Fósforo na agricultura tropical: como a qualidade dos fertilizantes influencia a safra
Crescimento populacional global traz desafios para atender demanda por alimentos
Segundo o Dr. Paulo Pavinato, docente e pesquisador do departamento de Ciência do Solo, na área de adubos e adubação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/USP, e um dos principais especialistas no tema Fósforo na Agricultura Brasileira, o crescimento populacional global traz desafios para atender à crescente demanda por alimentos, fibras e bioenergia. O Brasil, como um dos líderes mundiais na produção de alimentos, enfrenta a missão de equilibrar sustentabilidade e produtividade em um cenário marcado por solos de baixa fertilidade natural. Nesse contexto, o Fósforo (P) emerge como um nutriente crucial, mas também limitado devido às características geológicas dos solos tropicais.
A importância do fósforo para a produtividade
Os solos brasileiros, em especial na região do Cerrado, apresentam baixos teores de fósforo total e praticamente não dispõem do nutriente em formas acessíveis para as plantas. Segundo Pavinato et al. (2020), esses solos demandam aplicações intensivas de fertilizantes fosfatados para viabilizar altos níveis de produtividade e construir a fertilidade ao longo do tempo.
Os fertilizantes acidulados, como fosfato monoamônico (MAP), fosfato diamônico (DAP), superfosfato simples (SFS) e superfosfato triplo (SFT), constituem a principal fonte de fósforo utilizada na agricultura mundial. A qualidade desses produtos é frequentemente avaliada por extratores químicos que medem a solubilidade do P em água (P-água) e em citrato neutro de amônio (P-CNA+H2O). Enquanto o P-água reflete a fração prontamente disponível, o P-CNA+H2O inclui formas de liberação gradativa, influenciadas pela interação com as raízes das plantas.
Impactos da solubilidade e impurezas nos fertilizantes
Estudos apontam que a presença de impurezas, como óxidos de ferro e alumínio, nas rochas fosfáticas reduz a solubilidade em água dos fertilizantes acidulados, afetando diretamente sua eficiência agronômica. Em pesquisa conduzida por Prochnow, Kiehl e Raij (1998), foi observado que fertilizantes com menor proporção de P-água apresentaram menor absorção inicial pelas plantas, mesmo quando aplicados na mesma dosagem.
Um estudo mais recente na cultura da soja em Itiquira-MT (Silva, 2023) revelou que fertilizantes com índice de solubilidade em água (Fi) abaixo de 60% apresentaram eficiência agronômica 38% inferior em relação aos produtos com maior solubilidade. Esses dados reforçam a importância de considerar a composição química e as impurezas dos fertilizantes na escolha do insumo adequado.
Recomendações para a agricultura tropical
No Brasil, a legislação exige que os fertilizantes acidulados garantam teores de P2O5 baseados no extrator P-CNA+H2O, mas também destaca a necessidade de avaliar o índice de solubilidade em água. Fertilizantes com Fi inferior a 60% podem comprometer a disponibilidade de fósforo no curto prazo, reduzindo a produtividade das culturas.
Para o pesquisador Dr. Paulo Pavinato, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), entender a solubilidade e as impurezas presentes nos fertilizantes é essencial para maximizar a resposta agronômica. “A escolha adequada do fertilizante pode significar a diferença entre uma safra bem-sucedida e perdas significativas”, afirma.