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Cigarrinha Africana: uma ameaça para o produtor brasileiro?

Sua presença nas Américas foi inicialmente registrada no estado de Goiás, entre julho e novembro de 2022



Foto: Divulgação

A cigarrinha do milho, também conhecida como Dalbulus maidis, é uma praga que os agricultores brasileiros estão bem familiarizados. No entanto, uma nova ameaça surgiu sob a forma da cigarrinha africana, Leptodelphax maculigera.  Originária da África, a cigarrinha africana já foi documentada em vários países do continente, incluindo as Ilhas Mascarenhas, Costa do Marfim, Madagascar, Quênia e Camarões. Até recentemente, essa espécie não havia sido detectada nas Américas e não era considerada uma praga quarentenária pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil.

A cigarrinha africana é uma espécie oligófaga, o que significa que se alimenta de diversas plantas da família das gramíneas. Sua presença nas Américas foi inicialmente registrada no estado de Goiás, entre julho e novembro de 2022, quando amostras de L. maculigera, incluindo indivíduos jovens e adultos, foram coletadas e estudadas pela Universidade Federal de Goiás. Na ocasião, a cigarrinha africana foi associada a importantes culturas agrícolas, como milho, Brachiaria, capim-elefante, variedades de capim BRS Capiaçu e feijão. A identificação da espécie foi confirmada por meio de análises morfológicas das partes genitais masculinas do inseto.

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O segundo relato da presença da cigarrinha africana no Brasil ocorreu no Rio Grande do Sul, onde indivíduos semelhantes à cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) foram atraídos e capturados por armadilhas adesivas coloridas na estação experimental da CCGL, em Cruz Alta. Glauber Renato Stürmer, especialista em entomologia da CCGL, foi responsável por essa descoberta.

O estado do Paraná foi o terceiro a notificar a presença da cigarrinha africana no Brasil. A praga foi identificada em lavouras no município de Londrina (PR), no norte do estado, e amostras foram enviadas pelos técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) ao Laboratório de Entomologia Aplicada da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Devido à semelhança entre as duas espécies, é possível que elas sejam erroneamente categorizadas como "cigarrinhas do milho" durante inspeções de campo. Isso se deve, em parte, ao fato de a presença de L. maculigera ser uma novidade no Brasil. No entanto, as estratégias de manejo recomendadas para D. maidis também devem ser aplicadas para L. maculigera.

Fonte: Ferreira et al. (2023)

Estratégias de Manejo

O manejo eficaz dessas pragas requer uma abordagem integrada que combina várias estratégias:

Rotação de culturas: Alternar diferentes tipos de culturas na mesma área ao longo do tempo ajuda a interromper o ciclo de vida das cigarrinhas e de outras pragas, reduzindo sua população. Além disso, melhora a saúde do solo e reduz a necessidade de produtos químicos.

Escolha de híbridos tolerantes: Selecionar híbridos de milho que sejam resistentes à cigarrinha é uma estratégia valiosa, reduzindo a necessidade de intervenções químicas e aumentando a produtividade.

Redução da janela de semeadura (sobreposição da cultura): Plantar o milho em diferentes estágios reduz a janela de tempo em que as cigarrinhas podem infestar o campo, limitando seu período de alimentação e reprodução.

Eliminação do milho voluntário: Eliminar plantas de milho que crescem a partir de grãos caídos no solo evita que elas sirvam de hospedeiras para as cigarrinhas.

Tratamento de sementes: O tratamento de sementes com inseticidas protege as plantas jovens durante as fases iniciais de crescimento, quando são mais vulneráveis.

Aplicação foliar de produtos químicos associados com biológico a partir de V2: A partir do estágio V2 do milho, a aplicação foliar de produtos químicos em combinação com agentes biológicos pode ser eficaz no controle da cigarrinha.

Indutores de tolerância: O uso de indutores de tolerância nas plantas de milho ajuda a melhorar sua resiliência a pragas e doenças. Eles reforçam as defesas da planta e a tornam menos suscetível às cigarrinhas.

Equilíbrio nutricional entre macro e micronutrientes: Manter uma nutrição equilibrada nas plantas, com foco em nutrientes como cálcio e silício, torna as plantas menos atrativas para as cigarrinhas e melhora sua saúde geral.

Em resumo, o manejo eficaz das cigarrinhas do milho, incluindo a cigarrinha africana emergente, requer uma abordagem multifacetada que promove a saúde das plantas e reduz a dependência de pesticidas. Essas estratégias combinadas contribuem para uma agricultura mais sustentável e eficaz no combate a ambas as pragas.

O artigo foi enviado por Geraldo Gouveia, pesquisador e especialista técnico de campo em Agronomia do Centro Tecnológico Agrogalaxy (CTA)

Fontes pesquisadas:

Ferreira, K. R.; Bartlett, C. R.; Asche, M.; Silva, L. R. S.; Magalhães, V. S.; Gondinho, K. C. A. (2023). First record of the african species leptodelphax maculigera (stål, 1859) (hemiptera: delphacidae) in brazil. https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-2818951/v1

Koji, S.; Fujinuma, S.; Midega, C.A.O.; Mohamed, H. M.; ISHIKAWA, T.; WILSON, M. R.; ASCHE, M.; DEGELO, S.; ADATI, T.; PICKETT, J. A.; KHAN, Z. R. Seasonal abundance of Maiestas banda (Hemiptera: Cicadellidae), a vector of phytoplasma, and other leafhoppers and planthoppers (Hemiptera: Delphacidae) associated with Napier grass (Pennisetum purpureum) in Kenya. J Pest Sci 85, 37–46 (2012). https://doi.org/10.1007/s10340-011-0376-z

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