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Canaviais podem empobrecer o solo

Cultura da cana-de-açúcar pode fazer a terra perder seu poder de adubação em cinco anos



A cultura da cana empobrece o solo, alerta o biólogo e ambientalista Ivan Alexandre Ferrazoli, da ONG Instituto Ambiental Vidágua. Ele explica que o cultivo e queima da palha absorvem o material orgânico, empobrecendo o solo. “O adubo utilizado nessa cultura é a própria cana, que adicionada à queima da palha consomem o material orgânico.” Segundo ele, tudo aquilo que o solo necessita para ser considerado sadio, como fósforo, potássio, magnésio, nitrogênio e cálcio, o fogo acaba destruindo. “Além desses micronutrientes, também existe a microfauna dentro do solo. São pequenos insetos, pequenos anelídios que têm a responsabilidade de arear o solo, decompondo esse material orgânico para que isso se transforme em adubo novamente”, explica. Em cinco anos, período que as usinas arrendam as terras, o solo acaba perdendo esse potencial de adubação e reabilitá-lo para novas plantações vai exigir um investimento grande. “Quando o proprietário pegar a terra de volta para tentar desenvolver qualquer tipo de cultura, seja pastagem, cultura mista ou citros, vai ter que ter um incremento muito grande desses materiais”, aponta o ambientalista. Para Ferrazoli, a recomposição do solo naturalmente vai exigir um período grande. “O retorno desses materiais de forma natural é demorado, o que exige do agricultor despender recursos para fomentar esses materiais orgânicos, o que custa muito dinheiro. Se o arrendatário não tiver condições financeiras de fazer esse incremento através de compostos químicos, ele pode perder o potencial de produção do solo”, alerta. São por essas e outras razões que as vantagens aparentes no arrendamento de terra à cultura de cana-de-açúcar podem se tornar um pesadelo no final do contrato, alerta o zootecnista Mário Coelho Aguiar, proprietário de uma empresa de consultoria em Botucatu. “Uma monocultura não tem uma biodiversidade. A usina explora e devolve a terra. Não é uma área deles, o que eles colocaram vão procurar tirar, não deixam a terra completamente exaurida, porém a infra-estrutura eles não devolvem.” Supondo que o proprietário queira retornar com a pecuária terá que investir. “Para a plantação de cana, as usinas querem a terra e retiram os cochos, bebedouros, etc”, completa. Cláudio Silveira Brisolara, engenheiro agrícola da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) frisa que dados do setor são divulgados a todo momento e que a federação se baseia em levantamentos da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo (Conab). Para ele, a área a ser expandida no Estado de São Paulo perfaz cerca de 10 milhões de hectares. “A nossa preocupação é que essa expansão seja planejada, respeite as leis ambientais e promova o desenvolvimento no meio rural”, defende. Efeito estufa O cultivo da cana-de-açúcar também prejudica a qualidade do ar, especialmente na época da seca, explica o biólogo e ambientalista Ivan Alexandre Ferrazoli, da ONG Instituto Ambiental Vidágua. “A baixa umidade do ar somada à queima da palha favorecem o aumento do efeito estufa, porque a queima emite uma quantidade muito grande de gás carbônico na atmosfera”, diz. Ferrazoli lembra que em regiões onde o cultivo da cana ocupa áreas muito grandes os hospitais vivem lotados de moradores com problemas respiratórios. “Aqui em Bauru ainda não é tanto, mas na região de Ribeirão Preto, Barra-Bonita e Jaboticabal há um grande número de leitos hospitalares ocupados com este tipo de doente”, exemplifica. O ambientalista admite que o governo tem demonstrado preocupação com a questão, mas toma medidas muito paliativas. “A população fica sem ação, porque é o mesmo governo que incentiva a construção de pequenas usinas de açúcar e álcool. Como a população pode se articular para tentar impedir a queimada se a própria política pública incentiva essa produção?” questiona.

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