Brasil e Índia acertam uma aliança na Organização Mundial do Comércio (OMC) para tentar garantir o fim dos subsídios dos países ricos ao setor agrícola. Os dois governos passaram o dia de ontem (18-08) negociando o texto de uma proposta que prevê um amplo corte do apoio às exportações e uma fórmula flexível de acesso ao mercados. China, Quênia e outros países africanos podem aderir ao acordo nos próximos dias.
"Estamos trabalhando em um documento que irá dar movimento às negociações da OMC", afirmou o embaixador do Brasil em Genebra, Luiz Felipe Seixas Correa, depois de mais de seis horas de reuniões com alguns dos principais parceiros comerciais do país.
Na semana passada, Washington e Bruxelas apresentaram uma proposta de acordo agrícola para tentar desbloquear as negociações na OMC, a poucas semanas da reunião ministerial da organização, em Cancún. O texto, porém, não agradou aos países em desenvolvimento que, liderados pelo Brasil, iniciaram consultas sobre uma possível alternativa.
No caso da proposta brasileira, o texto incluiria pelo menos três pontos: acesso a mercados, subsídios à exportação e apoio doméstico. Nos dois itens relacionados ao financiamento dos agricultores europeus e americanos, o texto pretende propor um profundo corte. Já no que se refere ao acesso a mercados, o objetivo do novo texto é encontrar um equilíbrio entre as preocupações da Índia, importadora de alimentos, e do Brasil, um dos mais competitivos exportadores do mundo.
"Essa aliança está sendo montada para ter peso suficiente para bater de frente com os Estados Unidos e a União Européia (UE) e conseguir pelo menos tirar alguma vantagem", afirmou um experiente negociador da OMC, que não escondia seu entusiasmo com a aproximação entre Nova Délhi e Brasília.
Além dos dois países, os chineses estão sendo consultados para que também se unam ao grupo. Quênia, Egito e outros países em desenvolvimento também estão sendo procurados pela delegação brasileira em Genebra. Mas, por enquanto, os únicos países que indicam questão ao lado do Brasil e da Índia são os demais membros do Mercosul.