Mistura e compatibilidade de fertilizantes
Leia sobre a compatibilidade e mistura de fertilizantes, e como evitar problemas.
Geralmente as fórmulas de fertilizantes são feitas com ureia, superfosfato triplo (SFT), monofosfato de amônio (MAP) e cloreto de potássio (KCl). A mistura de dois ou mais fertilizantes simples resulta em um fertilizante misto ou mistura de fertilizantes.
Os diferentes tipos de solos e de plantas cultivadas possuem diferentes necessidades de nutrientes, seja por tipo ou por quantidade. Porém, misturar os fertilizantes sem entender as possíveis reações químicas pode resultar em problemas que prejudicam a eficiência da mistura.
As misturas com Nitrogênio, Fósforo e Potássio podem ser feitas na propriedade ou compradas. A quantidade dos nutrientes é indicada em porcentagem. Por exemplo, uma fórmula 10-20-20 possui 10% de N, 20% de P2O5 e 20% de K2O, e a soma dos nutrientes deve ser de no mínimo 24%. Também pode conter macronutrientes secundários (Cálcio, Magnésio ou Enxofre, com teor indicado nessa ordem), e micronutrientes (Boro, Cobre, Ferro, Manganês, Molibdênio e Zinco, com teor indicado nessa ordem). O uso contínuo das mesmas fórmulas sem acompanhamento de um profissional pode causar um desequilíbrio nutricional. Caso você queira ler sobre os cálculos e fórmulas NPK, clique aqui!
Compatibilidade e mistura de fertilizantes
Diversos fertilizantes são incompatíveis ao serem misturados, ocorrendo reações químicas e físicas, resultando em efeitos indesejados, como formação de gases tóxicos, formação de líquidos, empedramento, corrosão etc. Nesta página, vamos considerar apenas os fertilizantes sólidos, misturados com nutrientes primários (N, P e K) e/ou secundários. Fertilizantes líquidos e micronutrientes não serão considerados.
Diversos fertilizantes são higroscópicos, ou seja, eles podem absorver umidade do ar, causando efeitos indesejados. A umidade crítica relativa é um indicador que mostra a capacidade do fertilizante em absorver umidade do ar.
Quando uma mistura de fertilizantes absorve umidade do ar e se torna úmida, podem ocorrer diversos problemas, como reduzir o teor de nutrientes, dificuldade de manuseio e distribuição, diminuição da resistência das partículas, empedramento etc.
Quanto menor a umidade crítica relativa, maior a tendência de absorver umidade da atmosfera. Para isso, é fundamental conhecer a umidade crítica relativa de cada fertilizante e de cada mistura.
Observe a tabela abaixo:
Umidades críticas de sais fertilizantes e misturas a 30°C. Valores em % de umidade relativa.
*Valores aproximados
Fonte: ANDA
Geralmente, ao misturar dois fertilizantes, o resultado é uma mistura com umidade crítica relativa abaixo da umidade dos elementos misturados, conforme pode ser observado na tabela acima. A ureia e o nitrato de amônio são bons exemplos disso: em temperaturas de 30ºC, a ureia tem umidade crítica relativa de 75,2% e o nitrato de amônio 59,4%, porém, a mistura de ambos possui umidade crítica relativa de 18,1%, podendo absorver umidade do ar em poucos minutos, resultando em empedramento.
Observe a tabela abaixo sobre a compatibilidade entre fertilizantes:
Fonte: GUIDANCE FOR COMPATIBILITY OF FERTILIZER BLENDING MATERIALS.
Abaixo você pode ler os problemas resultantes da mistura dos produtos, conforme número indicado na tabela:
- Problemas devido à higroscopicidade dos produtos;
- Inflamável;
- Inflamável;
- Absorção de umidade do meio;
- Se houver presença de ácido livre, pode causar decomposição do nitrato de amônio
- Decomposição
- Inflamável e pode reagir com nitratos;
- Devido ao comportamento higroscópico, pode comprometer o armazenamento;
- Avaliar o teor de umidade do SSP / TSP
- Avaliar a umidade relativa durante a mistura;
- Risco de formação de gesso;
- Realizar testes de compatibilidade;
- Problemas devido à higroscopicidade dos produtos;
- Considere o impacto provável de nitrogênio adicional;
- Possível reação do monoamônio fosfato / nitrato de potássio com ureia quanto à umidade relativa, causando cimentação;
- Se houver presença de ácido livre, pode ocorrer hidrólise da ureia, resultando em amônia e dióxido de carbono;
- Formação de fosfato de ureia pegajoso;
- Aglomeração devido à umidade;
- Se houver presença de ácido livre, pode ocorrer neutralização e ataque ácido.
Posso usar um fertilizante empedrado ou aglomerado?
O fertilizante pode aglomerar ou empedrar por diferentes motivos.
A aglomeração é um fenômeno majoritariamente físico que ocorre por pressão, quando os grânulos se aglomeram de forma comprimida. Pode-se manipular com a mão ou jogando no chão, ou até na própria máquina de aplicação e usar o produto;
Já o empedramento é um fenômeno químico, ocorre após a aglomeração e o produto sofre reações químicas, absorve umidade do ambiente, formando uma espécie de massa. O empedramento pode comprometer as propriedades nutricionais do produto, e dessa forma pode não causar os efeitos desejados, sendo recomendado o descarte do produto.
Segregação de fertilizantes
Ao misturarmos fertilizantes cujos nutrientes se encontram em grânulos de diferentes tamanhos, estes podem ser segregados durante a movimentação da máquina e aplicação dos produtos. A segregação pode ocorrer por conta de desuniformidade no tamanho, densidade ou forma dos grânulos. Esse problema resulta na separação dos produtos durante a aplicação, fazendo com que a distribuição dos nutrientes fique totalmente desequilibrada, aplicando alguns nutrientes antes, outros depois. Grânulos mais densos também podem ser lançados mais longe na aplicação a lanço, o que piora o problema da distribuição.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
ALCARDE, J. C.; GUIDOLIN, J. A.; LOPES, A. S. OS ADUBOS E A EFICIÊNCIA DAS ADUBAÇÕES. Boletim Técnico Nº3 - ANDA, São Paulo, SP, ed. 3, 1998.
FERTILIZERS EUROPE. GUIDANCE FOR COMPATIBILITY OF FERTILIZER BLENDING MATERIALS. [S. l.: s. n.], 2014.