As limitações do ácido bórico na agricultura
No ciclo de desenvolvimento vegetal, ele tem um papel essencial

O ácido bórico é um fertilizante usado como fonte de um micronutriente muito importante e requerido nas fases de crescimento e desenvolvimento vegetativo, florescimento e maturação da planta: o boro. Entretanto, mesmo sendo uma das fontes mais concentradas desse nutriente, ele apresenta algumas limitações que reduzem a rentabilidade e potencial produtivo das lavouras.
A disponibilidade de boro no solo
O boro é um micronutriente aniônico, absorvido pelas raízes das plantas na forma de ácido bórico neutro (B[OH]3) e como borato (B[OH]4-). No ciclo de desenvolvimento vegetal, ele tem um papel essencial, estando presente:
Na síntese e estrutura da parece celular;
Nos complexos estáveis da membrana plasmática;
Na germinação de pólen e alongamento de tubo polínico.
De forma natural, o boro é encontrado na matéria orgânica e na própria água usada para a irrigação das culturas, sendo seus limites estabelecidos na tabela a seguir:
Além da matéria orgânica, fatores como a escassez de água, pH e altos teores de ferro e alumínio influenciam diretamente a presença e disponibilidade de boro no solo. Além disso, em solos muito alcalinos ou muito ácidos, por exemplo, esse micronutriente apresenta uma menor disponibilidade.
Porém, somente a aplicação de fontes de boro não garante o suprimento adequado da demanda nutricional da planta. Isso acontece porque esse micronutriente apresenta certas especificidades para garantir o seu bom desempenho.
Uma das principais razões que dificulta um bom desempenho da adubação de boro no sistema solo-planta é a reduzida faixa entre dosagens que levam a deficiência ou a toxicidade.
É o que afirmam Renato de Melo, PradoWilliam Natale e Danilo Eduardo Rozane no artigo Níveis críticos de boro no solo e na planta para cultivo de mudas de maracujazeiro-amarelo. Na cultura do eucalipto, a deficiência de boro gera a perda da dominância apical e consequentemente leva ao superbrotamento. (Fonte: SILVEIRA et al., 2001)
O boro ainda apresenta uma relação de antagonismo com alguns nutrientes essenciais. Isso significa que o aumento da concentração de boro nas plantas pode diminuir a concentração de outros nutrientes, como: Fósforo; Cálcio; Ferro.
Uma das formas de nutrir o solo com boro é a utilização do ácido bórico. Mas, quais são as limitações do ácido bórico no solo?
As limitações do ácido bórico
O ácido bórico é um fertilizante solúvel, encontrado na forma de cristais incolores ou como um pó branco. Com cerca de 17% de boro na sua composição, ele é considerado uma das fontes mais concentradas e solúveis desse nutriente.
Por ter um alto grau de solubilidade, de cerca de 49 g/L (gramas por litro) a 20º C, o ácido bórico consegue disponibilizar o boro mais rapidamente para as plantas. Porém, isso traz um problema: a lixiviação e a fitoxicidade.
A lixiviação acontece quando os nutrientes se perdem para as camadas mais profundas do solo, em decorrência do excesso de chuvas ou da irrigação mal planejada. Esse processo, além de reduzir o custo-benefício do ácido bórico a longo prazo, pode inclusive tornar a adubação com fertilizantes altamente solúveis ineficiente.
No artigo Solubilidade e mobilidade de fertilizantes boratados em condições controladas, a pesquisadora Cleide Aparecida de Abreu do Instituto Agronômico de Campinas, destaca que quando ocorre a lixiviação, o solo acaba ficando deficiente em boro, mesmo que o fertilizante tenha sido aplicado.
Já a fitotoxicidade está relacionada com a presença excessiva de nutrientes nas plantas, o que causa efeitos indesejados que comprometem a qualidade e produtividade das culturas. Como o boro é muito pouco móvel na planta, os sintomas se concentram nas folhas mais velhas da planta e em regiões em que ocorre uma maior transpiração.
Segundo a Embrapa, os casos de fitoxicidade por boro revelam sintomas visuais, como:
Manchas pardas nas margens das folhas, que podem progredir para eventuais necroses;
Pontuações internervais;
Encarquilhamento das folhas mais velhas;
Encurtamento dos internódios;
Morte da gema apical.
A elevada solubilidade associada à alta concentração do ácido bórico, tornam a definição da dosagem adequada uma tarefa difícil, uma vez que existe uma faixa muito estreita entre dosagens que levam à deficiência ou à toxicidade por boro.
Além disso, a alta disponibilidade inicial pode provocar sintomas de toxidez em culturas susceptíveis e em estágios iniciais de desenvolvimento, conforme relatado na dissertação de mestrado Adubação boratada em pomar de laranja pêra rio afetado pela clorose variegada dos citros, da pesquisadora Isabela Rodrigues Bologna.
Então, é possível mitigar essas limitações do ácido bórico?
Como superar os desafios da adubação bórica
A fim de garantir um bom desempenho da adubação bórica, é preciso controlar os diversos fatores que afetam a dinâmica do boro no sistema solo-planta. Para isso, garantir níveis adequados de todos os nutrientes no solo, realizar a correção do pH e neutralização do alumínio, com práticas como a calagem, são essenciais para garantir uma boa eficiência da adubação.
Além disso, é preciso considerar outras possíveis fontes de boro, uma vez que o ácido bórico é facilmente afetado pelo processo de lixiviação e com potencial para causar efeitos de fitoxicidade.
Dentre elas, destaca-se os fertilizantes que tem a ulexita como matéria-prima. Ela permite que o agricultor tenha uma fonte de boro com liberação gradual de nutrientes que reduz lixiviação e fitotoxidez, favorecendo a produtividade e rentabilidade do agronegócio.
* informações Verde.Ag