Brasil discute certificar adjuvantes
Certificação seria por qualidade, funções e características comprovadas
Os adjuvantes são produtos adicionados à calda de pulverização que podem gerar diversas ações, como reduzir a deriva, aumentar a cobertura dos alvos, reduzir a evaporação e alterar o espectro de gotas, entre outras funcionalidades. De acordo com as particularidades e características de cada adjuvante, a sua interação com os demais componentes da calda pode modificar as propriedades químicas e físicas da solução, com grande potencial de interferência no desempenho do tratamento fitossanitário.
Diante da gama de funções que podem ser desempenhadaspelos adjuvantes e da escassez de informações seguras sobre essas funcionalidades, o mercado de tecnologia de aplicação no Brasil vem discutindo a possibilidade de adoção de um sistema de certificação que comprove a funcionalidade destes produtos, a exemplo do que já existe em outros países, como Estados Unidos.
Uma certificação funcional de adjuvantes pode ser rapidamente implementada com base nos ensaios de rotina realizados pela maioria dos laboratórios públicos e privados que já atuam no mercado de tecnologia de aplicação. Como exemplos, as avaliações de espectro de gotas(analisadores de partículas), de deriva (túnel de vento) e de uma série de características físico-químicas das caldas representam a rotina diárias desses laboratórios, e podem ser a base para a implementação imediata de um processo certificatório.
O objetivo dessa certificação seria oferecer informações com base científica sobre as características funcionais de cada adjuvante, trazendo maior segurança e confiabilidade quanto ao desempenho desses produtos, beneficiando usuários e a cadeia de distribuição, além de permitir que os próprios fabricantes possam posicionar seus produtos no mercado de maneira mais assertiva.
Atualmente, pesquisadores da área de tecnologia de aplicação que representam instituições de renome como a UNESP (Universidade Estadual Paulista), a UFU (Universidade Federal de Uberlândia), o IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e a UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná) participam um grupo de trabalho que está discutindo os caminhos para implementar essa certificação. Dentre as propostas em análise está a da criação de um Conselho com representantes dos principais segmentos interessados nos adjuvantes, o qual atuaria em conjunto com os pesquisadores para desenvolver a proposta de certificação.
Vários caminhos estão sendo discutidos, sendo consenso a importância do engajamento da cadeia industrial com interesse no mercado de adjuvantes (fabricantes de componentes químicos e formuladores de adjuvantes), a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Naquele país há uma certificação voluntária de adjuvantes coordenada por um conselho que congrega representantes de diferentes segmentos, contando com expressiva participação da indústria e dos canais de comercialização. Esta certificação é a referência que os consumidores utilizam para selecionar os adjuvantes de sua preferência, ajudando assim a construir uma relação de confiança entre fabricantes, canais de comercialização e consumidores.
* Ulisses Rocha Antuniassi - professor titular do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP, Campus de Botucatu/SP.