Apesar de o país estar em plena colheita de uma safra recorde de 51 milhões de toneladas de soja, os produtores brasileiros não estão conseguindo aproveitar a recente disparada das cotações do grão na bolsa de Chicago. A valorização do real - outro importante fator na formação de preços no mercado interno - está erodindo o ganho obtido no mercado internacional. Com isso, o produto registra alta em Chicago e queda no Brasil.
Desde 24 de março, quando começou a atual curva ascendente na bolsa americana, o contrato de maio acumula ganho de 5,5%. Maio bateu na terça-feira (08-04) seu recorde histórico e fechou a US$ 6,01 por bushel. Em compensação, o dólar caiu 6,32% em relação ao real no intervalo. Com isso, a cotação da saca de soja cedeu no mercado interno.
Também desde 24 de março, a queda chega a 10% em Cascavel (PR), para R$ 36,0, 3% no porto de Paranaguá (PR), para R$ 42,30, e 3% em Cuiabá (MT), para R$ 31,50, conforme a Céleres/MPrado. "No Centro-Oeste, a queda é mais lenta, pois a colheita está atrasada devido ao excesso de chuvas", explica Anderson Galvão, da Céleres.
Conforme analistas, fatores estruturais e alguns acontecimentos inesperados explicam a recente explosão em Chicago. Entre as "surpresas", estão o acordo fechado entre Estados Unidos e Rússia para exportação de frango, que deve estimular o consumo de farelo, e o pedido de doação de óleo de cozinha ao Iraque, feito pela Organização das Nações Unidas (ONU).
"Mas, estruturalmente, o mercado pode continuar sustentado até julho, devido à forte demanda internacional, principalmente da Ásia", diz Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Mesmo com baixos estoques e em fim de safra, os EUA mantêm o ritmo das exportações.
Os analistas esperam que o Departamento de Agricultura do país (USDA) eleve sua previsão para os embarques americanos e reduza mais os estoques em seu próximo relatório de oferta e demanda, que será divulgado na quinta-feira (10).
Para Flávio França Jr, da Safras & Mercado, o mercado futuro de soja deve ficar bastante volátil nos próximos meses em virtude do início do chamado "weather market". "O clima está muito irregular nos EUA e isso pode atrapalhar o início do plantio naquele país", afirma.
Com a retração dos preços domésticos, a comercialização é lenta no Brasil. "A queda do dólar gerou uma sensação de insegurança para o produtor e travou ainda mais os negócios", afirma Roberto Petrauskas, superintendente de comercialização da Cooperativa Agropecuária Mourãoense (Coamo).
Mas, apesar das perdas das últimas semanas, os preços praticados hoje em Cascavel, por exemplo, estão 73,5% acima do patamar do mesmo período do ano passado. Para muitos produtores, não é o bastante. Capitalizados e após vender antecipadamente boa parte da safra, eles resistem em fechar negócios agora e preferem esperar.
É o caso de Vilson Vian, que plantou 25 mil hectares no Mato Grosso e vendeu 30% da produção antecipadamente. "Os preços estão bons, mas estou apostando no segundo semestre". Vian lembra que a soja saltou de R$ 28, em julho, para mais de R$ 50 no fim de 2002, impulsionada pelo câmbio. Os especialistas alertam, porém, que o cenário atual indica queda do dólar.