops spp.) é outra praga muito influenciada pelos sistemas de cultivo, com danos severos ao milho. Na soja o complexo Spodoptera também vem trazendo danos. “Se antes essas lagartas eram pragas secundárias, hoje mais de 90% da soja cultivada no Brasil é soja Bt que controlam outras lagartas e deixam as spodopteras de fora” alerta o entomologista.
Outras pragas de destaque nesta safra foram as vaquinhas e o metaleiro (diabrotica speciosa, colapsis sp. e cerotoma arcuata) que causaram potenciais danos nas lavouras. “A gente se preocupa com as pragas principais e as secundárias acabam ganhando espaço e causando muitos prejuízos, desfolha e perdas de produtividade”, completa.
Se falta um pilar, a casa cai
Na entressafra as plantas daninhas acabam sendo refúgio de pragas, garantindo a sobrevivência delas até a próxima safra. “O manejo começa antes do plantio. Deve-se fazer o monitoramento, observar se sobrou inseto da safra anterior e ver se pode ser feito o manejo antecipado. A praga sai da soja e vai pro milho, multiplicando cada vez mais. É um sistema”, informa Rodrigues.
Para o especialista em produção vegetal uma recomendação é fazer a adição de inseticida ao herbicida na dessecação. “É uma ferramenta importante e tem empresas correndo para registrar mais produtos, porque isso propicia uma quebra no ciclo da praga já no início”,
Outra medida a ser respeitada é o vazio sanitário, conforme calendário de cada Estado para o manejo de entressafra.
Para os especialistas das práticas de Manejo Integrado de Pragas, a prevenção é sempre a melhor estratégia para inibir o desenvolvimento da praga. Aliado a isso boas práticas de conservação do solo, rotação de culturas, aplicação de químico e biológicos, monitoramento correto e conhecimento técnico. "Deve ser um conjunto porque se falta um pilar, a casa cai", apontam.