Aftosa: quais os riscos da retirada da vacina?
Brasil caminha para ter mais estados como áreas livres da febre aftosa sem vacinação mas precisa de medidas para garantir sanidade
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) o Brasil é uma potência pecuária. Em 2019 o faturamento do agronegócio na pecuária foi de R$ 618,5 bilhões; 43,3 milhões de cabeças de gado abatidas; 10 milhões de toneladas de carne bovina produzidas sendo 76% para o mercado interno e o restante para exportação (23, 6% ou 2,48 milhões de toneladas).
Autoridades como o secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Covatti Filho, defendem que esses números de exportação podem ser bem maiores com a retirada da vacinação contra a febre aftosa. Em uma live para anunciar o início do processo do fim da vacinação no Estado, Covatti explicou que, atualmente, a carne gaúcha detém apenas 30% dos mercados possíveis, podendo exportar somente carne sem osso. “Com essa evolução de status há 70% de oportunidade ociosa e oportunidade para novos cortes. Só na cadeia de suínos vão ser por volta de R$ 600 milhões por ano de oportunidade. Além disso poderemos comercializar bovídeos vivos entre Santa Catarina e Paraná, que representam 70% dos bovinos de alta genética, estímulo à produção de pecuária de corte de raças européias reconhecidas pela qualidade da carne e abertura de exportação de carne e genética para mercados que exigem condição de não vacinação”, destacou.
Há 13 anos somente Santa Catarina é livre de febre aftosa, doença altamente infecciosa, sem vacinação. O Paraná faz o processo para retirar a vacinação desde o ano passado a exemplo de outros estados do bloco 1 como Acre, Rondônia, 13 municípios do sul do Amazonas e cinco municípios do oeste de Mato Grosso, conforme definido pelo Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA). Seguindo o calendário os estados dos blocos 2, 3 e 4 devem buscar junto a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) o reconhecimento como zonas livres de febre aftosa sem vacinação, em maio de 2021. Para evoluir de status alguns procedimentos são necessários. Os detalhes e estados podem ser conferidos na reportagem em vídeo ao fim desta reportagem.
Impactos e riscos
O Brasil produz bruto 400 milhões de doses por ano de vacina bivalente para o mercado interno e para exportação para Uruguai, Paraguai e Bolívia. São quatro empresas produtoras em território nacional (Ourofino, Ceva Saúde Animal, Boehringer Ingelheim e Merck) e uma importadora (Biogénesis Bagó). De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) o custo de produção total depende do estágio, sistema usado, automação de cada empresa. “A nossa perda será de R$350 milhões, levando em consideração que cada dose da vacina custe R$ 1 real. A perda da indústria é de 5 % do faturamento de R$ 6 bilhões. Quando levado em conta o faturamento de ruminantes, que é R$ 3,5 bilhões, a vacina da aftosa responde por 8 %", diz o vice-presidente do Sindan, Emílio Salani.
A indústria está preocupada com a retirada sem ter um banco de antígeno para fabricar novamente caso haja um caso quando retirada a vacinação. “Não se pode brincar com isso. Não tem nenhum país fora daqui que possa produzir a vacina com qualidade e quantidade que precisamos. O jogo é sério”, observa o dirigente.
O pecuarista de Minas Gerais, Paulo de Castro Marques, que tem uma fazenda referência em genética Angus, Brahman e Simental, acredita que o custo é muito baixo para valer o risco de retirar a vacina. “Se eu fosse dar uma opinião é esperar. Estamos em um momento de pandemia e nossa pecuária é sólida. Acho que as autoridades têm que avaliar bem antes de bater o martelo”, esclarece.
Confira na reportagem em vídeo as visões de autoridades, entidades, indústria e criador.