75% das escolas sem água potável no Brasil estão em áreas rurais
Carência de acesso básico à água potável compromete não apenas a saúde dos estudantes, mas também o próprio ambiente de aprendizado
Recentemente divulgados pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), os dados do Censo Escolar trouxeram à tona uma realidade alarmante: cerca de 75% das 7,7 mil escolas sem acesso à água potável no Brasil estão situadas em áreas rurais. Isso equivale a mais de 1,2 milhão de estudantes matriculados, uma quantidade similar à população escolar de toda a cidade do Rio de Janeiro, tanto em escolas públicas quanto privadas.
Dentre essas escolas, 1033 estão em comunidades indígenas, 791 em assentamentos, 321 em comunidades quilombolas e 125 em povos e comunidades tradicionais. Essa carência de acesso básico à água potável compromete não apenas a saúde dos estudantes, mas também o próprio ambiente de aprendizado.
Em muitas dessas regiões, como no povoado quilombola Terra da Liberdade, localizado em Cametá, Pará, os alunos da rede municipal de ensino precisam retornar para suas casas para saciar a sede, enquanto os professores improvisam com garrafinhas doadas pela comunidade, já que as torneiras nas escolas estão secas. Em algumas instituições, os poços existentes estão secos e sem utilidade, enquanto outras contam com água encanada, porém sem tratamento adequado.
Fernando Silva, CEO da PWTech, startup especializada em filtragem e purificação de água, enfatiza a urgência de soluções práticas para esse problema. O projeto "Água boa nas escolas" visa proporcionar acesso à água pura para milhares de crianças, visando combater não apenas a desnutrição, mas também a evasão escolar.
Não é somente no Pará que a situação preocupa. Mais de 198 mil alunos enfrentam problemas similares em escolas de diversos estados, incluindo Rio Grande do Sul (60 mil), Rio de Janeiro (41 mil) e São Paulo (24 mil). O Censo Escolar também apontou que mais de 90 mil alunos estudam em escolas sem energia elétrica, sendo 93% dessas escolas localizadas em áreas rurais.
É evidente que a falta de infraestrutura básica afeta não apenas o ambiente escolar, mas também compromete o desenvolvimento educacional e social dessas comunidades. É necessário um olhar atento e investimentos consistentes para garantir condições dignas de ensino em todas as regiões do país.
Apesar de o número de alunos em escolas sem água potável ter sido menor em 2022, totalizando 931 mil, a inclusão de 661 escolas da rede estadual da Bahia, com 430 mil alunos, na lista das que não possuem recursos hídricos adequados, revela a persistência e a ampliação desse problema em diferentes partes do Brasil. O estado da Bahia contestou os números e buscará retificação através de pedido judicial, alegando possíveis erros nos dados.