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Anvisa promete regras para herbicida da soja em 30 dias



Osni Calixto, do Núcleo Agrário do Partido dos Trabalhadores e membro da organização não-governamental Patrulha Verde, lembra que há transgenias elaboradas para melhorar a qualidade nutritiva de um produto, ou para melhorar a resistência de uma variedade a pragas e à seca. Ele considera a soja transgênica da empresa norte-americana Monsanto diferente de outros geneticamente modificados, por apresentar resistência a um produto "venenoso".

A soja em questão é objeto de processo judicial que proibiu seu plantio e comercialização. Trata-se da “Roundup Ready”, que possui um gene que lhe confere resistência ao glifosato. Herbicida que mata plantas em geral, por isso classificado como não-seletivo, o glifosato é aplicado no preparo do solo, no pré-plantio da soja convencional e, depois, já com as plantas no início do crescimento, entre as linhas da cultura. De acordo com Calixto, se o glifosato for aplicado no fruto da soja e deixar, ainda que seja uma pequena quantidade de resíduo (de duas partes por milhão, ou 2 ppms, por exemplo), causará um mal profundo à saúde humana e ao meio ambiente.

Os dados técnicos do gerente geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divergem dos argumentos do militante. Segundo Luis Cláudio Meirelles, o herbicida, dependendo da formulação, pode ser enquadrado na classe medianamente ou pouco tóxico. No Brasil, está proibida a aplicação do glifosato diretamente na planta, na fase chamada de pós-emergência, ou seja, quando já houve germinação. Segundo Meirelles, esta questão estará resolvida dentro de, no máximo, 30 dias.

"Vamos avaliar e estabelecer um limite pós-emergência", diz. No caso da soja transgênica, o glifosato pode ser aplicado diretamente na planta, já que ela é resistente ao produto. Só as ervas daninhas morrem. Meirelles explica que o resíduo na planta aumenta com a aplicação no período pós-emergência, mas que há um limite máximo a ser definido pela Anvisa. Ele garante que não há risco de alguém se intoxicar por causa do glifosato.

“Show de ambientalismo”

Segundo o presidente do Clube Amigos da Terra, o agricultor Almir Rebelo, de Tupanciretã (RS), o coquetel de herbicidas usado no plantio de soja convencional tem seu teor toxicológico classificado nos níveis mais pesados, que são 1, 2 e 3. Já a classe toxicológica do glifosato é a mais branda, o nível 4. A organização presidida por Rebelo reúne produtores rurais do Rio Grande do Sul e tem, segundo Rebelo, o objetivo de “proteger o meio ambiente e defender a eficiência das propriedades”. Os produtores defendem a liberação da soja transgênica Roundup Ready, ou RR, como é chamada no meio rural.

Estima-se que 90% da área plantada de soja no estado, que é de 3,6 milhões de hectares, estejam ocupados hoje por soja RR. Segundo Rebelo, das 500 mil propriedade rurais do estado, algo em torno de 300 mil têm soja transgênica em campo. O município de Tupanciretã, localizado na porção central do Rio Grande do Sul, onde fica a sede do Clube Amigos da Terra, é “100% transgênico”.

Há sete anos, os produtores gaúchos plantam soja transgênica e, garantem, já comprovaram na prática que várias teses dos ambientalistas estão equivocadas. Entre elas, a de que a soja RR é "programada" para não germinar mais, a de que ela não seria mais produtiva que a soja convencional e de que prejudica o meio ambiente devido às aplicações aéreas de glifosato.

Rebelo conta que os produtores gaúchos armazenam grãos secos e limpos, depois da colheita, para usá-los na safra seguinte. O agricultor garante que eles sempre germinam. "Se não fosse assim, não teríamos sete safras já comercializadas", diz. Além disso, a quantidade de princípio ativo de herbicida usado na plantação de soja transgênica é metade do que se usa na soja convencional, segundo Rebelo. "Aqui, há dois componentes: o ambiental e o econômico. Gasta-se entre R$ 30 e R$ 40 de herbicida na soja transgênica e mais de R$ 200 na soja convencional", argumenta. “É um show de ambientalismo”, sentencia. Pelos cálculos de Rebelo, essa maior eficiência na aplicação do herbicida reflete-se em uma produtividade de dez sacas de soja a mais por hectare.

Na antiga modalidade de produção, segundo Rebelo, são necessários até oito litros de herbicida por hectare, o que corresponde a três quilos de princípio ativo. Os produtores relatam que, com a soja transgênica, as aplicações não passam de quatro litros, quantidade que contém 1,44 quilos de princípio ativo. Quando o glifosato é aplicado na soja convencional, nas entrelinhas, os resíduos no solo atingem a próxima plantação pós-soja, em geral trigo, prejudicando seu crescimento, segundo relatam os produtores. Já a aplicação aérea prejudica menos o solo, ainda segundo Rebelo.

Francisco Aragão, engenheiro agrônomo da Embrapa, atesta que a contaminação do solo com o uso aéreo de glifosato é menor, por não haver contato direto. "Quando aplicado nas entrelinhas, a infiltração é muito maior", afirma. Ele lembra ainda que a deriva do herbicida pelo ar é mínima e que os resíduos na folhagem não são mais prejudiciais do que os resíduos já apresentados nas plantações de soja convencional.

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