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Por que a alta do dólar impacta até o preço do pão no Brasil?

Trigo, fertilizantes e soja têm seus preços atrelados ao mercado internacional



Foto: Pixabay

Pela primeira vez desde o início de sua circulação em 1994, o dólar ultrapassou a marca histórica de R$ 6,00. Às 13h37 desta quinta-feira (28), a moeda registrava alta de 1,52%, cotada a R$ 6,003 na venda. O avanço reflete a reação negativa do mercado ao pacote de contenção de gastos e à reforma do Imposto de Renda, anunciados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A cotação recorde ocorre um dia após o dólar fechar a R$ 5,91, que já era o maior valor da história até então. Entre as medidas apresentadas no pacote está a isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil mensais, gerando preocupações sobre o impacto fiscal. Além disso, foram anunciados cortes de R$ 70 bilhões nos anos de 2025 e 2026, incluindo restrições no crescimento do salário mínimo, mudanças no abono salarial e a criação de uma nova alíquota de até 10% para rendimentos anuais superiores a R$ 600 mil.

A marca histórica do dólar não afeta apenas o mercado financeiro. De acordo com André Charone, mestre em negócios internacionais, o aumento da moeda americana tem reflexos diretos na inflação, no custo de vida e na competitividade econômica do Brasil.

“O Brasil é fortemente dependente de insumos importados para setores estratégicos, como combustíveis, medicamentos e produção industrial. Com o dólar acima de R$ 6,00, o custo desses produtos aumenta significativamente, pressionando a inflação e tornando os produtos básicos mais caros para a população”, afirma Charone.

Ele destaca o impacto nos combustíveis, que são cotados em dólar. “A alta do petróleo afeta não só quem tem carro, mas também o transporte público e a distribuição de produtos essenciais, como alimentos e medicamentos. Essa cadeia de aumento de preços pesa especialmente para as famílias de baixa renda”, explica.

A valorização do dólar encarece insumos agrícolas como trigo, fertilizantes e soja, refletindo diretamente no preço de alimentos básicos. “A alta do dólar faz com que o pão, o óleo e a carne fiquem ainda mais caros. Para as classes C, D e E, que já enfrentam dificuldades financeiras, o impacto é desproporcional”, analisa Charone.

A alta da moeda impacta o crédito, já que os juros podem ser elevados para conter a inflação, dificultando investimentos e o crescimento empresarial.

A marca histórica do dólar também traz desafios para a educação e a saúde. Cursos no exterior, livros e softwares importados se tornam ainda mais caros, limitando o acesso à educação internacional. Na saúde, o custo de medicamentos e equipamentos médicos importados aumenta, pressionando hospitais e clínicas e, em última instância, os consumidores.

Para Charone, o avanço do dólar a R$ 6,00 é um alerta sobre as incertezas econômicas. “A valorização da moeda reflete a falta de clareza sobre o impacto das reformas anunciadas e o aumento da percepção de risco fiscal. Precisamos entender essa dinâmica para criar políticas que minimizem os efeitos sobre as famílias e as empresas.”

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