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As vantagens do controle biológico com Trichoderma

Fungo é grande aliado contra doenças em culturas agrícolas



Foto: Pixabay

O Trichoderma é um fungo encontrado no solo, em diversas regiões e climas do mundo. Ele coloniza madeira em decomposição, cogumelos e orelhas de pau, além de atuar contra outros fungos que representam ameaça para diferentes espécies de plantas. Aí está sua importância na agricultura. Ele é considerado, inclusive, um dos mais importantes agentes biológicos no controle de doenças em pelo menos 14 culturas diferentes como como soja, algodão, milho, café, hortaliças e fruticultura.

Ele age contra patógenos que atacam diversas culturas como Fusarium spp. (podridão vermelha da raiz), Sclerotinia sclerotiorum (mofo branco) e Rhizoctonia solani (podridão radicular). Existem desde formulações líquidas até sólidas. Quanto ao custo de aplicação na soja varia de um saco a um saco e meio por hectare, semelhante a aplicação de fungicidas químicos. 

Resultados em mofo-branco

O Sclerotinia sclerotiorum, por exemplo, é o causador do mofo-branco na soja. A Embrapa estima que aproximadamente 10 milhões de hectares (1/3 da área total) de cultivo da oleaginosa estejam infestados pelo fungo que pode causar perdas de produtividade na casa dos 70%. 

Ensaios realizados em diferentes regiões produtoras do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul, por instituições de pesquisa públicas e privadas, mostram que somente o controle químico não tem funcionado, tendo a necessidade de introdução de um produto biológico para combater o fungo causador na entressafra. A palhada que fica sobre o solo aumenta a matéria orgânica, que serve de substrato para o Trichoderma, e a manutenção de umidade e redução da temperatura superficial do solo, condições fundamentais para o estabelecimento do agente de controle biológico. Com a colonização, o Sclerotinia sclerotiorum encontra seu vilão.

De acordo com o professor Sérgio Mazaro, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), na soja os resultados de pesquisa mostraram bons resultados nos patógenos mais agressivos. “Além da ação direta o Trichoderma age de várias formas e ativa os mecanismos de defesa da planta que, além de combater o patógeno, pode auxiliar a defesa de outros patógenos foliares”, explica. 

Incentivo x desafios aos biológicos

Com o recente lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos, pelo Ministério da Agricultura, espera-se um avanço na pesquisa e desenvolvimento de novas soluções que terão como base a biodiversidade brasileira, o que inclui fungos. Uma consulta pública do Mapa, inclusive está aberta para atualizar a legislação de registros de bioinsumos.

Segundo a consultoria Markets & Markets o mercado mundial de biopesticidas cresce 15% ao ano,com expectativa de atingir U$ 16,7 bilhões nos próximos quatro anos. No Brasil, o mercado de biológicos também está em expansão. As vendas destes produtos saltaram de R$262,40 milhões, em 2017, para R$ 464,5 milhões, em 2018, o que representou um avanço de 77%, segundo levantamento feito pela CropLife Brasil. Nos biofungicidas o incremento foi de 148%, em 2018.

Hoje existem, pelo menos, 246 produtos biológicos à base de Trichoderma registrados em diferentes países. Dentre as várias espécies presentes na natureza, o Trichoderma harzianum é a mais comumente empregada no controle biológico de doenças de plantas, presente em 38% dos produtos. 

Mas também há desafios a serem superados para que o mercado de biopesticidas cresça,mantendo qualidade e eficiência. Um dos principais é o ajuste entre a produção em escala e a logística de distribuição e de transporte, pela dimensão territorial do Brasil. “Temos desafios desde arroz e uva no Sul até melão no Nordeste e soja nas diferentes regiões. O Brasil é muito grande então temos que adequar as regiões sabendo que o produto é um organismo vivo e precisa chegar bem ao campo, seja para tratamento de semente ou aplicação foliar”, destaca Juliano Cesar da Silva, gerente de assuntos regulatórios da Biotrop. 

Outro aspecto a ser melhorado é a aplicação no campo. O fungo deve ser mantido em condições especiais de temperatura e umidade e seguir as recomendações de aplicação para manter o poder de atuação.

Por fim a realização de mais pesquisas para definir dosagem, formas de aplicação, condições ambientais no momento da aplicação, condição de cobertura de solo, compatibilidade de aplicação com outros produtos, é fundamental para melhorar o potencial.

Publicação reúne todas as informações sobre o Trichoderma 

Presença no mundo, usos na agricultura, como aplicar de acordo com patógeno e alvo, como observar questões ambientais e de palhada para uso efetivo, racional e sustentável. Mercado global e brasileiro. Todas essas informações estão reunidas na publicação "Trichoderma - uso na agricultura", lançada nesta terça-feira (23), em uma coletiva de imprensa virtual. 

A publicação é editada pela Embrapa e tem como autores o pesquisador da Embrapa Soja  e especialista em Proteção de Plantas, Maurício Conrado Meyer, o professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e especialista em Fitopatologia, Sérgio Miguel Mazaro  e pelo gerente de assuntos regulatórios da Biotrop.e especialista em Proteção de Plantas, Juliano Cesar da Silva (Biotrop). 

“Esperamos que sirva de incentivo para pesquisas mais aprofundadas no futuro, pois ainda há muito o que estudar", explica Meyer. Já para Silva o Brasil está na frente de muitos países na questão dos biológicos. “O Brasil vem alavancando o controle biológico no mundo e acredito que tem potencial para expandir ainda mais”, destaca Silva. 

Para Mazaro a tendência é mundial. “Na Europa vemos redução de químicos e avanço de biológicos. Para nossa exportação é fundamental ser mais efetivo em uso de soluções naturais. Cada vez mais os produtos exigem rastreabilidade. Não tenho dúvida que seremos o país que mais vai usar”, finaliza.

A publicação é gratuita e pode ser baixada nesse link


 

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