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Biagi deixa comando da Santa Elisa



Após três anos de procura, companhia contrata Joamir Alves, ex-Bombril, para a superintendência. Finalmente, após mais de três anos de procura e de três tentativas malsucedidas, Maurílio Biagi Filho encontrou um executivo para assumir a superintendência da Companhia Energética Santa Elisa. Joamir Alves, ex-superintendente da Bombril S.A. e sócio da consultoria Option Serviços Financeiros S/C Ltda., de São Paulo, substituiu Biagi no comando da usina em 21 de julho.

O empresário continua no conselho de administração e dedicará mais tempo ao trabalho institucional e de representação que faz na companhia e outras empresas nas quais permanece diretor, além de quase uma dezena de entidades de classe. "O corpo gerencial da Santa Elisa é fantástico. Para completar o processo de consolidação, iniciado há cinco anos, só faltava a cabeça, que finalmente encontramos", diz Biagi. Aos 60 anos, desde os 15 trabalhando na usina, "com carteira assinada", Biagi diz que já estava "aflito" para encontrar a pessoa certa. "Preparamos a empresa para a mudança, mas o executivo não aparecia e já estava passando da hora."

Biagi deixa para o seu sucessor uma empresa modernizada e com perspectivas otimistas de crescimento e receita operacional líquida da ordem R$ 400 milhões no último ano fiscal. Para Joamir Alves, o novo executivo, a Santa Elisa já é uma empresa profissionalizada. "Da família, só tinha o Maurílio na diretoria executiva", diz Alves, que pretende reduzir mais os custos fixos. Embora o resultado líquido tenha sido negativo no último ano - devido a passivos próprios e de empresas controladas -, a Santa Elisa registrou um lucro operacional antes de impostos, juros, depreciações e amortizações de R$ 79,2 milhões.

A liquidez corrente, segundo Alves, é de 1,47, ou seja, para cada R$ 1 devido no curto prazo a empresa tem no circulante R$ 1,47.

Biagi nasceu, passou parte da infância e da juventude na Santa Elisa, saiu para estudar e, casado, voltou para morar com a mulher na usina, localizada em Sertãozinho (SP), cidade vizinha de Ribeirão Preto. Na Santa Elisa, também nasceram e moraram seus quatro filhos. "Vou sentir a mudança, e muito. Foi uma vida inteira dedicada à empresa. Minha readaptação tem que ser paulatina", diz. "Mas, o afastamento físico da usina, imediato, para abrir o espaço devido a quem chega", afirma, deixando claro que estará à disposição do novo executivo.

Depois de 45 anos trabalhando na Santa Elisa, 30 deles em funções administrativas, o empresário preparou sua saída por quatro anos, período em que passaram pela companhia, sem sucesso, três executivos indicados por "head hunters". "Foi tão árdua essa preparação, enxugamos tanto a cúpula, que, nos dois últimos anos, eu e o Henrique Gomes (o único diretor remanescente) nem pudemos tirar férias ou ficar doentes", conta. Nesse período, as áreas de produção (industrial e agrícola) foram totalmente reformuladas. Conhecido por trabalhar até altas horas da noite, inclusive fins de semana e feriados, Biagi reconhece que sua "personalidade forte" atrasou o processo de mudança.

O nome de Joamir Alves, já conhecido do empresário, foi sugerido pela irmã, Edilah Maria, e aceito por todos acionistas. Paulistano de 48 anos, Alves deixou a Bombril há um mês e meio. O maior desafio será completar o saneamento da empresa e fazer a transição familiar, ou seja, encontrar entre os herdeiros a pessoa mais competente para assumir um cargo de direção e liderança.

Filho mais velho do legendário Maurílio Biagi - falecido em 1978, homem que construiu dezenas de empresas nos setores de açúcar e álcool, bens de capital e bebidas -, Biagi Filho continua diretor da Usina MB, de Morro Agudo, e presidente de outras duas empresas do setor, a Usina Moema, de Orindiúva, e a destilaria Cevasa, de Patrocínio Paulista. No total, Santa Elisa, MB, Moema e Cevasa devem moer nesta safra mais de 13 milhões de toneladas de cana - a produção brasileira é estimada em 330 milhões de toneladas -, o que faz da família Biagi uma das maiores produtoras de açúcar e álcool do País.

Além das usinas e destilarias, a família Biagi controla três engarrafadoras Coca-Cola - em Ribeirão Preto, Sorocaba (SP) e Uberlândia (MG) - e o remanescente da Zanini S.A. Equipamentos Pesados, braço do setor de bens de capital da família, formado por Sermatec, fabricante de caldeiras em Sertãozinho, e Renk-Zanini, produtora de redutores especiais em Cravinhos (SP), líderes em seus segmentos.

No momento, a família Biagi inicia um processo de tratativas que deverá envolver acordos de acionistas e, possivelmente, a criação de uma holding. Conduzido por Luiz Biagi, irmão de Maurílio, a reorganização visa fortalecer as companhias da família. No passado, enquanto Luiz Biagi esteve à frente das companhias de bens de capital, Maurílio liderou as sucroalcooleiras e de bebidas. "Ele no setor de bens de capital, eu no agronegócio e ‘soft-drinks’, trabalhávamos juntos e nos completávamos", diz Maurílio. "Agora, espero voltar à parceria com Luiz."

Em 1998, quando o setor sucroalcooleiro passou pelo pior momento de sua história - o preço do álcool chegou ao fundo do poço, vendido a até R$ 0,14 o litro -, Biagi investiu, em parceria com produtores rurais, R$ 50 milhões na construção da destilaria Cevasa. Vários usineiros chegaram a dizer que era "loucura" investir naquele momento, mas, dois anos depois, o preço do álcool se multiplicou e a Cevasa ainda colhe os frutos da decisão por muitos considerada arriscada. Agora, Biagi tem projeto semelhante, a ser conduzido por ele, para a Santa Elisa, em outra região.

A Santa Elisa investiu R$ 50 milhões para dobrar e modernizar a produção de energia a partir do bagaço da cana. Na próxima safra, a usina vai gerar 57 Mega Watts (MW), sendo 30 MW para venda à Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), por dez anos, o que renderá, em valores atuais, R$ 18 milhões por ano à empresa. Biagi também deixa pronto, esperando o contrato de fornecimento, sem o qual não tem financiamento, a segunda etapa do projeto de co-geração, que elevará a produção para quase 80 MW. "Se o Brasil não andar para trás, teremos problemas com energia a partir de 2004", prevê, justificando a importância ao projeto de co-geração.

A Santa Elisa tem ainda unidades de produção de álcool neutro especial, que Biagi executou em parceria com o empresário e amigo Mário Amato, de mistura alcoólica usada em bebidas, de melaço em pó usado como ração animal e de açúcar líquido invertido. O setor agrícola da usina, debilitado pela última crise, está quase recuperado. Deverá retomar, nas duas próximas safras, a antiga produtividade de 100 toneladas de cana por hectare. Biagi também deixa um plano de adequação ambiental, em fase adiantada, em todas as áreas próprias, de parceria e de fornecedores de cana da companhia.

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