Brasil tem potencial para cumprir meta climática com práticas sustentáveis, avalia Cuthi Dias
Matriz energética do Brasil é uma das mais limpas do mundo
O compromisso assumido pelo Brasil durante a COP29 é ambicioso: reduzir em 67% as emissões de gases de efeito estufa até 2035, tomando como base os níveis de 2005. Em entrevista ao Portal Agrolink, o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias destacou que, embora o desafio seja significativo, o Brasil possui o potencial necessário para alcançar – e até superar – essa meta.
Segundo Dias, a principal fonte de emissões no Brasil está relacionada ao desmatamento e às mudanças no uso do solo. "Quando desmatamos, retiramos madeira e queimamos as áreas, estamos contribuindo diretamente com 50% das emissões do país. Resolver essa questão é mais um problema legal do que ambiental. Precisamos punir quem desmata ilegalmente e avançar com políticas públicas que incentivem a preservação", afirmou.
Energia limpa e transporte eficiente
O Brasil já possui uma vantagem importante: sua matriz energética é uma das mais limpas do mundo, com 90% da energia elétrica proveniente de fontes renováveis, como hidrelétricas, energia solar e eólica. Contudo, o transporte rodoviário, que responde por grande parte das emissões, continua sendo um gargalo.
Dias enfatizou a necessidade de investimentos em ferrovias e hidrovias. "Temos apenas 30 mil quilômetros de ferrovias em um país de dimensões continentais. O Mato Grosso, por exemplo, avançou no transporte fluvial com barcaças, mas precisamos agilizar a construção de ferrovias e terminais multimodais para reduzir a pegada de carbono no transporte de cargas", explicou.
Agricultura como aliada no combate às emissões
A agricultura brasileira, apontada como referência mundial, também pode ser uma aliada essencial na redução de emissões. Práticas como o plantio direto e o uso de produtos biológicos são exemplos de inovação sustentável no setor. O país conta com 14 milhões de hectares de plantio direto, o maior índice global. Além disso, a fixação biológica de nitrogênio já é amplamente usada na cultura da soja, evitando o uso de fertilizantes nitrogenados que liberam óxido nitroso, gás com alto impacto ambiental.
"A expansão dessas práticas para outras culturas, como milho, cana e pastagens, tem potencial para reduzir significativamente as emissões do setor agropecuário", ressaltou Dias. Ele também rebateu críticas ao gado como vilão ambiental. "Bem manejadas, as pastagens se tornam aliadas no sequestro de carbono, transformando a pecuária em uma atividade sustentável", afirmou.
Remuneração por preservação e carne carbono neutro
Para avançar na preservação ambiental, Dias sugere remunerar produtores rurais que mantêm áreas florestais preservadas, evitando o desmatamento. Ele também destacou iniciativas como a carne carbono neutro, desenvolvida em parceria com a Embrapa. "Diminuir a idade de abate e integrar árvores às pastagens são estratégias que reduzem as emissões na pecuária", explicou.
Consciência e ação coletiva
A colaboração entre setor privado, governos e produtores é essencial para atingir as metas climáticas. "O planeta só será salvo com o engajamento de todos. O Brasil já lidera o uso de alternativas biológicas e pode se tornar referência global. Precisamos expandir essa consciência e levar mais informações ao produtor rural", concluiu Dias.