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Gessagem - O que é? Como fazer?

Entenda as principais características do gesso agrícola.


O gesso é um pó branco, cerca de 150 vezes mais solúvel do que o calcário e mais móvel que este, tendo uma maior movimentação em profundidade no solo. A aplicação de gesso agrícola (sulfato de cálcio), conhecida como “gessagem”, tem o objetivo de melhorar as características químicas nas camadas mais profundas do solo, melhorando o ambiente nestas áreas, permitindo às raízes uma melhor exploração em profundidade.

O gesso é obtido durante a produção de superfosfato simples, sendo um subproduto, e é aplicado no solo para aumentar os níveis de cálcio e enxofre, pois possui teores de 26 a 28% e 15%, respectivamente, de cada nutriente em sua composição. É usado também em solos salinos e sódicos como corretivo. Por ser mais solúvel do que o calcário, o gesso não promove a neutralização da acidez (não alterando o pH), porém, fornece cálcio rapidamente que pode ser lixiviado para camadas mais profundas, melhorando a fertilidade e aumentando a exploração das raízes. Mesmo que ocorra a neutralização do alumínio no solo, ocorre apenas uma troca de posições de acidez e alcalinidade, que é revertida conforme o passar do tempo. Tal efeito transforma o alumínio em uma forma menos tóxica, diminuindo assim a toxicidade causada por este elemento.

Assista o vídeo abaixo do canal Mais Soja, onde o professor da UFRGS Tales Tiecher ilustra a diferença entre calagem e gessagem:

 

Quando o cálcio e sulfato se dissociam no solo, formam complexos químicos com outros cátions e ânions, como por exemplo com o alumínio, tornando-o menos disponível para as plantas, reduzindo a toxicidade por alumínio. Este efeito torna-se importante a partir do momento em que os solos no Brasil possuem pouco cálcio (Ca) e muito alumínio (Al), principalmente nas camadas mais profundas, prejudicando a exploração das raízes que acabam ficando mais próximas da superfície do solo, comprometendo a absorção de nutrientes.

A recomendação de dose a ser aplicada no solo pode ser baseada nos teores de Ca e Al de acordo com a análise de solo. Outras recomendações levam em conta, também, a CTC (capacidade de troca de cátions). Dosagens excessivas resultam no transporte de nutrientes para camadas mais profundas, podendo causar deficiência de nutrientes como Magnésio e Potássio na superfície. Ocorre que o enxofre se combina com o potássio, causando a mobilidade vertical. Neste caso, pode-se aplicar gesso com calcário dolomítico, que fornece magnésio ao solo, e aumenta a retenção de potássio na camada arável. Por outro lado, ao promover a percolação do potássio para as camadas mais subsuperficiais, aumenta-se a mobilidade destes nutrientes. Foi observado em alguns estudos em campo que o enxofre aumentou a absorção de potássio das plantas.

Assim, temos como benefícios da gessagem o aumento do sistema radicular em profundidade, redução da saturação de alumínio, fornecimento de cálcio em profundidade e maior absorção de nutrientes em água. A utilização correta deste insumo se inicia com amostragem e análise do solo, passando para a correção através do uso de calcário, e então aplica-se o gesso, e finalizamos com a aplicação de fertilizantes.

 

Benefícios da gessagem

  • Efeito fertilizante
  • Condicionador de subsuperfície
  • Correção de solos sódicos
  • Aumento do Ca2+ em profundidade
  • Carreamento do Al3+ em profundidade (efeito pequeno, porém ocorre)
  • Diminuição da saturação por Al em profundidade
  • Aprofundamento radicular

Quando aplicar o gesso agrícola

Faz-se uma amostragem do solo na camada 20 - 40 e de 40 a 60 cm para culturas anuais. Para culturas perenes, 60 a 80 cm ou apenas a camada de 30 a 50 cm.
Existe a possibilidade de aplicar gesso agrícola quando o solo tiver uma ou mais das características abaixo na camada 20 - 40 cm:

  • Cálcio menor que 0,5 cmolc/dm3
  • Alumínio maior que 0,5 cmolc/dm3
  • Saturação por bases (V%) menor que 35%
  • Saturação por alumínio maior que 30% (alguns estudos citam 20%, outros 40%)

A época de aplicação depende do objetivo para o gesso: se for utilizado como nutriente, aplica-se na semeadura junto com adubação fosfatada. Se for aplicado como condicionador de solo, aplica-se a lanço na superfície, incorporado ou não.

 

Momento de aplicação do gesso

Recomendamos assistir ao vídeo abaixo do canal AgroBrasil, que aborda os momentos de aplicação do gesso agrícola e as consequências:

 

Quantidade de gesso a aplicar

Podemos calcular através da fórmula:

Sendo: 
NG = necessidade de gesso em kg/ha
V2 = Saturação por bases esperada (%)
V1 = Saturação por bases atual na camada 20 - 40 cm (%)
CTC = capacidade de troca catiônica na camada de 20 - 40 cm


Pode-se usar também o cálculo pela equação:


Em São Paulo, no lugar de 60, usa-se 50 para culturas anuais, e 75 para culturas perenes

No cerrado, usa-se a dosagem em função do teor de argila:

Tabela 1. Recomendação de gesso agrícola pela classificação textural do solo

Textura do solo Dose de gesso agrícola
Culturas anuais Culturas perenes
  ------------ kg/ha ------------
Arenoso (<15%) 700 1050
Média (15 - 35%) 1200 1800
Argilosa (36 - 60%) 2200 3300
Muito argilosa (>60%) 3200 4800

 

Para correção de solos sódicos (prof. 30 cm), podemos aplicar quantidades de acordo com a tabela abaixo.

Tabela 2. Quantidade de gesso necessária para a correção de solos sódicos (prof. 30 cm).
Na trocável cmolc/dm3 (meq/100g solo) Gesso agrícola (CaSO4.2H2O) t/ha
1 4,2
3 12,6
5 21,0
7 29,4
9 37,8
10 42,0

Fonte: Malavolta et al. 

 

Gesso agrícola em sistema plantio direto

As respostas das culturas à gessagem são bastante variadas, podendo ocorrer grandes aumentos de produtividade (7 a 23%, dependendo das condições) ou até redução de produtividade (bastante observado em grãos). A diferença dos resultados pode ser causada a diversas variáveis como textura, tipo e acidez do solo, tipo de cultura, disponibilidade hídrica, dose de gesso, intervalo entre aplicação e cultivo etc. Desta forma, recomenda-se um bom diagnóstico de todos os aspectos antes da tomada de decisão.

O Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS, através de um estudo, avaliou 43 publicações científicas sobre o uso do gesso em sistema plantio direto no Brasil e Paraguai, visando melhor compreensão das respostas da aplicação de gesso. A partir desta avaliação, observou-se que:

  • Cereais (milho, trigo, cevada, arroz e aveia branca) apresentaram maior probabilidade de resposta à gessagem quanto em solos com saturação por alumínio maior que 5% na camada de 20 a 40 cm. Estas culturas tiveram maior crescimento radicular devido à aplicação de gesso, melhorando a eficiência do uso do nitrogênio aplicado via fertilizante;
  • A soja respondeu positivamente apenas em solos com déficit hídrico e saturação por alumínio maior que 10% na camada de 20 a 40 cm. Em situações sem déficit hídrico, a produtividade só aumentou em solos com teor de Ca2+ trocável menor que 0,5 cmolc/dm3 e saturação por Al3+ superior a 40% na camada de 20 a 40 cm.
  • Em solos com acidez subsuperficial maior que 40% na cultura da soja, o gesso apresenta efeito apenas apaliativo na redução da toxicidade do alumínio. Neste cenário, recomenda-se a calagem com incorporação e reinicialização do sistema plantio direto.
  • Em solos com saturação por Alumínio menor que 5% na camada de 20 a 40 cm não se recomenda a aplicação de gesso. Em alguns casos, ocorre até a redução da produtividade. Alguns relatos apontam redução de produtividade em solos com mais de 60% de argila no Paraná. Tais efeitos ocorrem devido ao grande aumento no teor de cálcio, causando deficiência de Mg2+ e K+.

Se o objetivo for apenas fornecer enxofre, as doses são de 150 a 200 kg/ha, quando o teor disponível no solo é menor do que 7,5 mg/dm3.

 

Para complementar o conteúdo, assista o vídeo abaixo do canal "Valor Agro", em que o Engenheiro Agrônomo responde sobre a possibilidade de aplicar calcário e gesso juntos.

Anderson Wolf - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

MODA, L. R.; BORGES, B. M. M. N.; FLORES, R. A.; SANTOS, C. L. R. dos; PRADO, R. de M.; SOUZA, J. I. de. Gessagem na cultura da soja no sistema de plantio direto com e sem adubação potássica. Revista Agro@mbiente On-line, Boa Vista, RR, ano 2013, v. 7, n. 2, p. 129-135, 2013.

TIECHER, Tales; BAYER, Cimélio; HENRIQUE DE CASTRO PIAS, Osmar. Gesso agrícola no sistema plantio direto: quando podemos aplicar?. Revista Novo Rural, [s. l.], ano 3, ed. 35, p. 16-17, Outubro 2019.

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