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Como interpretar a análise de solo? Como coletar as amostras? Entenda tudo!

Entenda o que significa cada parâmetro na análise de solo!



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O que é a análise de solo?
Vantagens da análise de solo
Como fazer a análise de solo?
Componentes e unidades da análise de solo

      - Análise física do solo
      - Análise química do solo
Recomendação de adubação e calagem a partir da análise de solo

 

O que é a análise de solo?

A análise de solo é realizada para se avaliar principalmente a disponibilidade de nutrientes no solo, o que é fundamental para a produção de uma cultura agrícola. A acidez do solo é outro fator avaliado. A acidez limita a produção, influenciando na disponibilidade de nutrientes, e também detecta elementos tóxicos. A textura do solo também é avaliada, indicando os teores de areia, silte e argila no solo, porosidade, retenção de água etc.

Através da avaliação destes componentes, a análise de solo irá determinar a recomendação de adubação, indicando quais nutrientes devem ser adicionados ao solo e em qual dosagem, e a recomendação de calagem (para correção de acidez). A análise de solo também ajuda a determinar as espécies mais adaptadas àquele solo. Dessa forma, entender o que significa cada parâmetro na análise de solo é muito importante!

A determinação da análise do solo em uma região é baseada em pesquisas, fazendo a correlação e calibração dos resultados. A calibração é feita a partir de experimentos de campo, avaliando-se a produção das culturas em relação aos teores de nutrientes medidos no solo.

Assim, as regiões no Brasil usam métodos diferentes de análise de solo para recomendação de adubação. Observe os exemplos abaixo:

  • RS e SC: Manual de Adubação e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina;
  • São Paulo: Boletim 100;
  • Minas Gerais: Manual de Adubação
  • Paraná: Manual de Adubação e Calagem para o Estado do Paraná;
  • Cerrado: Cerrado- correção do solo e adubação

 

Vantagens da análise de solo

A análise de solo é essencial para o produtor rural, e possui um baixo custo diante de todos os benefícios gerados por esta prática. As vantagens da análise de solo são:

  • Rapidez na obtenção de resultados;
  • Custo baixo;
  • Aumento de produtividade através do incremento de nutrientes, além da maior disponibilidade destes através da calagem;
  • Permite um planejamento adequado para a compra de fertilizantes e corretivos;
  • Evita gastos desnecessários com insumos e mão-de-obra, reduzindo também os danos ao meio ambiente com a menor contaminação de águas por excesso de fertilizantes;
  • Evita desequilíbrios nutricionais (déficit ou toxidez);
  • Reduz o prejuízo por elementos tóxicos no solo.

 

Como fazer a análise de solo?

A análise de solo é feita a partir de amostras retiradas do solo, enviadas para o laboratório, e este analisará as amostras e fornecerá um laudo com os resultados de cada componente do solo. Os resultados determinarão a necessidade e dosagem da adubação e calagem. A recomendação também dependerá de fatores como cultura principal, sistema de cultivo, recursos disponíveis, produtividade almejada, região e histórico da área.

A coleta das amostras é a etapa mais importante do processo, e deve ser feita com cuidado, pois as amostras que fornecerão o resultado final da análise, e assim, determinarão o programa de calagem e adubação a ser adotado.

 

Quando fazer a análise de solo?

Em culturas anuais, a análise de solo é feita cerca de 3 meses antes da implantação da lavoura, de forma a dar tempo de corrigir o solo antes da cultura. Já em culturas perenes, a análise é feita depois da colheita.

O ideal é que a análise química seja feita uma vez por ano, ou até mais em áreas de cultivo intensivo / com problemas de fertilidade.

 

Como coletar as amostras de solo?

Para realizar a análise de solo, devemos retirar amostras que sejam mais representativas possíveis da área. Caso a amostragem não seja adequada, não ira refletir adequadamente as características do solo, resultando em uma recomendação inadequada de adubação e calagem.

A área a ser analisada deve ser dividida em glebas homogêneas, com no máximo 20 hectares, divididas conforme a textura do solo, topografia, coloração, vegetação, sistema de cultivo, adubação e calagem anteriores. Quanto mais heterogênea a área, maior deve ser o ponto de amostragem.

 

Profundidade de coleta das amostras de solo

As amostras são coletadas com profundidade de 0 a 20 cm em lavouras sob sistema de plantio convencional. Para avaliar deficiência de cálcio e toxidez por alumínio, são usadas maiores profundidades (20 a 40 cm e 40 a 60 cm). No sistema de plantio direto, pastagens ou integração lavoura-pecuária, as amostras são retiradas em camadas de 0 a 10 e 10 a 20 cm de profundidade. Para culturas perenes antes da implantação, são retiradas amostras de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm.

 

Amostras simples

Em cada gleba coleta-se 20 subamostras, chamadas de amostras simples. Estas amostras devem ser coletadas ao acaso, percorrendo a gleba homogênea em zigue-zague. Para coletar as amostras simples, primeiro limpamos a superfície de amostragem, retirando a vegetação, galhos e pedras, mas sem mover a camada superficial do solo. Então, abrimos uma cova em formato de cunha, com cerca de 20 cm de profundidade, retiramos toda a terra, e com uma pá, cortamos em um dos lados da cova, uma fatia com 2 a 5 cm de espessura. Essa fatia sobre a pá deve ser cortada em três partes, retirando as bordas, colocando a porção central em um balde limpo.

Caso seja utilizado um trado, introduz-se a ferramenta no solo até uma profundidade de cerca de 20 cm, e retira-se o trado do solo sem torcer, colocando a terra contida dentro de um balde limpo.

 

Amostras compostas

Após a coleta, as subamostras são misturadas entre si, e depois retira-se 500 gramas de terra dessa mistura, formando a amostra composta daquela gleba. Se a profundidade coletada for de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm, cada talhão terá duas amostras compostas, sendo uma para cada profundidade.

A amostra deve ser seca à sombra em local ventilado, e posteriormente colocada em saco plástico limpo e identificado (nome do proprietário, nome do talhão, profundidade de coleta e data).

A amostra composta é enviada para o laboratório para a análise. Após a análise, o laboratório fornece um laudo com os resultados por cada componente.

 

 

Componentes e unidades da análise de solo

Na análise de solo, são avaliadas as características físicas e químicas da amostra.

Também é possível avaliar a parte biológica do solo através da Bioanálise de solo (BioAS). Nesta página falaremos sobre as análises física e química. Para ler sobre a BioAS, clique aqui!

 

Análise física do solo

A análise física do solo avalia a textura do solo, mostrando a proporção entre os teores de areia, silte e argila. A proporção de cada uma destas partículas irá basear a classificação do solo dentro de uma das 14 classes texturais descritas pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, conforme a imagem abaixo:

 

 A textura do solo quase não se altera ao longo do tempo, logo, os resultados da análise física do solo em uma área serão sempre iguais.

A textura exerce grande influência no comportamento físico-hídrico e químico no solo, influenciando na aeração, porosidade, na nutrição, na infiltração e retenção de água e na aglomeração de partículas.

Outros componentes analisados na análise física do solo são:

  • Densidade do solo e de partícula;
  • Porosidade (total, macroporos e microporos);
  • Retenção de umidade;
  • Condutividade hidráulica;
  • Estabilidade dos agregados;
  • Limite de liquidez, plasticidade e superfície específica.

 

Análise química do solo

A análise química irá determinar a presença dos nutrientes no solo, determinando assim a fertilidade. No laboratório, as amostras passam por extratores químicos que simulam a extração dos nutrientes pelas plantas, determinando a disponibilidade destes.

Na análise química também é avaliada a acidez do solo, capacidade de troca de cátions (CTC) e teor de matéria orgânica.

 

Parâmetros e unidades da análise de solo.
 Parâmetros básicos   Unidade 
Matéria orgânica  g/dm³
pH -
Fósforo disponível mg/dm³
Enxofre
Potássio  mmolc/dm³ 
Cálcio
Magnésio
H + Al
Soma de bases (SB)
 Capacidade de troca de cátions (CTC) 
Saturação por bases %
Micronutrientes Unidade
Boro mg/dm³
Cobre
Ferro
Manganês
Zinco
Outros Unidade
Silício mg/dm³
Alumínio mmolc/dm³
Sódio
Saturação por alumínio (m) %

 

Abaixo, vamos ler sobre cada componente da análise de solo.

 

pH - Acidez ativa

É a quantidade de íons de hidrogênio (H+) presentes em solução, e determina a acidez ou alcalinidade. O pH varia entre 0 e 14, sendo valores menores do que 7 pH ácido, 7 pH neutro e acima de 7 pH básico. Como é uma escala logarítmica, significa que um pH de 5,0 é 10 vezes mais ácido que um pH de 6,0.

Solos com pH ácido possuem alumínio trocável em quantidades tóxicas para as plantas. Já solos com pH próximo a 9 possuem presença de sódio.

O pH afeta diretamente a disponibilidade de nutrientes no solo. Um pH de 6 a 6,5 (em CaCl2) é geralmente o adequado para se disponibilizar os nutrientes às plantas em boa quantidade. Observe o gráfico abaixo:

 

Acidez trocável / Alumínio trocável

Representada pelo alumínio (Al3+), que no solo pode inibir o crescimento das raízes, influenciar na mineralização da matéria orgânica e na disponibilidade de outros nutrientes. A acidez do solo é corrigida com calcário, aumentando o pH e insolubilizando o alumínio. Quando o alumínio no solo é maior do que 0,5 cmolc/dm³, ocorre queda de produtividade, sendo recomendado a calagem. Quando o pH está em 5,3, o alumínio trocável está praticamente insolubilizado, não causando danos às plantas.

 

Acidez potencial do solo - H + Al

É composta pela soma da acidez trocável e não trocável (acidez neutralizada até um determinado valor de pH). É importante entender que a resposta das plantas à acidez depende da acidez ativa, e não da acidez potencial do solo. A acidez potencial caracteriza o poder tampão de acidez do solo. Para definir a quantidade de calcário para corrigir o pH, considera-se a acidez potencial.

 

Teores de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes

São extraídos e quantificados conforme as metodologias de cada região. Para determinar o nível dos nutrientes, deve-se verificar nas tabelas específicas de cada nutriente / método de extração, conforme cada região.

O Fósforo pode ser extraído por Mehlich-1 (sensível ao teor de argila), Mehlich-3 ou resina modificada, resultando em diferentes valores. Deve-se sempre considerar o extrator utilizado pelo laboratório para se determinar o nível do nutriente no solo e usar as tabelas de adubação corretamente.

 

P-rem - Fósforo remanescente

É o índice de capacidade de adsorção de P pelo solo. Quanto menor for o valor de P-rem na solução, maior a capacidade de adsorção de fósforo do solo. Se relaciona com o teor de argila do solo.

 

Bases trocáveis

A quantidade de bases trocáveis de nutrientes catiônicos (Potássio, Cálcio, Magnésio e Sódio) indicam o grau de intemperismo do solo. Solos mais jovens, que passaram por menor intemperismo, possuem teores maiores destes elementos, ao passo que solos mais intemperizados possuem teores menores.

Quando ocorrem baixos teores de cálcio e magnésio, pode-se elevar usando calcário dolomítico. Mas se o objetivo for apenas a correção de acidez, pode-se usar calcário calcítico.

Quanto ao potássio, teores altos do nutriente indicam a presença de minerais primários e pouco intemperismo, ao passo que teores mais baixos indicam solos mais intemperizados.

 

Capacidade de troca de cátions (CTC)

É obtida pela soma das bases de cálcio, magnésio, potássio, sódio, hidrogênio e alumínio:

CTC = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ + H + Al

Note que temos elementos desejados e indesejados, sendo melhor que os desejados (potássio, cálcio e magnésio) ocupem a maior proporção. A correção visa também diminuir hidrogênio e alumínio, e aumentar os nutrientes desejados.

Os colóides do solo possuem carga negativa. Assim, os elementos de cargas positivas são adsorvidos pelos colóides. Porém, como as cargas negativas são limitadas no solo, é interessante que a maior parte de cargas positivas seja representada por elementos desejados, que são o potássio, cálcio e magnésio.

 

Saturação por bases

É a proporção da capacidade de troca de cátions (CTC) ocupada pelas bases (potássio, cálcio, magnésio e sódio). Por exemplo, se um solo possui 40% de saturação por bases (ocupada por potássio, cálcio, magnésio e sódio), significa que o resto (60%) é ocupado por hidrogênio e alumínio.

Assim, a saturação por bases se correlaciona com o pH. Solos com pH mais ácidos possuem menor saturação por bases, e solos com pH mais altos possuem maior saturação por bases.

Valores acima de 50% caracterizam solos eutróficos (alta saturação), e valores abaixo de 50% caracterizam solos distróficos (baixa saturação).

 

Saturação por alumínio

Indica a porcentagem de cargas negativas do solo ocupadas por alumínio (quanto menor o valor, melhor).

 

Nitrogênio

Nos laudos de análise de solo não há informação sobre o valor do Nitrogênio, pois a maior parte do nutriente se encontra na matéria orgânica, que deve ser mineralizada por microrganismos para liberar amônio, que pode ser absorvido pela planta ou passar por nitrificação. Esses processos dependem do manejo do solo e condições ambientais. 

Assim, as recomendações são baseadas no teor de matéria orgânica ou na produtividade esperada.

 

Recomendação de adubação e calagem a partir da análise de solo

Os resultados da análise de solo devem ser avaliados por um profissional com conhecimentos dos conceitos de solo, como engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, etc., que usarão critérios técnicos para determinar o programa de adubação e calagem.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

BRASIL, E.C.; CRAVO, M.S.; VELOSO, C.A.A. Amostragem de solo. In: BRASIL, E.C.; CRAVO, M. da S.; VIEGAS, I, de I. (Ed). Recomendações de calagem e adubação para o estado do Pará. 2. ed. Brasília, DF: Embrapa, 2020.

MELÉM JÚNIOR, N.J.; BATISTA, E.M. Coleta de solo para análise: orientações. Embrapa. 2012. 

PREZOTTI, L. C. Guia de interpretação de análise de solo e foliar / PREZOTTI, L. C.; GUARÇONI, A. M. – Vitória, ES: Incaper, 2013. 104 p. Disponível em: https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/bitstream/item/40/1/Guia-interpretacao-analise-solo.pdf. Acesso: 22/04/2024.

SOBRAL, L. F.; BARRETTO, M. C. de V.; SILVA, A. J. da; ANJOS, J. L. Guia prático para interpretação de resultados de análises de solos. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2015. 15 p. (Documentos / Embrapa Tabuleiros Costeiros, ISSN 1678-1953; 206). Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1042994/1/Doc206.pdf. Acesso: 22/04/2024.

SOUZA, D.M.G.; LOBATO, E. (eds). Cerrado: correção do solo e adubação. 2. ed. – Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 416 p. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/555355/cerrado-correcao-do-solo-e-adubacao. Acesso: 22/04/2024.

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