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Aumenta plantio de soja e recua o de milho no país


Cotações internacionais da oleaginosa subiram 32% nos últimos três meses com notícias de queda na safra americana. Mais uma vez os bons preços da soja, que acumula alta de 32% em Chicago nos últimos três meses, estimulam o produtor brasileiro. As estimativas iniciais são de que a produção brasileira atinja o volume recorde de quase 60 milhões de toneladas, um aumento de 12% em relação ao desempenho da safra atual. A perspectiva é de que haja elevação da área de soja em detrimento do milho.

"Desde julho, a safra norte-americana foi revisada para baixo em 10 milhões de toneladas e os preços subiram bastante", avalia Stael Prata Silva Neto, analista da FNP Consultoria. A empresa de consultoria prevê para a região Centro-Oeste aumento de 10% na área de plantio, devendo alcançar cerca de 9 milhões de hectares. Para a colheita, a FNP prevê agora que a safra ultrapasse 58,5 milhões de toneladas de soja. Em julho, as estimativas oscilavam em torno de 56,4 milhões de toneladas.

Já as projeções da Safras & Mercado em julho apontavam para de 7,6% na área de soja nesta, para 19,5 milhões de hectares, mas os números vão ser revistos.

Centro-Oeste

No coração do Mato Grosso o plantio da safra de verão 2003/04 já começou. O município de Nova Mutum, um dos mais importantes centros de produção do estado, vai cultivar este ano 10% a mais, alcançando 300 mil hectares de soja.

"Começamos o plantio há duas semanas e até o momento o clima tem sido bastante favorável", diz Alcindo Uggeri, presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum. A produtividade média esperada para este ano deve oscilar entre 52 e 55 sacas por hectare. "No ano passado, a produtividade foi de 52 sacas", diz. Além de ser um dos primeiros municípios brasileiros a iniciar o plantio de soja, Nova Mutum já tem 60% da nova safra comercializada.

"Neste ano houve grande antecipação das compras." Na região até o momento os grandes financiadores da produção estão sendo as companhias ADM e Bunge.

No município de Primavera do Leste, também no estado do Mato Grosso, o produtor Luís Goellner vai semear este ano 1.600 hectares de soja e 1.800 hectares de algodão. "Vamos iniciar o plantio em 15 de outubro e desistimos de plantar milho para aumentar a área de algodão", diz. Com praticamente toda a safra de algodão negociada, 200 hectares que inicialmente seriam destinados ao cultivo de milho serão incorporados pelo algodão. O clima registrado no estado tem favorecido o plantio.

"Ocorreram algumas chuvas e agora é o momento para começar o plantio antes que as chuvas se firmem. Queremos evitar a ‘ferrugem’ das lavouras", diz Goellner.

Já no estado de Goiás, o plantio está atrasado. "Deveríamos ter iniciado o plantio de milho há dez dias, mas a ausência de chuvas está atrasando a germinação das ervas", diz Maurício Miguel, agrônomo da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo). Na área de ação da cooperativa, que abrange 800 mil hectares, as estimativas são de aumento entre 10% e 15% na área de cultivo de soja, que se situou entre 720 mil e 750 mil hectares em 2002 e ligeira redução na área de milho, que somou 60 mil hectares.

"Na região o período da safrinha supera o dobro do ciclo tradicional." A verba liberada pelos bancos já foi consumida e deve responder por 20% do custeio, "o restante está sendo financiado pelas tradings". As vendas antecipadas estão mais lentas porque em 2002 elas foram em grande volume e os produtores se surpreenderam com o aumento dos preços.

As estimativas da Safras & Mercado apontam para retração de 1% na área de cultivo de milho no Mato Grosso, para 180 mil hectares, de 2,9% em Goiás, para 630 mil hectares e de 3,5% para Mato Grosso, para 118 mil hectares.

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz, a área vai crescer 8% em relação a 2002, para 1,028 milhão de hectares, conforme o Instituto Riograndense do Arroz (Irga). O diretor da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Marco Aurélio Tavares, diz que o aumento de área tanto nas lavouras gaúchas quanto no Centro-Oeste deve levar a uma produção de 11,5 milhões de toneladas, o equivalente ao consumo brasileiro.

No Rio Grande do Sul, a safra deve chegar a 5,5 milhões de toneladas. Tavares, também conselheiro do Irga, lembra que o clima deve ser favorável às lavouras, mas existe a possibilidades de precipitações abaixo da média no verão. Com isso, a recomendação é planejar a lavoura com a água disponível nos rios e reservatórios, sem contar com as chuvas.

A soja também deve avançar em relação à área de milho no Rio Grande do Sul. Na região de abrangência da Cooperativa Regional Tritícola Serrana (Cotrijuí), no Noroeste Gaúcho, a extensão das lavouras de milho deve baixar de 30 mil para 24 mil hectares. A diferença será destinada à soja, que no ano passado ocupou 268 mil hectares. O gerente técnico da Cotrijuí, Jair Mello, diz que além da prevista remuneração superior a perspectiva de baixa precipitação nos próximos meses reforçou a escolha pela soja.

"O milho representa um risco maior por ser mais suscetível à falta de água." No Planalto Médio, a tendência é a mesma. O supervisor da Cooperativa Tritícola Taperense (Cotrisoja), Iedo Luiz Viero, diz que, em Tapera e em outros três municípios da região onde tem a atuação mais tradicional, a área de 6 mil hectares de milho terá queda de 20%, perdendo espaço para a soja. Viero diz outra razão para o avanço da soja. "Com a liberação dos transgênicos, o custo de produção fica bem menor". No caso do milho, cerca de 80% da área de milho já foi plantada. Na soja, a maior movimentação ocorre a partir da segunda quinzena do mês.

Paraná

O Paraná, um dos maiores produtores de soja do País, que colheu 10,9 milhões de toneladas na última safra, deverá ampliar em 6,6% a área. A expectativa é da Secretaria da Agricultura do estado, cujos levantamentos indicam que as lavouras devem alcançar 3,86 milhões de hectares. Desde a safra 2001, a área de soja no Paraná cresceu 35%, ou, 1 milhão de hectares.

O aumento no plantio da soja se dará com o avanço sobre as áreas de milho. "Os produtores priorizam a soja pelo preço mais estável, maior liquidez e ainda menor riscos de produção", diz Otmar Hubner, técnico da secretaria. Com novo aumento na área da soja, a produção deverá crescer para volumes entre 11,1 milhões de toneladas e 12,1 milhões de toneladas.

"No caso do milho, espera-se uma diminuição da ordem de 9,8% na área, que cai de 1,47 milhões de hectares para 1,33 milhões". Esta é a menor área de milho da safra normal de uma série histórica de 35 anos. Com isso, a expectativa é de que a produção alcance 7,2 milhões de toneladas, redução de 13,7%.

Para se ter uma idéia, a área da safrinha de milho 2002/03 foi superior à área que será plantada na safra normal. Essa redução é atribuída também ao desestímulo em relação às vendas, principalmente à falta de liquidez e a instabilidade dos preços, fato que se repetiu durante a comercialização da safra 2002/03.

Com relação à safra passada, os levantamentos indicam que 74% da soja já foi vendida, um volume um pouco abaixo do que se verificou no mesmo período do ano passado, quando 90% da produção havia sido vendida. O mesmo ocorre com o milho, cujo levantamento indica que 80% da produção foi vendida.

Os produtores paranaenses contam com recursos da ordem de R$ 2,3 bilhões para o custeio da safra de verão 2003/04, incluídas aí as mais diversas fontes de financiamentos. Segundo Francisco Carlos Simioni, técnico da secretaria, no balanço geral o fluxo de recursos está normal, à exceção das linhas destinados à agricultura familiar.

Isso significa que o volume de recursos liberados até agora está na casa dos 30% a 35% do volume total programado que é de R$ 234 milhões (incluídos os produtores dos grupos C – Pronafinha, e Grupo D). "O volume liberado deveria estar na casa dos 45% ou mais."

Segundo ele, as mudanças adotadas na implantação dos "Contratos de Financiamento de Custeio" (CFC), em substituição das "Cédulas de Financiamento Rural" (CFR), geraram problemas operacionais. "Os problemas foram de ordem técnica em algumas localidades. Por esse motivo, decidiu-se, em caráter de urgência, voltar a trabalhar com as CFR nesses locais, para tentar recuperar o ritmo de liberações", disse o técnico.

Minas Gerais

Os produtores rurais de Minas Gerais também vão ampliar o plantio de soja no estado nesta safra e reduzir o cultivo de milho. Segundo Ma Tien Min, presidente da comissão de grão da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), os agricultores do Triângulo Mineiro e Noroeste do estado, principais regiões de cultivo desses produtos, devem seguir a tendência nacional de queda entre 5% e 10% no plantio de milho e aumento acima desses índices para a soja.

"Ainda é cedo para mensurarmos esse fenômeno no estado, mas todos o produtores que ouvimos irão seguir essa tendência, inclusive eu que plantava mais milho do que soja inverterei a proporção neste ano."

Segundo dados da Faemg, na safra 2003 foram colhidas 5,3 milhões de toneladas de milho em uma área de 1,27 milhão de hectares e 2,29 milhões de toneladas de soja em 870 mil hectares. Os técnicos da entidade acreditam que os números serão bem diferentes na próxima safra, a favor da soja.

kicker: As estimativas indicam alta de 12% na próxima safra para quase 60 milhões de toneladas

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