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Coco macaúba: beneficiamento de fruto dá novo alento à agricultura familiar

Óleo extraído do fruto é utilizado na produção de sabão em barra, shampoo, desinfetante e cosméticos



Unidade de beneficiamento recebe recursos viabilizados pelo Governo de Minas, por meio do Programa de Combate à Pobreza Rural
 
Com capacidade de produção anual estimada em um milhão de toneladas, o coco macaúba está sendo alvo de um trabalho do Governo de Minas no Norte do Estado, por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). O objetivo é incrementar o beneficiamento do fruto típico do cerrado, com geração de emprego e renda envolvendo centenas de produtores rurais ligados à agricultura familiar.

Com o envolvimento de 350 famílias que se dedicam à exploração do extrativismo, o escritório regional da Emater de Montes Claros avalia que já existe possibilidade de criação de um programa especial de estímulo ao plantio e beneficiamento do coco macaúba na região do semiárido, levando-se em conta o potencial de emprego e renda que a atividade pode gerar.

Além da instalação de uma usina de beneficiamento de coco macaúba em Montes Claros, sob a coordenação da Associação Comunitária de Pequenos Produtores Rurais de Riacho Dantas e Adjacências, a Emater entende que outro fator positivo que impulsiona a atividade foi a decisão do Governo de Minas em promulgar lei regulamentando a exploração do fruto, trazendo novo alento para a agricultura familiar.

A unidade de beneficiamento foi instalada com recursos viabilizados pelo Governo de Minas, por meio do Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR), coordenado pela Secretaria de Extraordinária de Desenvolvimento dos Vales Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas (Sedvan) e do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene). Parte do óleo extraído da fruta é utilizado na produção de sabão em barra, comercializado com a marca Cooper Riachão.

Atualmente grande parte da produção de coco não é comercialmente explorada, embora o óleo extraído do fruto seja comestível; já vêm sendo utilizado na produção de sabão em barra, shampoo, desinfetante e cosméticos. Por outro lado, o produto resultante do esmagamento do coco macaúba é utilizado como ração de alto valor protéico para a alimentação de aves, suínos e bovinos.

“Apesar de ainda estamos beneficiando uma pequena parte da produção de macaúba, Minas Gerais se constitui numa região onde se concentram grandes áreas de produção do fruto, que tem todas as condições de se constituir numa importante fonte de matéria-prima para a usina de biodiesel da Petrobras sediada em Montes Claros”, destaca o engenheiro agrônomo e coordenador técnico do escritório regional da Emater de Montes Claros, Reinaldo Nunes Oliveira.

O engenheiro calcula que através de um trabalho articulado com famílias de pequenos produtores rurais, o Estado tem condições de produzir anualmente um milhão de toneladas de óleo de coco macaúba. A Emater já tem mapeadas grandes áreas de produção de coco macaúba no Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha, Noroeste, Centro e Sudoeste do Estado.

Além de estudos sobre a melhor forma de beneficiamento do coco, a fim de que se obtenha o melhor aproveitamento possível quanto à extração de óleo, Reinaldo Oliveira revela que professores das universidades Estadual de Montes Claros (Unimontes), Federal de Viçosa (UFV) e Federal de Minas Gerais (UFMG) estão desenvolvendo pesquisas com foco no desenvolvimento de mudas precoces e de árvores de menor estatura, visando facilitar o trabalho dos catadores. Os estudos também contemplam avaliações sobre a maturação dos frutos e a melhor época de colheita e beneficiamento.

“A implementação de um programa específico de beneficiamento do coco macaúba se constituirá numa ação que beneficiará diretamente famílias de pequenos produtores e trabalhadores rurais, proporcionando geração de novas oportunidades de trabalho e o incremento da renda”, destaca o coordenador técnico da Emater. Outro fator positivo apontado pelo engenheiro é que o programa de incentivo ao aproveitamento da macaúba propiciará o incremento do Programa de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta, através do incentivo ao plantio de espécies desenvolvidas por universidades e institutos de pesquisa.

Emprego e renda reduzem o êxodo rural

Com investimento de R$ 45 mil viabilizados por meio de um projeto elaborado pela Emater e encaminhado à Codevasf e Fundação Banco do Brasil, desde o ano passado a Associação dos Produtores Rurais de Riacho Dantas já contam com área disponível para a instalação de viveiro, com capacidade para produzir 500 mil mudas de coco macaúba. A Associação pretende colocar em prática projeto de recuperação de áreas degradadas que, futuramente, consolidarão o trabalho de produção comercial de óleo e sub-produtos do coco macaúba.

Fundada em 1995 com 42 sócios, a Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais de Riacho Dantas já conquistou várias instituições aliadas para o incremento do beneficiamento do coco macaúba. Além de assistência técnica da Emater-MG, com o apoio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales São Francisco e Parnaíba (Codevasf) em 2011 a entidade inaugurou um galpão de armazenamento de coco macaúba. São mais de 300 metros quadrados destinados à estocagem do coco e dos produtos oriundos do beneficiamento da fruta.

“Estamos no centro de uma região que possui grande potencial de exploração do coco macaúba, como fonte alternativa de renda para centenas de famílias de pequenos produtores e trabalhadores rurais”, ressalta o presidente da Associação dos Produtores Rurais de Riacho Dantas, Aguinaldo Fonseca Costa. Mensalmente a entidade produz 17 mil caixas de 25 quilos de sabão em barra, que estão sendo comercializadas em estabelecimentos comerciais do Norte de Minas.

Os frutos coletados são oriundos dos municípios de São João do Pacuí, Luislândia, São João da Lagoa e Jequitaí. Caso a Associação firme acordo com a Petrobras para o fornecimento de matéria-prima para a fabricação de biodiesel em Montes Claros, Aguinaldo Costa estima que o trabalho será ampliado para 16 municípios localizados num raio de 80 quilômetros da sede da Associação. Com isso, a previsão é de que a Associação passe a gerar oportunidades de trabalho para cerca de mil famílias residentes na zona rural.

“O aproveitamento de um produto típico do cerrado tem propiciado a muitas famílias uma importante fonte de trabalho e de renda. Além de evitar o aumento do êxodo rural e contribuir com a preservação do meio ambiente, muitos agricultores e trabalhadores rurais estão conseguindo sustentar suas famílias e ajudar os filhos a avançar nos estudos. Eu mesmo sou testemunha dessa evolução, uma vez que tenho dois filhos matriculados nos cursos superiores de farmácia e nutrição, em Montes Claros”, afirma Aguinaldo Costa.

Anualmente a Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Riacho Dantas beneficia 65 mil litros de óleo que gera uma receita anual média de R$ 170 mil, revela o tesoureiro da entidade, Hermes Fonseca da Costa. Na opinião dele, “a perspectiva da Petrobras passar a utilizar óleo de macaúba na produção de biodiesel traz excelente perspectiva para a Associação, pois toda a produção que obtivermos a empresa terá condições de adquirir”, destaca.

O engenheiro agrônomo da Emater, Petrônio Ramos revela que inventário feito pela Universidade Estadual de Montes Claros dá conta de que existem cerca de dois milhões de palmeiras de macaúba no Norte de Minas. Cada planta produz anualmente uma média de 40 quilos de coco. Só com o beneficiamento de 80 mil toneladas de coco a Emater assegura que os produtores rurais norte-mineiros terão condições de fornecer 160 mil toneladas de óleo para a usina de biodiesel da Petrobras, atendendo a demanda de 30% de matéria-prima que a estatal precisa comprar, oriunda da agricultura familiar.

Incentivos com regulamentação do Pró-Macaúba

A utilização da macaúba como fonte produtora de energia renovável ganhou neste ano novo impulso do Governo de Minas, que regulamentou a Lei nº 19.485/2011 – Pró-Macaúba. A norma instituiu a política estadual de incentivo ao cultivo, à extração, à comercialização, ao consumo e à transformação da macaúba e das demais palmeiras oleaginosas.

A regulamentação da referida lei aconteceu em função da demanda crescente por energias renováveis, atendendo as diretrizes de sustentabilidade ambiental, social e econômica definidas no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).

O Brasil desponta como um dos países propensos a liderar todas as cadeias do setor de energia renovável no mundo, diante do protagonismo no desenvolvimento e do uso de tecnologias inovadoras, bem como a perspectiva de incorporação produtiva de áreas degradadas ou inaptas à agricultura de alimentos. A regulamentação da Pró-Macaúba, ao identificar as instituições e competências para o desenvolvimento e aplicação da política definida pela Lei nº 19.485/2011, atende parte dessa demanda crescente, permitindo a criação de milhares de empregos e geração de renda, com o desenvolvimento da cadeia produtiva.

O secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Elmiro Nascimento, destaca que a regulamentação da Pró-Macaúba vem confirmar o reconhecimento formal da atividade pelo poder público, promovendo melhor adequação do cultivo da espécie, com foco, principalmente, na produção de biodiesel. A coordenação da execução da política cabe à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), que tem como principais competências incentivar o plantio, a comercialização e a industrialização da macaúba e das demais palmeiras oleaginosas, estimular o beneficiamento dos produtos, coprodutos e derivados, visando a sua utilização para diversos fins, bem como incentivar a participação dos produtores rurais em projetos integrados com a agroindústria e a indústria. Compete ainda à Seapa difundir e transferir tecnologia e desenvolver ações de extensão rural, priorizando os pequenos e médios produtores rurais.
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