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O que é o sistema de plantio direto (SPD)? Quais as vantagens? Como fazer?

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O que é o Sistema de Plantio Direto (SPD)?
Quais os benefícios do Sistema de Plantio Direto?
História do plantio direto
O plantio direto no Brasil
Como fazer o Sistema de Plantio Direto?
Manejo dos restos culturais e culturas de cobertura
Práticas mecânicas para o controle de enxurradas

 

O que é o Sistema de Plantio Direto (SPD)?

O plantio direto é o plantio que ocorre no solo sem revolvimento (ou com revolvimento mínimo), com a palhada da cultura anterior na superfície, e deposição das sementes e fertilizantes em um sulco estreito. Faz parte do manejo conservacionista denominado "sistema de plantio direto" (SPD), formado por três princípios básicos:

  • Revolvimento mínimo do solo;
  • Rotação de culturas;
  • Manutenção da cobertura morta no solo.

O sistema de plantio direto é um manejo conservacionista que reduz o impacto da agricultura no solo, além de proporcionar aumento de produtividade e diminuição dos custos de produção quando bem realizado.

 

Quais os benefícios do Sistema de Plantio Direto?

O sistema de plantio direto proporciona diversas vantagens para o produtor rural e para o meio ambiente:

  • Diminuição da erosão do solo: a palha da cultura anterior presente na superfície do solo reduz o impacto da gota de chuva, reduzindo a erosão hídrica. Reduz também a erosão eólica e diminui as oscilações de temperatura no solo;
  • Aumento da matéria orgânica: a decomposição da cobertura morta irá resultar em incremento da matéria orgânica no solo, que proporciona diversos benefícios nas características químicas (como aumento da fertilidade) e físicas (como melhora da estrutura e aumento da retenção de água) do solo;
  • Redução / eliminação das operações de preparo do solo;
  • Diminuição das plantas daninhas através da maior ocupação do solo;
  • Quebra do ciclo de insetos e doenças através da rotação de culturas;
  • Favorecimento da microbiota benéfica do solo, que podem promover a ciclagem de nutrientes e controlar microrganismos indesejados

 

 

História do plantio direto

O plantio direto tem início na década de 1940, quando o agricultor Edward H. Faulkner percebia o desgaste que a agricultura causava no solo, e decidiu buscar novas maneiras de reduzir esse impacto. No seu livro "Plowman's Folly" (A tolice do lavrador), o agricultor afirmava que não havia razão científica para arar o solo.

Na segunda metade da década de 1940, na Inglaterra, em uma estação experimental começou-se a observar que o preparo do solo poderia ser dispensável, desde que não houvesse competição por plantas daninhas, identificando esse processo com expressões como "no-till", "zero-tillage", "direct-seeding", "direct-planting" etc, expressões traduzidas como "semeadura direta" ou "plantio direto".

Porém, como as plantas daninhas eram um forte empecilho para esta técnica, tornou-se viável em áreas extensas de lavoura apenas após o surgimento do controle químico de plantas daninhas, sendo o primeiro produto o paraquat, em 1961.

A primeira lavoura comercial de plantio direto que se tem notícia foi implementada por Harry Young e Lawrence Young, no estado do Kentucky, nos EUA, através de uma parceria com a empresa de máquinas agrícolas Allis Chalmers. A empresa lançou, em 1966, a primeira semeadora para plantio direto, que possuía um disco ondulado frontal para o corte da palha. Em 1967, esses agricultores viabilizaram a sucessão de trigo/soja em um mesmo ano agrícola com o ganho de tempo na semeadura da soja, feita logo após a colheita de trigo.

 

O plantio direto no Brasil

No Brasil, no início da década de 60 começou-se a observar a necessidade de uma agricultura conservacionista. Os autores Vieira e Frazier falavam sobre o sistema chamado de "cultivo mínimo", que no fim dessa década, já era desenvolvido em diversos países por conta do seu potencial conservacionista. Porém, os motivos que realmente fortaleceram o desenvolvimento do sistema de plantio direto foram:

  • Necessidade de controle da erosão (hídrica e eólica);
  • Melhor aproveitamento do uso da terra;
  • Economia de tempo, de mão-de-obra, de combustível, de corretivos e fertilizantes;
  • Menor uso, manutenção e diversidade de equipamentos agrícolas;
  • Menor prejuízo ao meio ambiente

Com o passar do tempo, a perda de patente de diversos herbicidas e surgimento de produtos genéricos em ampla concorrência proporcionou uma queda do custo de produção das lavouras sob plantio direto. Além disso, o surgimento da soja transgênica tolerante ao glifosato também facilitou muito o manejo de plantas daninhas no sistema de plantio direto. Outro fator importante foi o aumento de produtividade por conta da melhoria da qualidade do solo.

O ano de 1969, os professores Luiz Fernando Coelho de Souza e Newton Martins da UFRGS fizeram um experimento em Não-Me-Toque (RS) com sorgo semeado sem preparo prévio do solo, com os restos da cultura anterior na superfície, com auxílio de uma semeadora específica para plantio direto importada dos EUA. Como essa foi a primeira operação de plantio direto em lavoura motomecanizada, 1969 é considerado o marco histórico da introdução do plantio direto no Brasil. O experimento infelizmente não teve continuidade pois logo a seguir a semeadora foi perdida em um incêndio.

A partir de 1971 os institutos de pesquisa realizaram diversos ensaios com a sucessão de culturas trigo/soja no Paraná e no Rio Grande do Sul. Os estudos comparavam a sucessão de culturas em plantio direto e plantio convencional quanto à produtividade, manejo de plantas daninhas, efeitos da calagem e da adubação, influência em parâmetros físicos etc. A partir de 1975, o sistema de plantio direto começou a ser alvo de programas de pesquisa em outras instituições do país. A Companhia Imperial de Indústrias Químicas do Brasil também teve papel importante na difusão da técnica de plantio direto através de ações de desenvolvimento de mercado para os herbicidas, e incentivo a entidades de pesquisa.

Ainda que os custos operacionais para o plantio direto fossem superiores ao plantio convencional, principalmente pelo uso de herbicidas, o maior controle da erosão hídrica proporcionado pelo plantio direto foi um dos motivos que induziu a adoção da prática no Brasil.

A partir de 1980, o plantio direto começou a ser percebido com uma abrangência sistemática, passando a ser chamado de sistema plantio direto, envolvendo a diversificação de espécies e a manutenção dos resíduos vegetais, junto com a semeadura sem prévio preparo do solo.

 

Como fazer o Sistema de Plantio Direto?

Sistematização

Antes de implementar o Sistema de Plantio Direto (SPD), é fundamental sistematizar a lavoura, que frequentemente apresenta depressões e sulcos causados por processos de erosão resultantes de práticas agrícolas não conservacionistas. Essas irregularidades acumulam enxurradas, dificultam o tráfego de máquinas e equipamentos e provocam manchas de fertilizantes. O objetivo da sistematização é evitar a mobilização do solo após a instalação do plantio direto. Para remover esses obstáculos, podem ser utilizados equipamentos como moto niveladora, plaina tracionada, ou até mesmo escarificações e arações seguidas de gradagem, conforme a situação. Para campos naturais, há equipamentos específicos disponíveis.

 

Calagem

A correção da acidez do solo de forma homogênea na camada de 0 a 20 centímetros de profundidade é fundamental para o sucesso do sistema, principalmente nos primeiros anos após a implementação. Com a evolução do sistema, o solo vai se acidificando novamente, principalmente quando o sistema de rotação de culturas contempla gramíneas. Quando o plantio direto já foi iniciado, a necessidade de calagem é determinada pela análise de solo, devendo ser feita regularmente. Para o RS e SC, a dose recomendada deve ser equivalente a ½ SMP, aplicada na superfície do solo sem incorporação.

 

Descompactação

A descompactação do solo é um passo essencial. Um solo compactado diminui a infiltração e o movimento da água, reduz a troca gasosa com a atmosfera, intensifica a enxurrada e a erosão, e dificulta a emergência das plântulas. Embora a cobertura vegetal permanente do sistema de plantio direto minimize o encrostamento superficial, a compactação exige técnicas mais complexas. O diagnóstico das camadas compactadas pode ser realizado por meio do exame morfológico das raízes, no estágio de desenvolvimento destas, ou pela análise do perfil do solo em pequenas trincheiras (30 cm de lado e 50 cm de profundidade).

Também é possível utilizar instrumentos como o penetrômetro ou o penetrógrafo. Após o diagnóstico, a descompactação pode ser feita com implementos de hastes ou discos. Devem ser considerados fatores como a umidade do solo, que deve estar na faixa de friabilidade adequada para a operação, a profundidade de trabalho (cerca de 5 cm abaixo da camada compactada), o espaçamento entre as hastes e a adição de material orgânico ao solo descompactado, utilizando culturas densas com abundante biomassa e sistema radicular, como aveia, centeio ou milheto.

 

Planejando a rotação / consorciação de culturas 

No sistema de plantio direto, é crucial cultivar espécies que gerem grandes quantidades de fitomassa, com um mínimo de 8 a 12 t/ha/ano de matéria seca na superfície do solo. O planejamento da rotação ou consorciação de culturas deve considerar a conservação do solo e do ambiente, além dos aspectos econômicos e comerciais, visando a produção diversificada e a geração de renda. Também deve levar em conta o histórico e o estado atual da lavoura, garantindo que as exigências nutricionais sejam atendidas e prevenindo doenças e pragas comuns às espécies do sistema.

 

Manejo dos restos culturais e culturas de cobertura

Culturas destinadas à produção de grãos

A trituração e distribuição dos restos vegetais na superfície do solo deve ser ajustada conforme o tipo de cultura, a espécie subsequente e o tipo de equipamento disponível. Essas regulagens são fundamentais para garantir uma boa incorporação dos restos.

 

Culturas destinadas ao pastejo

Para pastejo, a cultura deve ter um desenvolvimento rápido e uniforme, com alta densidade de plantas e grande aporte de biomassa, evitando o contato do animal com o solo exposto. O pastejo deve ser interrompido por um período antes da implantação da próxima cultura para permitir o desenvolvimento da biomassa.

Por exemplo, a aveia preta, comum no sul do Brasil, é pastejada desde o perfilhamento pleno até 40 ou 45 dias antes da semeadura da próxima cultura, permitindo recuperação e bom aporte de biomassa. Esses períodos podem variar conforme as condições climáticas, fertilidade e intensidade do pastejo, e possíveis compactações do solo devem ser observadas após essa etapa.

 

Culturas destinadas à cobertura do solo 

Essas culturas devem resolver problemas específicos da lavoura, ter fácil manejo, rápido desenvolvimento, não se tornarem plantas daninhas, produzir abundante fitomassa e reciclar ou incorporar nutrientes no solo. Normalmente, são manejadas no estágio de plena floração, quando atingem o máximo de fitomassa.

 

Práticas mecânicas para o controle de enxurradas

Em alguns casos, o plantio direto sozinho não é suficiente para conter a energia das enxurradas. A cobertura do solo ajuda a reduzir a erosão causada pela chuva, mas em declives acentuados, pode não ser suficiente. Esse problema pode ser identificado pela presença de falhas na cobertura do solo ou nos resíduos culturais. Para enfrentar esse desafio, podem ser aplicadas práticas como o plantio em contorno, terraços, faixas de retenção e vertical mulching, entre outras técnicas.

semeadura em contorno é feita estabelecendo as fileiras de planta perpendicularmente ao sentido do declive, de forma que estas fileiras sirvam como pequenas barreiras que diminuem o escoamento da enxurrada, causando maior infiltração de água no solo. A redução da velocidade de escoamento da enxurrada diminui a energia cisalhante da enxurrada, podendo reduzir mais de 50% da erosão hídrica. Além de diminuir a erosão, a semeadura em contorno também contribui para a qualidade de água. Porém, em áreas com topografia muito irregular, a semeadura em contorno pode ser inviável.

terraceamento é a construção de estruturas hidráulicas, compostas por um camalhão e um canal, posicionados transversalmente ao plano de declive do terreno, seccionando o comprimento das pendentes. Os terraços diminuem a erosão hídrica em terrenos inclinados, interceptando e disciplinando as enxurradas. O dimensionamento dos terraços contempla características das precipitações pluviais, taxa de infiltração de água no solo, declividade do terreno, resistência do solo à erosão, capacidade do canal do terraço em armazenar / transportar a enxurrada e uso e manejo do solo.

O vertical mulching é constituído por sulcos, locados e construídos em nível, com 40 cm de profundidade e 7,5 a 9,5 cm de largura, preenchidos com resíduos vegetais, preferencialmente de cereais de inverno. A prática aumenta a taxa de infiltração de água no solo, reduzindo o deflúvio superficial e consequentemente a erosão hídrica. A distância usual entre sulcos é de aproximadamente 10 metros, conforme as taxas de infiltração de água no solo e no sulco. Como a largura do sulco é pequena, o vertical mulching praticamente não interfere nas operações mecanizadas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

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