Calagem - Como calcular a recomendação?
Veja como funcionam os diferentes métodos de correção de solo.
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Sistemas de recomendação de calagem usados no Brasil
Índice SMP para pH H2O
Método da saturação por bases
Método baseado no teor de alumínio trocável
Método baseado nos teores de Al e (Ca + Mg) trocáveis
Sistemas de recomendação de calagem usados no Brasil
Existem diferentes métodos de recomendação de calagem no Brasil, baseados em diferentes indicadores, de forma que cada método seja mais adequado para determinada região:
Região | Indicador | Valor de referência | Dose |
---|---|---|---|
Centro-oeste (Cerrado - MG) | Al e Ca+Mg trocáveis | Al > 0 Ca + Mg < 2,0 |
(Al x2) + 2 (Ca + Mg) |
Leste / NE / Norte | Al trocável | > 0 | (Al x 2) |
Leste (SP, PR, MG) | Saturação bases (%) | 70 | CTC (V2 - V1) / 100 |
Sul (RS/SC) | pH água | 6,0 | SMP pH 6,0 (tabela) |
Amostragem do solo: 0-20 cm
Modo de aplicação: incorporado na camada arável
Reaplicação: 4-5 anos / nova análise de solo
Antes de entrarmos em detalhes sobre os diferentes tipos de cálculos para a dosagem de calcário, é importante entender que, assim como o pH baixo prejudica a disponibilidade alguns nutrientes, o pH acima do recomendado também prejudica a disponibilidade nutrientes. Desta forma, devemos tomar cuidado com doses excessivas, sempre aplicando as doses recomendadas conforme os cálculos e métodos de recomendação.
Assista ao vídeo abaixo do canal Adubos e Adubações, onde o engenheiro agrônomo Nelson Horowitz explica sobre a consequência de aplicar doses incorretas de calcário:
Índice SMP para pH H2O
Nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul é utilizado a solução tampão SMP, que consiste em agitar uma quantidade de solo com um volume da solução tampão. O pH da suspensão (pH SMP) é consultado em uma tabela, e então consulta-se a quantidade de calcário a aplicar.
Este índice não indica a necessidade (ou não) de calagem, mas sim a quantidade. O pH de referência é o valor de pH do solo mais adequado para o desenvolvimento das culturas. Acima deste valor, a calagem não traz nenhuma resposta. Abaixo podemos observar o pH de referência de algumas culturas:
pH de referência* | Culturas |
---|---|
6,5 | Alfafa, aspargo, piretro |
6,0 |
Abacateiro, abóbora, alcachofra, alface, alho, almeirão, ameixeira, amendoim, arroz de sequeiro, aveia, bananeira, batata-doce, beterraba, brócolis, cana-de-açúcar, camomila, canola, caquizeiro, cebola, cenoura, cevada, chicória, citros, consorciação de gramíneas e leguminosas de inverno ou de verão, couve-flor, crisântemo de corte, ervilha, estévia, feijão, figueira, fumo, girassol, hortelã, leguminosas forrageiras de inverno ou de verão, linho, macieira, maracujazeiro, melancia, melão, milho, moranga, morangueiro, nectarineira, nogueira-pecã, painço, pepino, pereira, pessegueiro, pimentão, quivizeiro, rabanete, repolho, roseira de corte, rúcula, soja, sorgo, tomate, tremoço, trigo, triticale, urucum, vetiver, videira |
5,5 |
Abacaxizeiro, acácia negra, alfavaca, amoreira-preta, arroz irrigado semeado em solo seco, batata, bracatinga, calêndula, camomila, capim elefante, cardamomo, carqueja, coentro, curcuma, erva-doce, eucalipto, funcho, gramíneas forrageiras de inverno ou de verão, gengibre, manjericão, pinus, salsa. |
Calagem indicada quando CTC < 50% | Capim-limão, citronela-de-java, palma-rosa e chá |
Sem correção de acidez** |
Arroz irrigado pré-germinado ou com transplante de mudas, erva-mate, mandioca, mirtilo, pastagem natural, araucária. |
Fonte: Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
* No sistema de plantio direto, se a saturação da CTC por bases for maior que 65%, geralmente a maioria das culturas de grãos desenvolve-se bem em solos com pH 5,5.
** Quando os teores de cálcio ou magnésio forem menores que os da classe “Médio” (tabela abaixo), com exceção do mirtilo, recomenda-se aplicar 1 t/ha de calcário.
Interpretação | Cálcio | Magnésio | Enxofre |
---|---|---|---|
cmolc/dm3 | cmolc/dm3 | mg/dm3 | |
Baixo |
≤ 2 |
≤ 0,5 |
2,0≤ |
Médio | 2,1 - 4,0 | 0,6 - 1,0 | 2,1 - 5,0* |
Alto | > 4,0 | > 1,0 | > 5,0 |
O pH de referência adotado numa rotação de culturas, por exemplo, será aquele ideal para a cultura mais sensível à acidez (que tem um pH de referência com maior valor). Se decidirmos corrigir a acidez do solo baseado no pH de referência da cultura menos sensível, poderemos perder produtividade das outras culturas utilizadas no sistema.
Índice SMP | pH desejado | ||
---|---|---|---|
5,5 | 6,0 | 6,5 | |
--------- t/ha** --------- | |||
≤4,4 |
15,0 | 21,0 | 29,0 |
4,5 | 12,5 | 17,3 | 24,0 |
4,6 | 10,9 | 15,1 | 20,0 |
4,7 | 9,6 | 13,3 | 17,5 |
4,8 | 8,5 | 11,9 | 15,7 |
4,9 | 7,7 | 10,7 | 14,2 |
5,0 | 6,6 | 9,9 | 13,3 |
5,1 | 6,0 | 9,1 | 12,3 |
5,2 | 5,3 | 8,3 | 11,3 |
5,3 | 4,8 | 7,5 | 10,4 |
5,4 | 4,2 | 6,8 | 9,5 |
5,5 | 3,7 | 6,1 | 8,6 |
5,6 | 3,2 | 5,4 | 7,8 |
5,7 | 2,8 | 4,8 | 7,0 |
5,8 | 2,3 | 4,2 | 6,3 |
5,9 | 2,0 | 3,7 | 5,6 |
6,0 | 1,6 | 3,2 | 4,9 |
6,1 | 1,3 | 2,7 | 4,3 |
6,2 | 1,0 | 2,2 | 3,7 |
6,3 | 0,8 | 1,8 | 3,1 |
6,4 | 0,6 | 1,4 | 2,6 |
6,5 | 0,4 | 1,1 | 2,1 |
6,6 | 0,2 | 0,8 | 1,6 |
6,7 | 0 | 0,5 | 1,2 |
6,8 | 0 | 0,3 | 0,8 |
6,9 | 0 | 0,2 | 0,5 |
7,0 | 0 | 0 | 0,2 |
7,1 | 0 | 0 | 0 |
* Análise conjunta baseada nos trabalhos de Murdock et al. (1969); Kaminski (1974); Scherer (1976); Ernani & Almeida (1986); Anjos et al. (1987) e Ciprandi et al. (1994).
** Calcário com PRNT 100%. Realizar a correção para diferentes valores de PRNT.
Podemos estabelecer também a dose de calcário através da saturação por bases. O valor da saturação por bases ainda não foi calibrado para as diferentes culturas no RS e SC, porém, o MANUAL DE ADUBAÇÃO E CALAGEM PARA OS ESTADOS DO RS E DE SC (2016) assume uma provável correspondência entre o valor de pH de referência com o valor de V%, sendo:
pH 5,5 = V 65%
pH 6,0 = V 75%
pH 6,5 = V 85%
Estes valores podem ser 5% menores em solos com baixa CTCpH7 (<7,5 cmolc/dm3) ou 5% maiores em solos com alta CTCpH7 (>15 cmolc/dm3)
Desta forma, a dose de calcário é definida por:
Sendo:
NC = necessidade de calcário em t/ha (considerando um produto com PRNT 100%) para corrigir a camada de 0 a 20cm
V1 = saturação por bases desejada (65, 75 ou 85%)
V2 = saturação por bases no solo (análise de solo)
A saturação por bases tende a indicar uma menor dose de calcário quando comparada ao índice SMP, podendo resultar uma elevação de pH menor que a desejada inicialmente (sem que isso necessariamente afete as produtividades se a dose for suficiente para neutralizar o alumínio tóxico) e/ou um menor efeito residual. Desta forma, solos que vão receber a primeira calagem devem ter suas doses estimadas pelo índice SMP, e em reaplicações, a dose pode ser estimada por diferentes critérios.
Em solos pouco tamponados (arenosos e/ou pobres em matéria orgânica, geralmente com índice SMP de 6,4 ou maior), o índice de SMP pode não revelar a real necessidade de calcário e, neste caso, calculamos pelo teor de matéria orgânica e alumínio trocável do solo, através dos seguintes cálculos conforme o pH que se deseja atingir:
pH a atingir: 5,5:
NC = - 0,653 + 0,480MO + 1,937Al
pH a atingir: 6,0
NC = - 0,516 + 0,805MO + 2,435Al
pH a atingir: 6,5:
NC = - 0,122 + 1,193MO + 2,713Al
Sendo:
NC = Necessidade de calcário em t/ha (com PRNT 100%)
MO = teor de matéria orgânica, em porcentagem
Al = teor de alumínio trocável do solo (em cmolc/dm³).
Observação: as doses referem-se a calcário com PRNT de 100%. Logo, para calcários com valores diferentes, é necessária a correção da dose através do seguinte cálculo:
Por exemplo, se a dose tabelada de calcário a ser aplicada é de 5 t/ha, e temos um calcário com PRNT de 70%, fazemos o seguinte cálculo:
Método da saturação por bases
Outra forma de calcular a quantidade de calcário é pela saturação da capacidade de troca de cátions por bases, conforme equação abaixo:
Obs: em São Paulo, por se usar mmolc/L divide-se por 10 ao invés de 100
Sendo:
NC = Necessidade de calcário em t/ha
CTC = CTC pH7 em cmol/dm3
V1 = porcentagem da saturação por bases do solo (fornecida no laudo de análise). No cerrado, valores menores de 50% podem indicar calagem. No RS, valores abaixo de 75% no plantio convencional, ou abaixo de 65% no plantio direto indicam a necessidade de calagem. Em outros estados, este valor varia entre 40% e 80%.
V2 = porcentagem de saturação por bases desejada, sendo 50% para cereais e tubérculos, 60% para leguminosas e cana-de-açúcar, utilizado no cerrado e 70% para café, frutas e hortaliças. Este valor também pode ser calculado através da fórmula:
Observação: as doses referem-se a calcário com PRNT de 100%. Logo, para calcários com valores diferentes, é necessária a correção da dose através do seguinte cálculo:
Por exemplo, se a dose tabelada de calcário a ser aplicada é de 5 t/ha, e temos um calcário com PRNT de 70%, fazemos o seguinte cálculo:
Exemplo de cálculo através do método de saturação por bases
Considere uma análise de solo com os seguintes valores abaixo:
pH | M.O. | P | K | Ca | Mg | H+Al | SB | CTC | V | m |
g/dm3 | mg/dm3 | cmolc/dm3 | % | % | ||||||
5 | 22 | 21 | 0,45 | 2,7 | 0,6 | 11 | 4 | 14 | 24 | 5 |
Considerando um cultivo de maçã (frutífera), sendo o valor de V2 de 70%, e um calcário com PRNT de 92%, temos o seguinte cálculo para a necessidade de calcário:
Se tivermos um calcário com PRNT de 92%, fazemos a correção:
Método baseado no teor de alumínio trocável
Se aplica ao teor de alumínio obtido no solo. Ao se fazer a correção, para eliminar o alumínio trocável, a medida que ele passa de Al para AlOH, depois para AlOH², e depois para AlOH³, estão sendo consumidos hidrogênios. Neste caso o corretivo não diferencia se o hidrogênio consumido é do alumínio ou do reequilíbrio do pH do solo. Consequentemente, a quantidade apontada por este método em função do teor de alumínio trocável pode não ser suficiente para atingir o pH desejado, pois parte será consumida para neutralizar o hidrogênio que provém do reequilíbrio em função do aumento de pH. Por isso, aplica-se um fator de correção que geralmente varia entre 1,5 e 2,4.
- Para solos com mais de 15% de argila e teor de Ca + Mg > 2cmolc/L
- Para solos com menos de 15% de argila e teor de Ca + Mg < 2 cmolc/L
Podemos encontrar variações deste método em diversas regiões do Brasil, visando a elevação dos níveis de cálcio e magnésio trocáveis e/ou a neutralização do alumínio.
- Espírito Santo: NC = 2 x Al (cmolc/L) + 2 - (Ca + Mg)
- Goiás: NC = 2* x Al (cmolc/L) + 2 - (Ca + Mg)
* Substituir o valor 2 por 1,2 em solos com teor de argila inferior a 20% - Minas Gerais: NC = Y x Al (cmolc/L) + X - (Ca+Mg)
Sendo Y variável conforme a textura do solo:
Y = 1 para solos arenosos (< 15% de argila)
Y = 2 para solos com textura média (15 a 35% de argila)
Y = 3 para solos argilosos (> 35% de argila)
E X variável em função da exigência da cultura:
X = 1 para eucalipto (por exemplo)
X = 2 para a maioria das culturas
X = 3 para cafeeiro (por exemplo) - Paraná: NC = Al x 2 (válido apenas para arroz de sequeiro e irrigado)
- No RS usa-se o valor 2,4. Em solos com menor quantidade de MO e argila o valor é menor.
Método baseado nos teores de Al e (Ca + Mg) trocáveis
Bastante utilizada no centro do Brasil, trata-se de um método utilizado em solos com CTC baixa, sendo menor do que 5 cmolc/dm³, e teores de Ca e Mg baixo (soma geralmente inferior a 1) através da seguinte fórmula:
Sendo:
NC = Necessidade de calcário em t/ha;
Y = Valor tabelado conforme o poder tampão do solo, sendo 0 a 1 para solo arenoso, 1 a 2 para solo médio, 2 a 3 para solo argiloso e 3 a 4 para solo muito argiloso;
mt = saturação por Al3+ (100 x Al / SB + Al)
t = CTC efetiva (SB + Al)
X = teor mínimo de Ca + Mg: tabelado
Ca2+ + Mg2+ = teores trocáveis de Ca e Mg, em cmolc/dm3
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Referências:
ANJOS, J. T.; UBERTI, A. A. A.; BEN, C. G. & MÜLLER NETTO, J. M. Recomendações de calcário para os solos do Litoral e Vale do Itajaí, Santa Catarina. Florianópolis: EMPASC. 1987. (Dados não publicados)
CIPRANDI, M. A. O.; TEDESCO, M. J.; BISSANI, C. A. & SIQUEIRA, O. J. F. Alteração na recomendação de corretivo para solos dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. In: Reunião Sulbrasileira de Ciência do Solo, 2. Pelotas, RS. Anais... Pelotas, 1994. p. 40-41.
ERNANI, P. R. & ALMEIDA, J. A. Avaliação de métodos de recomendação quantitativa de calcário para os solos do Estado de Santa Catarina. Lages: UDESC-Curso de Agronomia, 1986. 53p. (Boletim Técnico de Solos, 1)
KAMINSKI, J. Fatores de acidez e necessidade de calcário em solos no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Faculdade de Agronomia, UFRGS. 1974. 96p. (Dissertação de Mestrado em Agronomia - Solos)
MURDOCK, J. T.; PAVAGEAU, M.; RUCKHEIM FILHO, O.; FRASCA FILHO, A.; FRATTINI, C. & KALCKMANN, R. E. Determinação quantitativa da calagem. Porto Alegre: UFRGS - Faculdade de Agronomia e Veterinária, 1969. Mimeografado. 18p.
SCHERER, E. E. Acidez de sete latossolos do Planalto Sulriograndense e avaliação de dois métodos para a determinação de suas necessidades de calagem. Porto Alegre: UFRGS-Departamento de Solos, 1976. 96p. (Dissertação de Mestrado)
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.