Agricultores gaúchos iniciam nesta safra o plantio do arroz mutagênico, desenvolvido por meio de uma parceria entre o Instituto Riograndense do Arroz (Irga) e a Basf. A variedade é resistente ao herbicida Only, da Basf, que mata o arroz vermelho, principal praga da cultura no estado e normalmente responsável por uma redução de 20% na produtividade das lavouras infestadas. A idéia é plantar a variedade Irga 422 CL em algumas áreas por dois anos, para a eliminação do arroz vermelho e descontaminação do terreno, e depois retomar a produção com as cultivares habituais.
O plantio foi iniciado este ano com a distribuição de 20 mil sacas de sementes, o suficiente para semear sete mil hectares. Do total, seis mil foram distribuídas para multiplicadores e o restante foi direcionado para lavouras comerciais em todas as regiões produtoras, que também serão utilizadas como áreas para capacitação dos agricultores. "A partir da próxima safra teremos sementes para plantar entre 60 mil e 70 mil hectares e, daqui a dois anos, para até 200 mil hectares (um quinto da área total gaúcha)", diz Maurício Miguel Fischer, gerente da Divisão de Pesquisa do Irga.
Fischer explica que o plantio não é recomendado por um período maior para evitar o retrocruzamento do Irga 422-CL com o arroz vermelho, o que poderia gerar uma praga ainda mais resistente. O custo do plantio também é maior. Os gastos com o herbicida e as sementes do arroz mutagênico chegam a R$ 500 por hectare. Com os insumos habituais, o custo giram em torno de R$ 300 por hectare.
O chefe da equipe de Melhoramento do Irga, Sérgio Iraçu Gindri Lopes, explica que no processo de mutação, ao contrário da transgenia, não são inseridos na planta gens de outros seres por manipulação genética. A mutação é induzida, mas ocorre de forma natural, pelo retrocruzamento. "Não é biotecnologia", ressalta Lopes.
Os estudos com o arroz mutagênico tiveram os primeiros resultados em 1996, na Universidade de Lousiana, nos EUA, quando os cientistas locais conseguiram uma planta resistente ao herbicida da Basf. "Nos EUA, eles também têm problemas com o arroz vermelho", observa Lopes. A variedade norte-americana foi trazida em 1998 para o Brasil, quando o Irga deu início aos cruzamentos com as cultivares adaptados ao Rio Grande do Sul, tentando inserir nas plantas utilizadas no estado o gene tolerante ao produto da Basf.