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AS EXPORTAÇÕES, A BALANÇA COMERCIAL E NOSSO PRAGMATISMO



Por Humberto Barbato 21/02/2003

O ano de 2002 terminou com a balança comercial apresentando superávit de US$ 13,093 bi, o maior desde 1993, as exportações atingiram a cifra record de US$ 60 bi, o crescimento das exportações brasileiras foi de 3,3% em valores reais, em quantidades absolutas o crescimento foi de 6,8%. A intervenção protecionista dos americanos e da União Européia, principalmente nas commodities agrícolas, através de sua política de subsídios, propiciou que não obtivéssemos os melhores preços.

O comércio global no ano passado teve um crescimento em transações comerciais de 2,9%, segundo o Banco Mundial. Portanto, se crescemos 6,8%, significa que crescemos verdadeiramente nas exportações, ou seja, deslocamos alguém do mercado, mesmo considerando-se a importante queda de vendas brasileiras junto a Argentina, por razões conhecidas por nós brasileiros.

Durante todo o segundo semestre do ano passado, ao final de cada mês, vi, lí e também ouvi, um sem número de analistas econômicos informarem que os superávits alcançados eram fruto muito mais da diminuição de importações e não do crescimento de exportações. Confesso que nunca concordei com tais afirmações, afinal conheço o esforço de muitos exportadores brasileiros, e, além disso, me sentia um tolo, afinal, com taxas de câmbio ao redor de R$ 4,00 por dólar, qual a empresa que tendo um pé no mercado externo não procurou aumentar sua presença lá fora? Por outro lado, se conseguimos bater um record de volume e valor exportado, me permito dizer que não sou tolo e com o respeito que merecem, os comentaristas estavam equivocados.

No ultimo mês de janeiro, a balança comercial brasileira apresentou uma vez mais novo record, marcando o superávit de US$ 1,16 bilhões, resultado da exportação de US$ 4,805 bi e de importações que totalizaram US$ 3,645 bi. Novamente ouvimos os profetas econômicos virem a público para dizer que é muito cedo para concluirmos que este ano conseguiremos alcançar novo record em nossas exportações.

Uma vez mais quero discordar, sem o menor constrangimento, em função de fatores de nossa história recente que, creio estes senhores em grande parte teóricos, esqueceram-se de colocar em suas análises, senão vejamos:

Durante o governo Collor, nosso mercado foi escancarado, e pior, nada cobramos por isso, nem exigimos nada em troca, nossas tarifas foram sensivelmente reduzidas, tendo como resultado o desaparecimento e a falência de alguns tantos setores industriais. Posteriormente com o plano real, a época da tão comentada âncora cambial, a supervalorização de nossa moeda uma vez mais nos expôs. Pelo lado das exportações, empresas tradicionalmente exportadoras, para não perder mercados duramente conquistados ao longo de muitos anos, trataram de baixar custos, investindo maciçamente em sua modernização. Eu diria que o resultado dessa “antipolítica” industrial foi de um grande crescimento da produtividade da industria nacional, mas apenas para quem conseguiu sobreviver.

Segundo dados da Abinee, o setor de Automação Industrial somente no ano de 2002 aumentou seu faturamento no mercado nacional em 21%. Se avaliarmos seu crescimento desde 1995 a 2002, temos a importante marca de 46,5 % . De 1992 a 2000, nossa produtividade alcançou a importante marca de 65%.

Meus amigos será que tudo isso nada representa? A indústria nacional não se modernizou? Os investimentos em infra-estrutura realizados neste período foram expressivos, somente no que tange ao petróleo, segundo a ANP Agência Nacional de Petróleo, em outubro de 2002, nossa dependência de petróleo importado era de 10,3%, ou seja, alcançamos a importante marca de produção de 90% do consumo interno, e não em função de queda de demanda.

Creio que devemos ser realistas sim, não acreditar que nosso futuro é de bonança, porém devemos ser conseqüentes e destacar que principalmente por parte da iniciativa privada os esforços foram enormes, para que pudéssemos efetivamente baixar custos. O endividamento externo expressivo, muito mais por parte do setor privado do que pelo setor publico é em grande parte reflexo dessa modernização. As privatizações mal ou bem aí estão, o resultado destas também se nota em alguns setores de forma mais positiva como na área de telecomunicações, em outros de maneira menor ordenada como no setor elétrico.

O trabalho não está concluído e creio nunca estará, porém entendo seja fundamental reconhecermos que avanços ocorreram, muitas dificuldades passamos, e muito fizemos para diminuir nossas vulnerabilidades. Nos anos em que nossa balança comercial esteve deficitária, isto não ocorreu apenas porque importávamos automóveis ou bens de consumo, importamos sim muitas máquinas e bens de capital, de maneira a atualizar o parque industrial aqui instalado, adequá-lo à realidade internacional, e possibilitar que o Brasil gradativamente voltasse a estar inserido no contexto industrial internacional.

Hoje temos em nosso país, capacidade instalada para produzir 3,2 milhões de veículos por ano, enquanto a demanda interna consegue absorver 50% da produção instalada, portanto, as exportações deste setor são irreversíveis, assim como o crescimento da exportação da chamada “eletrônica embarcada”, justamente por já estar embarcada nos veículos. Existem outros tantos setores e produtos com expressiva participação nas exportações, tais como, os aviões da Embraer, produtos agro-industriais, telefones celulares, moto-compressores, calçados, etc.

O tema negociações comerciais tem sido diariamente destacado nos jornais, face a nossa dependência externa e nossa necessidade de divisas estrangeiras, porém, nosso futuro não é somente a ALCA e a União Européia. Somente no ano que passou incrementamos significativamente nossas transações comerciais com nações não tradicionais em nosso comércio, tais como a China (32,1%), a Índia (129,2%), a Rússia (12,9%), dentre outras. Ainda há poucos dias li interessante matéria sobre a reconstrução da Servia, e o interesse daquele país em aumentar suas relações comerciais com o Brasil. Portanto, nosso futuro está vinculado à nossa capacidade, à nossa iniciativa, e se esta for auxiliada por ações de governo, conquistaremos sim o espaço que nos cabe no cenário internacional. Portanto creio que os números de nossa balança comercial, dentre outros, refletem que o pragmatismo nem sempre é nosso melhor conselheiro.

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Dr.Humberto Barbato é,

Diretor de Relações Internacionais da Abinee.

Representa a Entidade na Coalizão Empresarial Brasileira coordenada pela CNI - Confederação Nacional da Industria.

Também é membro permanente do Conselho Temático de Integração Internacional da CNI

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