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O que é a turfa? Quais as vantagens deste adubo?

Leia sobre as propriedades da turfa.



O que é a turfa?

A turfa é um composto orgânico formado a partir da decomposição de vegetais de pequeno porte que se desenvolvem em meio líquido, e é encontrada em solos alagadiços, geralmente entre 2 e 5 metros de profundidade. A vegetação entra em contato com a água e é lentamente oxidada por microrganismos. Devido à ausência de oxigênio da atmosfera nestes ambientes, não ocorre oxidação completa da matéria orgânica, e a decomposição é realizada por bactérias e fungos anaeróbicos.

 

Uso da turfa na agricultura

As turfas são classificadas como energéticas, carbonizadas ou agrícolas, sendo estas últimas passíveis de uso nas culturas agrícolas. As turfas agrícolas são caracterizadas por um menor grau de decomposição e teor de cinzas acima de 20%.

As substâncias húmicas presentes na turfa podem favorecer características agronômicas, como o desenvolvimento da parte aérea, comprimento das raízes e da área radicular. Quanto aos nutrientes, a concentração de nutrientes na turfa é insuficiente para suprir toda a necessidade de uma cultura agrícola. Desta forma, recomenda-se a sua aplicação em conjunto com algum fertilizante mineral ou sua formulação em conjunto com o adubo mineral (formando um organomineral).

Quanto às suas características físicas, a turfa é um material muito poroso, e do ponto de vista químico, possui alta capacidade de adsorção de moléculas orgânicas polares e metais de transição (devido ao alto teor de substâncias húmicas como ácidos húmicos e ácidos fúlvicos). 

Assim, este composto também pode ser utilizado como um "adsorvedor" natural de baixo custo, aplicado ao tratamento de águas e efluentes contaminados por metais pesados ou substâncias tóxicas.

 

Benefícios do uso da turfa

As turfas possuem bastante matéria orgânica, o que promove o desenvolvimento de microrganismos benéficos que aumentam a disponibilidade dos nutrientes presentes no solo, além de deixarem menor espaço para o desenvolvimento de microrganismos causadores de doença;

Além disso, possui na sua composição nutrientes como o nitrogênio, potássio e fósforo, que podem contribuir para a fertilidade do solo. Assim, de forma geral, podemos estabelecer os seguintes benefícios:

  • Melhorias na agregação do solo, melhorando a aeração, a infiltração e retenção de água;
  • Redução da compactação do solo;
  • Aumento da disponibilidade de nutrientes;
  • Reduz a incidência de doenças.

 

Turfa e turfeiras no Brasil

No Brasil, o uso da turfa na agricultura não é tão comum, ainda que o país possua mais de 6 bilhões de toneladas deste material. Nos Estados Unidos, 90% da turfa é usada na agricultura.

As turfas brasileiras podem ser classificadas em:

  • Hídrica: formadas em ambientes aquosos / subaquosos, formando uma turfa rudimentar à base de algas, plânctons, pólens e flora aquática;
  • Fibrosa: formada na superfície por acúmulos orgânicos naturais ou plantados pelo homem. É composta por fibras e filamentos pouco decompostos, imersos em material gelatinoso, escuro e marrom. São comuns no sudeste do Brasil;
  • Lenhosa: composta por vegetais de grande porte, formada na superfície do terreno. Possui grande parte de matéria orgânica humificada, mas ainda consiste de material suscetível de fermentar e se tornar estabilizado.

 

Qual a composição da turfa?

A composição da turfa depende das espécies de vegetação do local, clima, acidez da água e grau de metamorfose. Assim, a turfa pode ter um aspecto estrutural que varia de uma pasta gelatinosa preta (alto grau de decomposição em camadas mais profundas) até uma condição fibrosa marrom clara (camadas mais superficiais). Deve-se analisar a composição de cada turfa, pois estas variam entre si.

Abaixo, detalhamos a composição química média das turfas:

Tabela 1. Composição média da turfa.

Componentes Valor
Nitrogênio* 3,09
Fósforo (P2O5)* 0,17
Potássio (K2O)* 0,36
Carbono 42,82
Índice pH 5,30
Relação C/N 14/1
Umidade* 66,50
Matéria orgânica* 77,25

*Valores expressos em porcentagem
Fonte: KIEHL, 1985.

 

As turfeiras oriundas de lagos e lagoas possuem baixo teor de cinzas. Já em charcos, localizados nas planícies próximas de rios e baixadas que sofrem inundação e correntes de chuvas dos morros, as turfas sofrem contribuição de material mineral, elevando muito o seu teor de cinzas, sendo o caso das turfeiras do Vale do Paraíba, no estado de São Paulo.

 

Turfeiras e mudanças climáticas

Ao longo do ano o nível de água subterrâneo nas turfeiras oscila devido à sazonalidade do clima. Em épocas de seca, ocorrem incêndios naturais, devido ao rebaixamento do nível de água subterrâneo, deixando a turfeira sem oxigênio e entrando em combustão espontânea, ocorrendo um incêndio subterrâneo. Essa combustão libera para atmosfera um forte odor, com grandes quantidades de fumaça. Devido a este processo, o estoque de carbono em várias turfeiras vem sendo reduzido.

Estudos apontam que as temperaturas mais elevadas irão reduzir o nível de água subterrâneo, interferindo diretamente nos processos de decomposição das turfeiras. No estado de São Paulo, todos os anos nas turfeiras em São José dos Campos ocorrem incêndios subterrâneos nas turfeiras, que chegam a queimar por até dois meses.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

CUSTÓDIO, N.; Principais Depósitos Minerais do Brasil. Geocities, 2002; http://www.geocities.com/nelsoncustodio/turfa.html.

KIEHL, E. J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, SP: Ceres, 1985. 492 p

MARQUES JÚNIOR, R. B., et al. Promoção de Enraizamento de Microtoletes de Cana-de-Açúcar Pelo Uso de conjunto de Substâncias Húmicas e Bactérias Diazotróficas Endofíticas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, p.1121-1128, 2008.

Petroni, Sérgio Luis Graciano, Pires, Maria Aparecida Faustino e Munita, Casimiro Sepúlveda. Adsorção de zinco e cádmio em colunas de turfa. Química Nova [online]. 2000, v. 23, n. 4, pp. 477-481.

PINTO, P. A. C. Sedimentos orgânicos utilizados como fertilizantes na agricultura. Universidade do Estado da Bahia. Juazeiro: Departamento de tecnologia e ciências sociais. 7p. 2003. 

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