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Análise do mercado da soja

Entre os dias 16 de dezembro passado, quando de nosso último comentário antes do recesso de final de ano e das férias, até o 10 de fevereiro, o mercado da soja sofreu mudanças expressivas



Foto: Pixabay

Entre os dias 16 de dezembro passado, quando de nosso último comentário antes do recesso de final de ano e das férias, até o 10 de fevereiro, o mercado da soja sofreu mudanças expressivas. E o principal motivo está sendo a violenta seca que se abate sobre as regiões produtoras do sul da América do Sul, atingindo o centro-sul brasileiro, a Argentina e o Paraguai em particular. Enquanto isso, no centro-norte brasileiro enchentes significativas igualmente trouxeram preocupações. No somatório deste processo, a safra de soja ficou comprometida na região. Atualmente, enquanto a seca continua, apesar de breves momentos de chuvas ainda de pouco volume e muito mal distribuídas, na média, temos o seguinte: iniciamos o plantio da soja, desta safra 2021/22, com expectativa de área semeada recorde, assim como sua produção final. Neste último caso, os números projetados giravam entre 142 e 144 milhões de toneladas para o Brasil, e de 19 a 20 milhões para o Rio Grande do Sul.

Considerando a então realidade de Chicago, dos prêmios futuros nos portos brasileiros e o câmbio no país, tal panorama permitia projetar preços médios no Rio Grande do Sul entre R$ 130,00 e R$ 150,00/saco quando da colheita em 2022. Na melhor das hipóteses, manter o valor um pouco acima dos R$ 150,00. Ou seja, um preço médio igual ou abaixo do praticado na colheita de 2021. Como o custo de produção, em função, especialmente, do câmbio, aumentou 52% para esta nova safra (cf. Fecoagro), não havendo expectativas de aumento de produtividade média, previase claramente uma redução de rentabilidade dos sojicultores nacionais em geral e gaúchos em particular. Infelizmente, o quadro piorou ainda mais nestes últimos 45 dias.

As perdas devido ao clima, no Rio Grande do Sul, já estariam na casa dos 60% em muitas regiões (considerando também a qualidade do produto a ser colhido). Neste contexto, somente a produção brasileira da oleaginosa deverá perder cerca de 20 milhões de toneladas, devendo ficar entre 124 a 125 milhões de toneladas (este número poderá ser menor, pois a continuidade da seca – a pior que o sul do país vivencia desde 2005 pelo menos, continua a aumentar os prejuízos). Para a América do Sul, o USDA, em seu relatório deste mês de fevereiro, aponta um volume de 189,3 milhões de toneladas, contra 212 milhões na época do plantio da atual safra. Todavia, estes números estão ainda superestimados, e a colheita sul-americana tende a ser bem menor, ficando ao redor de 175 milhões de toneladas. Em isso se confirmando, teremos uma perda, em relação ao projetado inicialmente, de 37 milhões de toneladas (o equivalente a quase toda a safra esperada no Mato Grosso).

Diante de tal realidade, as cotações da soja em Chicago dispararam novamente, especialmente a partir de meados de janeiro, quando se consolidou que a seca iria mesmo causar prejuízos importantes na América do Sul. Desta forma, o bushel de soja, naquela Bolsa, sai de US$ 12,77 no dia 16/12 (último comentário realizado por nós) para US$ 15,94 neste último dia 09/02. Isso significa um aumento de 24,8% em menos de 45 dias úteis (na quinta-feira, dia 10/02, o bushel recuou para US$ 15,74). Aliás, a cotação atual não era vista desde meados de maio do ano passado. Este comportamento foi acompanhado pelo farelo de soja, diante da quebra de safra na Argentina, fornecedor de quase 50% das exportações mundiais do subproduto. Com isso, o mesmo passou de US$ 372,30 para US$ 461,90/tonelada curta em Chicago, ganhando, no período, 24,1%. E o óleo de soja, puxado também pelas altas nos preços internacionais do petróleo, no período, ganhou 17,3%. Portanto, a seca na maior região produtora de soja do mundo alterou completamente a tendência que se desenhava em meados de dezembro passado.

No Brasil, este quadro provocou uma elevação importante nos preços da oleaginosa, pois além da elevação dos valores do bushel, igualmente os prêmios nos portos nacionais subiram, diante da concreta possibilidade de não haver toda a soja esperada disponível para exportação em 2022. Assim, os mesmos chegam, agora, a valores entre US$ 0,70 e US$ 0,90/bushel, para o período entre março e maio do corrente ano, dobrando o valor que se tinha no final do ano passado para esta época. E os valores da soja no Brasil só não são maiores agora porque o câmbio recuou fortemente, até de maneira um tanto inesperada para a época, embora os alertas de que o Real brasileiro estava muito desvalorizado, pois devia ficar entre R$ 4,50 e R$ 4,80 por dólar já em meados de dezembro passado. Neste momento, a moeda nacional trabalha em torno de R$ 5,23, freando as elevações no preço da soja.

Mesmo assim, a oleaginosa, que havia fechado em R$ 161,49/saco na média da terceira semana de dezembro passado, subiu para R$ 190,81/saco na média da corrente semana, no mercado gaúcho. Ou seja, um ganho de quase 30 reais por saco ou cerca de 18%. Algumas regiões, próximas do porto, estariam pagando R$ 200,00. Nas demais praças nacionais, os preços da soja, no período, passam de R$ 143,00-R$ 160,00/saco para R$ 170,00-R$ 186,00, atualmente. Infelizmente, como todos sabem, este aumento de preços, para a maioria dos produtores gaúchos e todos aqueles atingidos pela seca no país, está longe de ser suficiente para compensar os altos custos de produção, somados as grandes perdas devido ao clima. Desta forma, salvo exceções, no geral os produtores registrarão ainda menor rentabilidade. No caso do Rio Grande do Sul, a grande maioria deverá fechar a safra no vermelho, perdendo senão todos, boa parte dos ganhos obtidos na safra anterior. As primeiras lavouras colhidas no Noroeste gaúcho, neste momento, registram tão somente uma produtividade entre 5 a 7 sacos por hectare.

Ou seja, não há preço que pague uma frustração de safra, especialmente uma do tamanho que o sul do país está vivendo. Dito isso, neste período o USDA divulgou dois relatórios de oferta e demanda (janeiro e fevereiro). O último, neste dia 09/02, apontou, para 2021/22, uma safra mundial de soja em recuo para 363,9 milhões de toneladas, com estoques finais mundiais recuando para 92,8 milhões. Nos EUA, a safra colhida no final do ano passado foi mantida em 120,7 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais foram reduzidos para 8,8 milhões, contra 9,5 milhões indicados em janeiro. Além do forte recuo na produção sulamericana (ainda superestimada em nosso entender), o relatório trouxe um recuo de três milhões de toneladas nas importações de soja projetadas para a China neste ano comercial. As mesmas ficariam agora em 97 milhões de toneladas. Por enquanto o mercado não está considerando esta informação. O preço médio aos produtores estadunidenses subiu para US$ 13,00/bushel para 2021/22, ainda bem acima do que atualmente vem sendo praticado em Chicago. Vale ainda destacar que a safra argentina pode ficar abaixo de 41 milhões de toneladas, enquanto o USDA ainda estima uma colheita de 45 milhões. Para o Brasil, projeta-se volume entre 124 e 125
milhões de toneladas, enquanto o USDA ainda indica 134 milhões.

Ou seja, esta defasagem, além de levar a uma correção por parte do USDA, mantém a pressão altista sobre as cotações em Chicago. Em termos conjunturais, temos ainda que o Paraná já colheu 15% de sua safra de soja, com a perspectiva de uma quebra total de 40% no volume a ser produzido em relação ao esperado inicialmente. Atualmente, das lavouras que faltam colher, 31% estão em condições ruins, contra 5% no mesmo período do ano passado. (cf. Deral) Já no Mato Grosso, onde não faltou chuva, com a colheita chegando a 47% da área, a previsão é de uma safra recorde de soja, com o volume final estimado em 39,5 milhões de toneladas, ou seja, 9% acima do colhido no ano anterior. A produtividade média ficará em 60,3 sacos/hectare, considerando que algumas regiões tiveram perdas devido ao excesso de umidade. (cf. Imea) Em termos gerais do Brasil, a colheita da soja chegava a 17,1% no início da presente semana, contra 10,3% na média histórica para esta época do ano.

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