Ministério da Agricultura quer lançar título no mercado externo para captar até US$ 10 bilhões. O Ministério da Agricultura estrutura dois instrumentos para captar recursos externos destinados a investimentos na agricultura brasileira, informou o secretário de Política Agrícola, Ivan Wedekin.
O primeiro é a criação das Letras de Comércio, título com lastro em produto agrícola com a ambição de captar até US$ 10 bilhões no exterior. O segundo é a formação de Fundos de Investimentos no Agronegócio (FIAs), reunindo interesses de investidores, agricultores e exportadores.
O Ministério da Agricultura quer desenvolver esses projetos no segundo semestre, tanto mais que a necessidade de capital de giro da agricultura é de R$ 88 bilhões por ano e o crédito rural só assegura 30% desse montante. O restante é financiado aos agricultores por exportadores e traders com juros muito altos, de 24% ao ano.
A captação de investimentos para a agricultura brasileira é essencial para poder se modernizar, reduzir custos de produção, ter produção diferenciada, melhor enfoque em certos mercados, e assim alcançar a projetada meta de superávit da balança agrícola de US$ 30 bilhões em 2010.
No ano passado, o agronegócio gerou saldo comercial de US$ 20 bilhões. Nos últimos doze meses, até maio, já pulou para US$ 23,3 bilhões, agregando portanto mais US$ 3,3 bilhões no saldo da balança comercial.
A idéia das Letras de Comércio, diz ele, será discutida proximamente com o Ministério da Fazenda. O dinheiro captado por empresas e governo federal por meio desses títulos servirá para financiar projetos agrícolas específicos.
Letras do Comércio
Wedekin exemplifica com a venda de títulos para os dekasseguis, os brasileiros de origem japonês que trabalham no Japão, que enviam até US$ 2 bilhões para o Brasil e também poupam no próprio Japão. A idéia é que o dinheiro captado assim no Japão iria para projetos de produtos agrícolas destinados a exportação ao mercado japonês.
A questão é porque alguém no exterior preferiria comprar Letras do Comércio quando pode comprar bônus soberanos do Brasil já com um dos rendimentos mais altos do planeta. Além disso, como se pode esperar exportar mais produtos agrícolas para o Japão, um dos países mais protecionistas do mundo, e onde até para exportar simples manga o Brasil espera um acordo há mais de 20 anos.
"O mercado vai dizer qual a atratividade das Letras de Comércio", retruca Ivan Wedekin, revelando que o pai da idéia é o economista Paulo Rabelo de Castro. O secretario estima que esse título pode captar de US$ 5 bilhões a 10 bilhões por ano.
A segunda idéia é a criação dos Fundos de Investimentos no Agronegócio (FIAs). É baseado nos Fundos de Investimentos Imobiliários, criados por empresas para a construção de prédios, por exemplo.
Wedekin conta que recentemente recebeu a visita em Brasília de um investidor norte-americano, proprietário da empresa Bar 20 Capital, que estrutura um fundo desse tipo nos Estados Unidos destinado a financiar a instalação no Brasil de alguns americanos interessados em plantar soja no Mato Grosso, onde a terra custa apenas 1/7 do preço norte-americano.
Jorge Maeda, um dos maiores produtores brasileiros de soja e de algodão, está interessado no projeto de FIAs, diz o secretário. Wedekin admite que um dos problemas de fundos agrícolas é a reputação abalada pelo fundo do boi gordo, que deixou um rombo enorme. "Mas os FIAs vão ter de ser registrados pelas empresas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)", diz Wedekin.